Padre Márcio: “é necessário que Ele cresça e eu diminua”

A história deste menino que já brincou de arco e flecha (e até levou umas boas palmadas por causa disso) daria um livro: um belo livro. Então, aos preguiçosos, um aviso: não prossigam! Porque embora isso aqui não seja nem de perto o rascunho de um livro, tem muitas linhas.

 

Do princípio

Durante uma ordenação, há muitos momentos que definitivamente marcam o início de uma nova caminhada na vida do ordenado. As perguntas e respostas feitas diante do povo de Deus dão uma mostra da responsabilidade daqueles que decidem assumir tal missão. O sacramento da ordem é celebrado durante a Santa Missa e a “liturgia sacramental”, propriamente dita, começa depois da proclamação do Evangelho.

Ao nos tornarmos cúmplices deste momento, também assumimos como batizados as responsabilidades de apoiar, respeitar e caminhar de mãos dadas com o novo padre.

Da foto

Quando o vi deitado sobre o tapete, face escondida entre os braços, pensei: é esta a foto de “capa”. Não sabia se ela ia prestar ou não. Tive que usar um super zoom, com uma mão super trêmula e ainda com os olhos marejados por detrás das lentes dos óculos. Mas, pensei, vai ser esta.

Ali, ele ainda era diácono e me lembrei do seu lema diaconal: “Nosso dom a serviço” (1Pd 4,10). Do lado esquerdo do presbitério estava uma imagem de São João Batista (curiosamente o santo com o qual tenho afinidade – sou uma católica sem devoções a santos, mas amo João Batista. Estranho isso, né?). E não bastando esse cenário, uma frase dita por Dom Marco Aurélio Gubiotti descortinou a minha mente: “seu destino é desaparecer” (em referência ao papel de João Batista diante do protagonismo destinado a Nosso Senhor Jesus Cristo).

É muita glória ao Pai e glória alguma para nenhum de nós!

Mas Deus, como sempre, maravilhosamente sabe o que faz e como quer que seja feito. Assim, o Diácono Márcio escolheu seu lema do presbiterado: “É necessário que Ele cresça e eu diminua” (Jo 3,30).

Há um tanto de racionalidade nessa escolha (e outro tanto, na ação do Espírito – tenho certeza). Numa entrevista que fizemos na quinta-feira (28/01) antes da ordenação, perguntei pra ele sobre isso. E ele disse que o lema, de certa maneira, é o que direciona a sua história, a sua vida pessoal e espiritual.

Agora, você deve ter compreendido o porquê da escolha desta foto de capa. E não uma das fotos do Márcio no seu mais sublime momento desta caminhada de quase uma década.

Há servo mais fiel do que aquele pronto para prostrar-se diante de Deus?

Meu dom a serviço para que Ele cresça e eu diminua! – foi assim que vi naquele menino, prostrado diante de todos nós, o futuro padre que ele vai construir dentro de si na caminhada. E o mais bonito: tudo para a glória do Pai!

Diácono Márcio no momento da Ladainha

Os detalhes

Há algum tempo escrevi um texto sobre como Deus está nos detalhes. E haja detalhe!

Quem conhece um pouquinho o Márcio – agora Padre Márcio -, sabe como ele é minuciosamente detalhista. Uma característica que, particularmente, eu adoro (assim como adoro advérbios e adjetivos – a meu ver, injustiçados pelos conceitos jornalísticos).

Após a ordenação diaconal, em 25/07, ele já começou a pensar em cada detalhe da ordenação presbiteral (paro de digitar pra abrir um sorriso, caio na gargalhada sozinha – ele é mesmo excepcional!).

Não vamos entrar no mérito de cada um dos detalhes. Mas vou dissertar um pouco sobre os detalhes da veste.

É claro que não dava para ninguém reparar nisso, ou mesmo saber o porquê de cada coisinha bordada ali, ou pedrinha fincada aqui e acolá. Mas, vamos lá.

Na “golinha” da casula, uma pedrinha para cada uma das sete estrelas bordadas – simbolizando as 7 Igrejas. Olha que bacana: pedrinha roxa para as igrejas de Éfeso e Laodiceia; pedrinha verde para as igrejas de Esmirna e Filadélfia, pedrinha branca para Pérgamo e Sárdes e pedrinha vermelha para a igreja de Tiatira (você vai encontrar as referências a elas no Livro do Apocalipse, capítulos 2 e 3. Nem que seja por curiosidade, dá uma corrida de olho).

