Teologia da amizade

Foto de Duy Pham no Unsplash

Por Dom Jaime Vieira Rocha
Arcebispo de Natal (RN)

 

O dia 20 de julho é o Dia do Amigo. Numa publicação de um teólogo português, José Tolentino Mendonça, intitulada “Nenhum caminho será longo. Teologia da amizade”, vemos uma reflexão importante para a nossa experiência de fé. O autor expressa sua convicção de que, na nossa relação com Deus podemos viver uma verdadeira amizade. Ela manifesta o que Deus mesmo faz em relação aos homens e às mulheres. Não é assim mesmo que vemos nas narrativas do Antigo Testamento? Deus é o amigo do ser humano ou o “amigo da vida” (Sb 11,26). A amizade expressa o caminho de Deus com o seu povo, com os personagens maiores, Abel, Noé, Abraão, Moisés… Enfim, na amizade se expressa justamente o conceito de misericórdia: Deus caminha ao nosso lado e para Ele nenhum caminho será longo, Ele sente alegria em estar conosco. Como diz o teólogo português: “Um amigo, por definição, é alguém que caminha a nosso lado, mesmo se separado por milhares de quilômetros ou por dezenas de anos. Um amigo reúne estas condições que parecem paradoxais: ele é ao mesmo tempo a pessoa a quem podemos contar tudo e é aquela junto de quem podemos estar longamente em silêncio, sem sentir por isso qualquer constrangimento. Temos certamente amigos dos dois tipos. Com alguns, a nossa amizade cimenta-se na capacidade de fazer circular o relato da vida, a partilha das pequenas histórias, a nomeação verbal do lume que nos alumia. Com outros, a amizade é fundamentalmente uma grande disponibilidade para a escuta, como se aquilo que dizemos fosse sempre apenas a ponta visível de um maravilhoso mundo interior e escondido, que não serão as palavras a expressar”.

Será que nossa relação acontece como amizade? O Concílio Vaticano II, na Constituição dogmática sobre a divina revelação Dei Verbum, afirma que Deus fala aos homens como amigos, para conviver com eles e admiti-los à sua comunhão (cf. DV 2). É uma amizade que conduz ao amor. Deus nos ama tanto que Ele se torna íntimo a nós, se torna nosso amigo. A partir da amizade de Deus para conosco, de nossa amizade com Deus, podemos construir a nossa amizade com os nossos semelhantes. “A amizade é a aceitação de que Deus nos visita através do que nos é próximo. Com os amigos construímos uma história que é sagrada, mesmo se a nossos olhos parece apenas feita de coisas simples e muito humanas. Depende muito do que estamos dispostos a acolher quando acolhemos os outros” (José Tolentino Mendonça).

O Papa Francisco, no encontro com os jovens do Paraguai, na visita que fez àquele país do continente latino-americano, expressou-se assim, sobre a amizade: “Os amigos. A amizade é um dos presentes maiores que uma pessoa, um jovem pode ter e pode oferecer. É verdade! Como é difícil viver sem amigos. Vede se esta não é uma das coisas mais belas que Jesus disse: «Chamei-vos amigos, porque vos dei a conhecer tudo o que ouvi do meu Pai» (Jo 15, 15). Um dos maiores segredos do cristão radica-se no fato de ser amigo, amigo de Jesus. Quando uma pessoa ama alguém, permanece ao seu lado, cuida dele, ajuda-o, diz-lhe o que pensa, mas sem o deixar caído por terra. Assim faz Jesus conosco, nunca nos deixa caídos por terra. Os amigos apoiam-se, fazem-se companhia, protegem-se. Assim procede o Senhor conosco. Serve-nos de apoio”.

Por fim, a amizade é um grande dom, cuidar dela é nossa resposta de aceitação amorosa e gratidão. Cuidemos dos nossos amigos, vejamos neles o reflexo da grande amizade que Deus tem para conosco.

CNBB

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