Uma frase de São Paulo VI ajuda a entender as razões da viagem que Francisco está prestes a fazer ao país asiático.
O Papa Francisco está prestes a partir para a Mongólia, uma visita que ele “tanto desejava” e que já estava nos planos não realizados de São João Paulo II, depois que a presença de missionários no início da década de 1990 levou ao renascimento de uma comunidade cristã. A Igreja que receberá o abraço do Sucessor de Pedro no coração da Ásia é uma Igreja “pequena em números, mas viva na fé e grande na caridade”. Francisco encontrará não apenas os 1.500 católicos do país, mas todo aquele povo “nobre” e “sábio” com sua grande tradição budista.
Por que o Papa vai à Mongólia? Por que ele dedica cinco dias de sua agenda (dois dias de viagem e três de permanência) para visitar um grupo tão pequeno de católicos? Será que a “geopolítica” tem algo a ver com isso, já que se trata de uma viagem a um país que faz fronteira com a Federação Russa e a República Popular da China? Na verdade, a motivação para a peregrinação às periferias da Ásia não tem implicações “geopolíticas” e certamente não é prerrogativa do pontificado de Jorge Mario Bergoglio.
Segunda-feira, 30 de novembro de 1970, São Paulo VI fez uma longa viagem até as Ilhas Samoa, no Oceano Pacífico. Durante a celebração da Santa Missa no vilarejo de Leulumoega Tuai, na costa noroeste da ilha de Upolu, o Papa Montini deixou de lado o “nós” majestoso então usado pelos pontífices e disse: “Não foi o prazer de viajar nem qualquer interesse que me trouxe até vocês: vim porque somos todos irmãos, ou melhor, porque vocês são meus filhos e filhas, e é justo que, como pai de família, desta família que é a Igreja Católica, eu mostre a cada um que tem direito a igual afeto. Vocês sabem o que significa “Igreja Católica”? Significa que ela foi feita para todo o universo, que ela foi feita para todos, que ela não é estranha em lugar algum: todo homem, qualquer que seja sua nação, raça, idade ou educação, encontra um lugar nela”.
A Igreja, um lugar para todos. A Igreja onde a prioridade não são os números e onde ninguém é estrangeiro, independentemente da língua, cultura, povo ou nação a que pertença. É a Igreja “para todos”, para todos, da qual Francisco falou em Lisboa. Menos de um mês depois da JMJ, o bispo de Roma está de volta à estrada, dizendo a seus “irmãos e irmãs da Mongólia” que está “feliz em viajar para estar entre vocês como um irmão de todos”.
ANDREA TORNIELLI