O Hino angélico de adoração e de louvor a Deus, o Santo, Kadosh (em hebraico), Sanctus (em latim), Hággios (em grego), está presente na Oração Eucarística em todos os ritos litúrgicos tanto do Oriente como do Ocidente. Entre os principais elementos da Oração eucarística, a Instrução Geral do Missal Romano aponta: “A aclamação pela qual toda a assembleia, unindo-se aos espíritos celestes, canta o Santo. Esta aclamação, parte da própria Oração Eucarística, é proferida por todo o povo com o sacerdote” (n.79).
No Ocidente este hino chamado triságio (três vezes Santo) ou epinício (hino triunfal) foi introduzido na Oração eucarística pelos fins do século quinto. No memorial do sacrifício eucarístico da morte e ressurreição de Jesus, uma pessoa é incumbida de narrar as maravilhas de Deus operadas na história da salvação, tornando-o novamente presente. É o sacerdote ordenado “O povo, por sua vez, se associe ao sacerdote na fé e em silêncio e por intervenções previstas no decurso da Oração Eucarística. Estas aclamações são as respostas no diálogo do Prefácio, o Santo, a aclamação após a Consagração, e a aclamação Amém, após a doxologia final, bem como outras aclamações aprovadas pela Conferência dos Bispos e reconhecidas pela Santa Sé” (cf. IGMR, n. 147). Quando o sacerdote evoca o mistério pascal de Cristo, sentindo a necessidade de a assembleia se manifestar, ele convida a assembleia a participar do hino triunfal dos anjos, dos santos e de todos os seres do universo.
Eis dois desses convites pelo fim do Prefácio:
“Por isso, enquanto esperamos sua chegada, unidos aos anjos e a todos os santos, cheios de esperança e alegria, nós vos louvamos cantando a uma só voz: Santo, Santo, Santo…”.
“Por ele, os anjos celebram vossa grandeza e os santos proclamam vossa glória. Concedei-nos também a nós associar-nos a seus louvores, cantando a uma só voz: Santo, Santo, Santo…”.
Estamos diante de uma doxologia de entrada no Santo dos Santos da Oração Eucarística, a Consagração. A primeira parte deste hino de vitória ou triságio proclama a transcendência de Deus, a majestade do Senhor, o Deus Santo, o Deus Senhor dos exércitos ou das multidões celestes e terrestres, Aquele que enche o céu e a terra de sua glória. É um texto totalmente bíblico. Basta consultar Is 6,3, Dn 7,10 e Ap 4,8. A segunda parte, – Bendito aquele que vem…- ”, um acréscimo posterior, realça o Deus imanente, o Deus que vem, o que caminha com a humanidade em sua história, Jesus Cristo. Evoca o hino de vitória proclamado na entrada triunfal de Jesus em Jerusalém.
Por dois motivos importa que o texto seja fiel e completo. Primeiro, porque faz parte integrante da Oração Eucarística. Segundo, porque constitui o elo de transição do Prefácio, a ação de graças pelas maravilhas de Deus que chega ao auge na memória do mistério pascal de Cristo Jesus, para o que se segue após o hino angélico do Santo como o temos há séculos. A maioria das Orações eucarísticas retoma como gancho o tema do Santo: “Na verdade, ó Pai, vós sois santo e fonte de toda santidade…” (Or. euc. II). Em outras, sobretudo no Oriente, mas também na nossa IV Oração Eucarística, se continua a narração das maravilhas de Deus a partir do “Pleni sunt caeli et terra glória tua” (O céu e a terra estão cheios de vossa glória). Por causa do Prefácio próprio, a Quarta Oração Eucarística retoma o tema da criação do mundo e do ser humano, pois a doxologia pelo hino angélico do Santo se dá na contemplação da obra da criação. A tradução O céu e a terra proclamam a vossa glória” empobrece o sentido original do hino. Verifica-se um empobrecimento do seu sentido teológico. A música deste hino terá que ser sóbria e solene. Sendo hino, não há lugar para repetições do tríplice Santo nem de refrãos. Nada de espalhar o Santo por todo o hino. Ele é abertura do hino.
Fonte: Franciscanos – Especial Gotas de Liturgia / Por Frei Alberto Beckhäuser