Por Frei Clarêncio Neotti
Temos hoje a quarta disputa (as chamadas ‘Disputas da Galileia’) entre Jesus e os fariseus. Marcos organizou sucessivamente os debates, sem se preocupar com quando e onde de fato aconteceram. Escolheu essa forma didática, para fazer o próprio Jesus se apresentar como Filho de Deus e dizer para que viera ao mundo. Por trás das disputas está sempre implícita a pergunta: Quem é Jesus. Da discussão desponta a resposta: Ele é o enviado de Deus com poderes divinos, é o Messias, que veio ao mundo como libertador e salvador.
A primeira controvérsia foi sobre o perdão dos pecados. Os fariseus e Jesus estão de acordo com uma verdade: só Deus pode perdoar pecados. Diante de uma casa super cheia de gente, Jesus perdoa os pecados do paralítico e o cura física e espiritualmente (Mc 2,10-11). Aos olhos de todos fica claro: ele tem poderes divinos A segunda disputa girou em torno da liceidade de alguém comer com pecadores. Para os hebreus, comer com alguém significa participar de suas ideias e do seu pecado. Jesus ceia na casa de Mateus, o publicano, considerado pecador público (Mc 2,15). Os fariseus se escandalizam. Jesus, para ainda maior escândalo deles, declara-se médico dos enfermos e diz ter vindo ao mundo exatamente para chamar os pecadores (Mc 2,17). A terceira discussão partiu da obrigatoriedade do jejum (Mc 2,18). Jesus aproveitou a questão para falar que viera ao mundo para desposar a humanidade. Jesus usou uma figura dos profetas (Os 2,21). Deus era chamado de ‘esposo’. Jesus é o esposo que veio para desposar e fazer com ela um só corpo e um só espírito.
A questão de hoje gira em torno da observância do sábado. Note-se que Jesus não é contra a observância do sábado, não é contra o jejum e reconhece que a criatura humana é pecadora. Mas os fariseus e os escribas (explicadores da Lei) haviam desviado o verdadeiro sentido do sábado, do jejum e do conceito de pecador. Jesus tenta repor essas questões em suas justas dimensões, para que ajudem a criatura humana a viver na liberdade e alegria dos filhos de Deus e não na escravidão de sutis e complicadas interpretações impostas.
Fonte: Franciscanos
FREI CLARÊNCIO NEOTTI, OFM, entrou na Ordem Franciscana no dia 23 de dezembro de 1954. Durante 20 anos, trabalhou na Editora Vozes, em Petrópolis. É membro fundador da União dos Editores Franciscanos e vigário paroquial no Santuário do Divino Espírito Santo (ES). Escritor e jornalista, é autor de vários livros e este comentário é do livro “Ministério da Palavra – Comentários aos Evangelhos dominicais e Festivos”, da Editora Santuário.