O Dicastério para as Causas dos Santos organizou uma Conferência “Santidade hoje” em Roma de 3 a 6 de outubro com a presença de várias especialistas para discutir sobre a definição atual das virtudes heroicas e sobre a fama de santidade na era digital.
Até 6 de outubro, os membros do Dicastério das Causas dos Santos, professores e acadêmicos do mundo e expoentes da cultura e da mídia são chamados a discutir dois temas principais identificados pelo Prefeito, o Cardeal Marcello Semeraro, em sua saudação introdutória. O tema é “heroicidade cristã entre perenidade e atualização”, ou seja, como identificar as virtudes necessárias para uma “santidade canonizável”, tendo em mente que São João Henrique Newman escreveu que para sermos perfeitos “nada mais devemos fazer do que cumprir nossos deveres diários”, na vida cristã ordinária.
Como verificar a “fama de santidade” na era digital
Enquanto que o segundo tema é “A fama de santidade na era digital”. A constatação de uma sólida e generalizada “fama sanctitatis“, de fato, enfatiza o Prefeito, sempre foi o requisito fundamental para o lançamento de uma causa de beatificação e canonização. “Porém, nas últimas décadas, parece que esta triagem prévia passou para o segundo lugar: por exemplo, nas positiones, a fama de santidade (ou de martírio ou de oferta da vida) e a fama de sinais agora são geralmente inseridas no final da exposição”. Por esta razão, recorda o cardeal, em 31 de maio de 2021, o Dicastério para as Causas dos Santos enviou uma carta a todos os bispos recomendando “verificar a consistência e autenticidade desta fama, juntamente com a exemplaridade e atualidade dos candidatos, além de uma significativa “fama signorum“. O tema é, portanto, atual, tanto mais que a era digital apresenta novos e urgentes desafios”. Porque, comenta o cardeal Semeraro, “eu não acredito que os santos tenham “likes” nas redes sociais”.
A santidade hoje
Marco Tarquínio, diretor do jornal Avvenire, chamado a dar elementos para uma definição de santidade no mundo atual, na conferência de estudo “A santidade hoje”, disse palavras de esperança cristã: “Há santos e santas mesmo em 2022”, no bem que germina nos “gestos aparentemente antiquados de paz”, na “deserção aos massacres, na oração, no testemunho e na caridade secreta que mudam tudo, nem que seja por uma só pessoa”. Há santos e santas, que na guerra na Europa e em 168 outros lugares do mundo, “estão falando ainda hoje, dizendo aos homens e às mulheres deste tempo que há uma salvação à qual temos direito e que não é uma fuga ao passado, mas uma corrida em frente na direção de um horizonte cristão que coincide, mesmo que não se esgote, com o humanismo que faz com que a paz exista no mundo”.
O espírito enviado para santificar a Igreja
Dom Bruno Forte, teólogo e arcebispo de Chieti-Vasto, foi encarregado do discurso de abertura sobre o tema “a santidade como fruto do Espírito”. O arcebispo destaca como o Concílio Vaticano II, em sua constituição sobre a Igreja Lumen Gentium, deixa claro que o Espírito Santo foi enviado “para santificar a Igreja continuamente” e que, portanto, a santificação “é o principal propósito e fruto da ação do Espírito Consolador na Igreja”. A obra do Espírito no tempo é tríplice: é a memória viva de Deus, que “realiza as maravilhas do advento” de Cristo; é Ele “que transforma o ‘hoje’ dos homens no ‘hoje’ da graça que salva e santifica”; por fim, “é Ele que une incessantemente o presente do mundo ao ‘ainda não’ do último dia, fazendo com que pregustemos algo da infinita santidade de Deus”. Graças a esta tríplice obra do Espírito “a água da vida flui sempre com novo frescor nos dias dos homens e lhes possibilita corresponder ao chamado à santidade, que no projeto do Altíssimo é dirigido a toda criatura humana”. Olhando para nossos dias, o Bispo explica que a Igreja ao escutar o Espírito, não “fechada num castelo de certezas fáceis”, mas “empenhada em discernir os sinais dos tempos”, como indica o Concílio na Gaudium et spes, “terá que viver na ruptura da história, no diálogo e na companhia exigente e fecunda dos homens”. Desta forma, “ela se abrirá para reconhecer e acolher docilmente a ação do Espírito que nos dias de hoje dos homens e torna presente o hoje de Deus abrindo para os que querem com fé o caminho da santidade”.
Com a caridade, os cristãos aceitam o desafio dos “sinais dos tempos”
Exemplos concretos dos “sinais dos tempos”, para Dom Bruno Forte, são “a aspiração à justiça, à liberdade e à paz, a presença universal de testemunhas fiéis do Evangelho e da natureza radical do amor, levados ao ponto do dom da vida na solidariedade com os mais fracos e a serviço da justiça para todos. É sobretudo no exercício da caridade que a comunidade cristã assume o desafio dos sinais dos tempos, se solidariza com o homem concreto e o serve na causa de sua mais plena promoção e, portanto, da libertação de tudo aquilo que ofende sua dignidade de filho de Deus”.
Dom Piazza: a santidade é a caridade plenamente vivida
Dom Francesco Piazza, bispo de Sessa Aurunca Orazio, introduziu alguns elementos para definir a santidade hoje, e citando a Exortação Apostólica Gaudete et Exultate do Papa Francisco de 2018, esclarece como ‘a santidade não é nada mais que caridade plenamente vivida’ e que, como a caridade é sempre seguida de alegria, ‘o caminho da santidade, como um dom e uma tarefa, é o único caminho da alegria perfeita’. Não se trata tanto e não apenas, explica o bispo, da “busca de perfeições pessoais, provas milagrosas ou obras extraordinárias, mas sim do dom de misericórdia e amor oferecido por Deus à vida humana através de pessoas dedicadas a transformar suas vidas e as vidas dos outros com os sinais da dignidade filial que Deus devolve novamente às suas criaturas”. A santidade, para Dom Piazza, é sempre “a escuta de duas vozes”: “a do amor misericordioso de Deus, estendido para com suas criaturas, e a do humano, que muitas vezes, em meio às urgências da vida, se torna uma invocação”.
Alessandro Di Bussolo – Vatican New