Santa Sé: os direitos humanos ainda são violados pelas guerras e pela falta de liberdade religiosa

Foto de Markus Spiske na Unsplash

Dom Gabriele Caccia, observador permanente da Santa Sé nas Nações Unidas, discursou na Terceira Comissão da Assembleia Geral da ONU sobre a proteção dos direitos humanos e sublinhou que a dignidade é inerente à vida de cada ser humano, é igual em todas pessoas e é dada por Deus: os direitos humanos não são concessões de Estados ou governos, pelo contrário, é seu dever promovê-los e protegê-los.

 

Por Tiziana Campisi 

“A proclamação solene dos direitos humanos que ocorreu há 75 anos é infelizmente ainda contrariada por uma dolorosa realidade feita de violações, falta de liberdade religiosa, guerras e violência de todos os tipos.” Foi o que disse, na última quarta-feira (18/10), dom Gabriele Caccia, observador permanente da Santa Sé nas Nações Unidas, falando na Terceira Comissão da Assembleia Geral da ONU sobre a proteção dos direitos humanos. Para o delegado vaticano, não se pode falar de direitos humanos onde há genocídios, deportações em massa, propagação de novas formas de escravidão numa escala virtualmente global, como o tráfico de seres humanos, as crianças-soldados, a exploração dos trabalhadores, o tráfico ilícito de drogas, prostituição. “Mesmo em países com formas democráticas de governo, estes direitos nem sempre são plenamente respeitados – observou dom Caccia. A nossa missão comum é garantir que estes direitos humanos universais sejam usufruídos por todos, em todos os lugares, em todas as fases de suas vidas”.

A fonte dos direitos humanos está no próprio ser humano

O arcebispo iniciou o seu discurso explicando que os direitos humanos têm as suas raízes na dignidade que pertence a cada ser humano, que esta dignidade é inerente à vida humana, é igual em todas as pessoas e é dada por Deus e que por esta razão a fonte última dos direitos humanos não deve ser procurada na mera vontade do ser humano, na realidade do Estado, nos poderes públicos, mas no próprio ser humano e em Deus, seu Criador. E assim os direitos humanos, salientou dom Caccia, não são uma concessão de um Estado ou de um governo, pelo contrário, é seu dever promovê-los e protegê-los.

O desrespeito à pessoa prejudica as bases da sociedade humana

A Declaração Universal dos Direitos Humanos reconhece que a dignidade humana é o fundamento da igualdade, lembrou o observador permanente, acrescentando que “cada membro da família humana tem um valor inestimável” e que o fato de não respeitá-la e protegê-la prejudica as bases da sociedade humana. “O direito à vida está no centro do respeito pelo valor igual de cada pessoa, sem o qual nenhum outro direito pode ser exercido ou desfrutado”, continuou dom Caccia, lembrando o apelo lançado pelo Papa Francisco, em seu discurso de 9 de janeiro, deste ano, ao Corpo Diplomático credenciado junto à Santa Sé, “às consciências de homens e mulheres de boa vontade para que se comprometam a salvaguardar os direitos dos mais frágeis e a combater a cultura do descarte que afeta os nascituros, os doentes, os deficientes e os idosos”.

A liberdade religiosa ou credo é o teste decisivo

O prelado enfatizou que não há proteção da dignidade humana sem a garantia das liberdades fundamentais e que o respeito pelos direitos humanos é necessário para o crescimento de cada indivíduo. “A esse respeito, a Santa Sé enfatiza que o verdadeiro teste decisivo para a proteção dos direitos humanos é o grau em que as pessoas num país desfrutam da liberdade de religião ou credo”, disse dom Caccia, observando ainda que a noção de direitos está ligada à questão dos deveres que incumbem a todo ser humano, e que “direitos e deveres não são apenas complementares, mas estão intrinsecamente ligados”. Esse vínculo também tem uma dimensão social na sociedade humana, porque o direito de uma pessoa corresponde ao dever dos outros de reconhecer e respeitar esse direito, explicou o observador permanente, que definiu como “uma contradição afirmar direitos sem reconhecer as responsabilidades correspondentes”.

Fonte: Vatican News

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