Bordados à altura do que seriam as “mangas” direita e esquerda da casula, os símbolos do Alfa e Ômega – princípio e fim de tudo.

À frente da veste, 12 cruzes – em cada uma delas uma pedrinha vermelha, simbolizando os 12 apóstolos.

E no centro da casula, lá no ponto mais alto, perto da “gola”, a imagem do Cordeiro do sacrifício perfeito e, logo abaixo, três cruzes simbolizando as três pessoas da Santíssima Trindade.

E chegamos à parte de trás (costas) da casula: 12 cruzes, cada uma delas com uma pedrinha branca, simbolizando as 12 tribos de Israel. Ao centro, 4 cruzes, uma com pedra azul (água), outra com pedra verde (terra), pedra vermelha (fogo) e branca (ar) – além de simbolizarem os quatro elementos, também simbolizam os quatro cantos da Terra (metaforicamente: Norte, Sul, Leste, Oeste).

Se não “encerrasse” os bordados com chave de ouro, não seria o Márcio. Ao centro, na parte das costas, bordados com precisão, os 4 seres que representam os 4 evangelistas: Mateus, Marcos, Lucas e João.

“O primeiro Vivente é semelhante a um leão; o segundo Vivente, a um touro; o terceiro tem a face como de homem; o quarto Vivente é semelhante a uma águia em voo. Os quatro Viventes têm cada um seis asas e são cheios de olhos ao redor e por dentro. E, dia e noite sem parar, proclamam: ‘Santo, Santo, Santo, Senhor, Deus Todo-poderoso, Aquele-que-era, Aquele-que-é e Aquele-que-vem’. (Ap 4,7s)

É ou não é uma aula/catequese? Veja quanto se pode aprender com cada um desses detalhes, que costumam passar despercebidos numa ordenação!

 

O antes, o durante e os vazios (preenchíveis ou não)

“Deitei ontem às 10h (22h) e acordei hoje às 7h30”.

Essa foi a resposta dele quando perguntei se estava ansioso. Pelo jeito, nem um pouco.

Tínhamos agendado para às 9h30 a nossa entrevista da, já dita, quinta-feira antes da ordenação. Surgiu um compromisso pra ele e começamos mais cedo.

Diácono Márcio durante entrevista on-line (28/01/2020)

A carinha “tava” muito boa, com aquele típico sorriso com o qual a gente se acostuma rápido.

Falamos um tanto bom sobre muitas coisas, mas de tudo que jorrou, na fácil abundância de partilha que lhe é tão peculiar, me apeguei ao conteúdo de quando surgiu a palavra “amor” (ela exerce um fascínio inexplicável em mim).

Ele comentava da diversidade de dons que possui e os quais foi reconhecendo ao longo desse período de caminhada, que começou pouco antes de entrar no seminário: “eu cresci demais…, o meu desejo de ser amado se tornou uma potência.”

Quantas pessoas você conhece que conseguiram transformar em potência o desejo de ser amado? Porque na contramão do amor, ao contrário do desamor, segue a indiferença – e ela, a indiferença, ao invés de educar para o crescimento, seguindo pelo lado oposto, normalmente conduz o amor para uma represa.

Mas esse menino conseguiu transformar o desejo, a vontade de amar em potência. Com esta fala, lembrei-me de um outro texto em que falava da potência explícita do Espírito Santo na celebração da crisma realizada na Matriz Nossa Senhora da Saúde, já em tempos de pandemia.

Não falei nada com ele durante a entrevista, mas pensei: é essa potência do Espírito que “paira” sobre ele, tornando possível compreender o amor numa dimensão solitária; ou seja: que não exige a resposta, mas que a oferece gratuitamente.

O Márcio é assim. O Padre Márcio, com a graça de Deus, também será!

Durante

Até então, só havia participado de uma ordenação presbiteral. Pensei que o impacto da primeira jamais seria superado. Besteira. Todas devem ser impactantes – sobretudo se você conhece o ordenado.

