Nos séculos IV e V, quando se formou o Rito romano, a Quinta-feira era o dia da reconciliação dos penitentes públicos para que pudessem celebrar com o fruto o Tríduo Pascal. Também na Liturgia renovada atual, a Quinta-feira Santa tem dois momentos bem distintos. É simplesmente um Dia de semana da Semana Santa com Ofício do Dia de semana na Quaresma, e marca o início do Tríduo pascal com a Missa Vespertina da Ceia do Senhor. Temos ainda, na parte da manhã, a Missa do Crisma.
Mas se quisermos caracterizar a Quinta-feira Santa no seu mistério mais profundo, podemos dizer que celebra profeticamente a Páscoa de Jesus Cristo prolongada na Igreja. Esta Igreja que nasce, como esposa, do lado aberto de Cristo, esta Igreja gerada como Corpo místico de Cristo pela celebração dos Sacramentos e a prática do novo mandamento. Em outras palavras, podemos dizer que na Quinta-feira Santa sela-se o Testamento da Nova Aliança, em torno dos Sacramentos, especialmente da Eucaristia, e do novo Mandamento, significado pelo lava-pés. Jesus continua o seu serviço de salvação através da Igreja. A seu serviço estão os diversos ministérios, especialmente os ministérios ordenados. Assim, podemos seguir uma linha unitária. Na Missa do Crisma reúne-se a Igreja local. Não só o clero, mas toda a Igreja como povo sacerdotal, profético e real. Realiza-se a bênção e a consagração dos óleos para a celebração dos Sacramentos pelo Povo de Deus animado pelo Espírito Santo. Os óleos são usados na maioria dos Sacramentos: Batismo, Crisma, Unção dos Enfermos e Ordem. É o Espírito que forma o Corpo místico de Cristo.
Na Missa vespertina da Ceia do Senhor dá-se especial realce ao mistério da Eucaristia. Também aqui os mistérios celebrados podem ser vistos numa linha unitária. No centro de tudo está o Mandamento da Caridade, significado pelo lava-pés (cL Ev., Jo 13,1-15). Mas ele se realiza de maneira forte na Eucaristia, no Corpo dado e no Sangue derramado. Para que, através da Eucaristia, a Igreja se torne sacramento de unidade na caridade, eis o sacerdócio ministerial.
A Igreja, Comunidade de amor, alimentada e expressa pela Eucaristia e animada pelos ministros ordenados, nasce do mistério pascal de Cristo. Nesta noite ele é entregue e entrega-se aos discípulos como Corpo dado e Sangue derramado, antecipação de sua total entrega ao Pai.
Poderíamos dizer que na Quinta-feira Santa a Comunidade eclesial celebra o mistério da Igreja nascida do mistério pascal de Cristo.
Fonte: Franciscanos – “Viver o Ano Litúrgico”, textos de Frei Alberto Beckhäuser, Editora Vozes.