Em 10 de junho de 1969 na visita ao Conselho Ecumênico das Igrejas em Genebra, Paulo VI fez uma reflexão sobre a dimensão ecumênica da Igreja Católica, tal como havia surgido durante o Concílio Vaticano II, que marcou profundamente a vida da Igreja, como ficou evidente em seus sucessores.
“O Pai das misericórdias guia todos os cristãos na busca da plenitude da unidade que Cristo quer para sua única Igreja”: estas palavras foram pronunciadas por Paulo VI, em Genebra, em 10 de junho de 1969, durante sua visita ao Conselho Ecumênico das Igrejas. Esta visita – a primeira de um pontífice – é uma das páginas mais significativas do trabalho de Paulo VI para a construção da unidade plena e visível da Igreja. Nesta iniciativa, que marcou profundamente a vida da Igreja, como ficou evidente em seus sucessores a partir de João Paulo II, Paulo VI fez uma reflexão sobre a dimensão ecumênica da Igreja Católica, tal como havia surgido durante o Concílio Vaticano II, quando foi feita uma profunda reconsideração do conteúdo e das formas de participação da Igreja Católica no movimento ecumênico contemporâneo.
A busca do que já unia foi privilegiada
Para Paulo VI ficou evidente que esta reflexão tinha ido muito além do processo de redação, aliás, não simples, do decreto Unitatis redintegratio sobre os princípios católicos do ecumenismo, pois foi precisamente o debate sobre o caráter ecumênico dos documentos, e mais em geral sobre a vida da Igreja, que considera os trabalhos do Concílio Vaticano II, com uma série de intervenções públicas, mesmo fora da sala do Concílio. Paulo VI foi um dos protagonistas deste debate, não tanto pelas intervenções que lhe foram atribuídas na revisão final dos documentos do Concílio, mas pelos gestos com os quais ele quis sublinhar a importância do ecumenismo, como uma escolha irreversível da Igreja Católica capaz de fortalecer a missão de anúncio e de testemunho do evangelho. Entre os muitos gestos, que precisamente durante a celebração do Vaticano II mostraram o interesse e a preocupação do Papa Montini pela unidade, um lugar muito especial deve ser reservado para o encontro com o patriarca ecumênico Atenágoras em Jerusalém, em janeiro de 1964. Com este encontro, do qual o Papa Francisco e o Patriarca Bartolomeu quiseram comemorar juntos o 50º aniversário em 2014, abriu-se uma nova estação nas relações dos cristãos, na qual a busca do que já os unia foi privilegiada, na descoberta de um patrimônio comum, a partir da Palavra de Deus.
Encontros ecumênicos e declarações comuns
O ecumenismo do Papa Montini também foi caracterizado por uma série de encontros com os chefes das Igrejas cristãs, desde o Patriarca Ecumênico Atenágoras, que veio a Roma e recebeu o Pontífice no Fanar, ao Arcebispo de Cantuária Michael Ramsey, ao Patriarca Católico dos Armênios Vasken I, o Patriarca sírio-ortodoxo Mar Inácio Jacob III e o Patriarca copta Shenouda III. Muitas vezes, ao final desses encontros, era assinada uma declaração comum na qual eram indicadas as linhas para iniciar um diálogo, com a qual Paulo VI (como afirmou várias vezes) pensava ser possível enfrentar melhor os muitos desafios da sociedade contemporânea, após séculos de silêncio e divisões entre os cristãos, que haviam enfraquecido o peso missionário da Igreja. A longa temporada de diálogos bilaterais, que muito se deve ao Vaticano II, encontrou seu fundamento precisamente nestas declarações que constituem uma fonte preciosa para compreender o caminho percorrido pela Igreja Católica com Paulo VI para viver a unidade na diversidade, como resposta a um mandamento de Cristo.
Secretariado para a Promoção da Unidade dos Cristãos
Na mesma direção se coloca a criação do Secretariado para a Promoção da Unidade dos Cristãos como um órgão da Cúria Romana, depois que João XXIII o criara, em 5 de junho de 1960, para a preparação do Concílio Vaticano II e depois como um dos organismos do Concílio. Paulo VI pediu ao Secretariado para promover a dimensão ecumênica na Igreja Católica segundo o estabelecido pelo Vaticano II. Tratava-se de encorajar o processo de conversão diária à comunhão, com a qual colher a riqueza da identidade católica, valorizando experiências, mesmo que diferentes umas das outras, numa perspectiva de unidade, num momento em que a polarização dos confrontos parecia prevalecer. O chamado contínuo à oração, assim como o apoio à tradução interconfessional das Sagradas Escrituras para a língua materna, indicam o quanto Paulo VI se empenhava para indicar as fontes a serem utilizadas para apoiar o caminho ecumênico também dentro da Igreja Católica.
Para reforçar a compreensão da identidade da Igreja Católica numa perspectiva ecumênica Paulo VI instituiu a Comissão para as Relações Religiosas com o Judaísmo, em 22 de outubro de 1974, Paulo VI na qual quis reafirmar que o ecumenismo deveria estar enraizado na tradição do povo judeu, mesmo que esta questão, embora discutida no Concílio, não foi retomada em um documento específico pelo Vaticano II.
Novos caminhos ecumênicos
Com a sua ação ecumênica, colocando-se em profunda continuidade com as palavras e o espírito do Vaticano II, Paulo VI abriu caminhos, delineando percursos de diálogo teológico que deram, e continuam dando, frutos justamente para uma melhor compreensão da vocação à unidade que envolve todos os cristãos; ao mesmo tempo Paulo VI trabalhou para encorajar o crescimento da dimensão ecumênica das comunidades locais na convicção de que isso era necessário para apoiar o processo de renovação da Igreja Católica. Ao viver a escolha do Vaticano II pela unidade que Paulo VI contribuiu tanto para definir no Concílio, o Papa Montini quis dirigir um convite a todos para viver a alegria e as dificuldades do caminho ecumênico aprofundando, dia após dia, o mistério da unidade na diversidade como sinal de uma comunhão com a qual dar testemunho do amor misericordioso de Deus, Pai, Filho e Espírito Santo, que muda o mundo através da conversão dos corações.
Fonte: Vatican News – Riccardo Burigana