Muita gente se apega apenas ao rito em si, à beleza de tudo que só os ritos da Santa Igreja Católica têm (sim, sou “bairrista” às belezas do catolicismo). Mas no meu caso, não é bem isso que atrai! Tenho uma predileção pelas faces. Gosto de “gentes” e de todos os pensamentos e sentimentos que elas podem me inspirar.

Havia um “jovem”, sentado num dos bancos da fila que estava de frente para o altar, com uma veste que me lembrou a dos franciscanos (não sou muito entendida dessas coisas). Num universo de tantos padres e diáconos vestidos de branco, não tinha como não o perceber. Mas foi o olhar enternecido que me comoveu profundamente. Quanta suavidade!

No banco logo atrás do que eu estava, uma garotinha (de apenas alguns meses) se comportava tranquilamente no colo do pai. Que doçura! Ao final da celebração, ainda fez uma “participação especial” no colo da mãe – uma das maravilhosas vozes do coral.

Logo no início da celebração, no começo da procissão de entrada, duas outras faces me chamaram a atenção e vão ficar marcadas nos emaranhados das minhas memórias.

A primeira foi de uma senhora que já estava com os olhos vermelhos antes mesmo de tudo iniciar. Estava em pé, olhando pra porta, esperando a procissão. Fiquei tocada por aqueles olhos marejados – gosto de pessoas que quando sentem “as coisas” não têm medo de externá-las.

E do outro lado do corredor central por onde passaria a procissão, no lado oposto ao que estava a mulher, estava Dom Odilon, sentado numa cadeira. Conversei com ele uma única vez e para fazer uma entrevista para a comemoração dos seus 50 anos de sacerdócio. O mesmo olhar daquele dia, a mesma tranquilidade, a mesma afeição ao falar dos seminaristas eu vi ali, na ordenação do Márcio.

Tão cativante quanto o olhar do bispo emérito foi ver a delicadeza e o tamanho da ternura com que vários padres se dirigiram a ele ao entrarem. É o tipo de atitude que a gente reconhece como afeição e respeito.

Padre Flávio Assis e Dom Odilon Guimarães Moreira
Dom Marco Aurélio Gubiotti cumprimentando os fiéis durante a procissão de entrada

No primeiro banco de uma das filas da lateral da Igreja São José estavam nossas estrelinhas, as três marias que a gente procura localizar no céu quando estamos na roça: Irmã Sílvia, Irmã Rosa e Irmã Marinez. Nem preciso falar da alegria delas, né?

Irmã Marinez Missio, Irmã Rosa Ternes, Irmã Sílvia Batista – da esquerda para a direita

Um rostinho desconhecido para mim, mas que ganhou destaque durante a celebração, foi o do seminarista Francis Régis Almeida. Ele foi surpreendido pela oferta do Padre Márcio que lhe doou a estola da ordenação diaconal. Ainda este ano, deve ser ordenado. O jovem e o também à época seminarista Márcio viveram várias experiências juntos, do dividir o quarto por um ano à formação de catequistas em várias paróquias. “Sempre rezei por ele”, disse o seminarista. Continue rezando, penso!

Houve muitas outras faces e semblantes que me atravessaram e que me transportaram para um dentro muito profundo da certeza de que Deus nos une, nos congrega realmente numa só família – ainda que numa família de vários desconhecidos.

Embora eu tenha alertado os preguiçosos para não iniciarem a leitura, não vou tecer sobre todas as faces e semblantes espalhados pelos vários bancos, você também teve suas impressões. Vou seguir agora para as faces cujos corpos estavam sentados em três cadeiras de “destaque”.

A mãe Perpétua Aparecida da Cruz Mota, Diácono Márcio Mota e o pai Adão Maximiando Mota

Com dona Perpétua, mãe do Márcio, eu já tinha conversado um tico antes de tudo começar. E agora já sei de onde ele tira toda aquela dita tranquilidade, e jamais ansiedade. É dela, de dona Perpétua que, assim como ele, disse que estava bem tranquila. Mas tem coisas ou sentimentos, que nem os óculos, nem a máscara e o mover das mãos e dos pés escondem. Alegria é assim, felicidade é assim, vira estampa – torna-se impressa!

