Parar

Imagem ilustrativa de Frei Fábio Melo Vasconcelos

Por José Antonio Pagola

 

A sociedade oferece hoje um clima pouco propício para quem quiser buscar silêncio e paz a fim de encontrar-se consigo mesmo e com Deus. É difícil libertar-se do ruído e do assédio constante de todo tipo de apelos e mensagens. Por outro lado, as preocupações, problemas e pressas de cada dia nos levam de um lugar para outro, quase sem permitir que sejamos donos de nós mesmos.

Nem sequer no próprio lar, cenário de múltiplas tensões e invadido pela televisão, é fácil encontrar o sossego e recolhimento indispensáveis para descansar prazerosamente diante de Deus.

Pois bem, paradoxalmente, nestes momentos em que precisamos mais que nunca de lugares de silêncio, recolhimento e oração, nós crentes abandonamos nossas igrejas e templos, e só recorremos a eles para as eucaristias de domingo.

Esquecemos o que é parar, interromper por alguns minutos nossas pressas, libertar-nos de nossas tensões e deixar-nos penetrar pelo silêncio e pela calma de um recinto sagrado. Muitos homens e mulheres se surpreenderiam ao descobrir que, muitas vezes, basta parar e permanecer em silêncio por certo tempo para aquietar a mente e recuperar a lucidez e a paz.

Como temos necessidade nós, homens e mulheres de hoje, deste silêncio que nos ajude a entrar em contato conosco mesmos, a fim de recuperar nossa liberdade e resgatar novamente nossa energia interior!

Acostumados ao ruído e às palavras, não imaginamos o bem-estar do silêncio e da solidão. Ávidos de notícias, imagens e impressões, esquecemos que só nos alimenta e enriquece de verdade aquilo que somos capazes de escutar no mais profundo de nosso ser.

Sem esse silêncio interior não se pode ouvir a Deus, reconhecer sua presença em nossa vida e crescer interiormente como crentes. De acordo com Jesus, a pessoa “tira o bem da bondade que entesoura em seu coração”. O bem não brota de nós espontaneamente. Precisamos cultivá-lo e fazê-lo crescer no fundo do coração. Muitas pessoas começariam a transformar sua vida se conseguissem parar para escutar todas as coisas boas que Deus suscita no silêncio de sua alma.

Fonte: Franciscanos


JOSÉ ANTONIO PAGOLA cursou Teologia e Ciências Bíblicas na Pontifícia Universidade Gregoriana, no Pontifício Instituto Bíblico de Roma e na Escola Bíblica e Arqueológica Francesa de Jerusalém. É autor de diversas obras de teologia, pastoral e cristologia. Atualmente é diretor do Instituto de Teologia e Pastoral de São Sebastião. Este comentário é do livro “O Caminho Aberto por Jesus”, da Editora Vozes.

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