Com seu Adão foi mais fácil. Ele chora, ri, se recompõe… E ao observá-lo lembrei de uma frase que o Márcio tinha dito quando o entrevistei para a matéria da ordenação diaconal: “Minha mãe sentiu falta demais nos três primeiros anos. Meu pai, ficou em choque. Depois disse: ‘segura na mão de Deus e vai’”. E ‘num é’ que ele repetiu essa frase do pai ao fazer seu “discurso” já como padre! Pois é, seu Adão, acho que o menino Márcio te ouviu: segurou na mão de Deus e foi ser padre na vida!

Já o nosso “pequeno príncipe”, este que descobriu a sua própria rosa – a mais linda de todo o universo -, passou por várias “cores” durante a celebração. Sem contar as várias “caras”.

Particularmente, gosto dos tons rosáceos – porque ao contrário do que muita gente imagina, associando-os à timidez, eles demonstram uma completa incapacidade natural do corpo de não externar o que lhe vai no mais íntimo; os excessos das nossas emoções. E o tom rosáceo passou várias vezes pela face do Márcio. Que potência!

Márcio Mota – ainda como diácono

O apertar dos olhos, o suavizar das pálpebras, as mãos parecendo calcular a pressão ou falta dela ao deslizar sobre as pernas, as mãos cruzadas sobre elas, os pezinhos presos ao chão…, e eu me perguntando se ele não queria sapatear de alegria.

Das várias carinhas escolhi esta: a do sorriso enquanto ele estava ajoelhado diante de Dom Marco Aurélio. Foi uma cena que eu queria ter registrado. E, curiosa como sou, diria que queria ter ido mais além: ser uma borboletinha azul para ouvir as palavras trocadas ali. Porque tal como o Márcio estava Dom Marco – com aquele tipo de sorriso que a gente só divide com alguém que já tem espaço, feito cadeira cativa, no nosso coração. Com quem a gente tem intimidade para se revelar ou se desvelar. Quanta potência!

Troca de sorrisos: Diácono Márcio e Dom Marco Aurélio

Os vazios

Não sei quantas vezes chorei – mas isso é porque sou naturalmente chorona, na alegria e na tristeza. Mas teve aquele instante do choro engasgado, em que tive que retirar a toalhinha da bolsa para enxugar os olhos (já que em tempo de pandemia a gente não pode contar com a praticidade de simplesmente esfregá-los com as mãos).

Foi quando vi a cadeira do meio vazia. Entre dona Perpétua e seu Adão. Lembrei do dia em que deixei minha filha em Belo Horizonte para começar a faculdade. Senti que era uma saída de casa com bilhete apenas de ida. Sobrevivi. Mas ainda dói.

Dona Perpétuo e seu Adão

Tenho certeza que havia um tanto de orgulho naqueles dois por aquela cadeira vazia. Orgulho que seu Adão não poupou em comentar nas postagens da rede social durante o Tríduo preparatório para a ordenação. Lembrei de dona Perpétua me falando: “ele é ‘seus’ por um dia, mas é meu eternamente” (se referindo às pessoas que falavam com ela sobre, agora, o Márcio ser delas também).

Mães costumam se sentir assim, dona Perpétua. A gente diz que cria os filhos para o mundo, mas a verdade é que a gente não sente que o mundo merece nossos filhos. O que a gente faz quando eles partem para o voo solo é preencher a cadeira vazia com muito orgulho pelas escolhas, com alegria por vê-los tão alegres, e, no seu caso e do seu Adão, com a certeza de ter “lançado” o filho no colo Daquele a quem de e por direito ele pertence: ao Criador!

A plenitude

A felicidade e a plenitude, embora não sejam sinônimas, têm um quê de desejos inalcançáveis – até que a gente tenha a maturidade para perceber que os dois “sentimentos” são possíveis ao longo da vida. Mas não necessariamente num estado de permanência. A gente descobre que é possível estar feliz e estar pleno. Ser é um ousado querer do “Ser” humano.

Quando vi Dom Marco Aurélio com o cálice e a patena nas mãos, senti aquele tipo de felicidade que faz as bochechas da gente queimarem. Meu pensamento voltou ao momento da celebração em que o diácono começa a responder àquela sequência de “queros”, a cada indagação do bispo.

Momento da inquirição

Não sei se mais alguém percebeu, mas havia uma luz, possivelmente de uma daquelas janelas lá do alto, que incidia exatamente sobre parte da face e do peito do Diácono Márcio. Como a luz é capaz de prender nosso olhar! E nos voltar, naturalmente, para a beleza, o significado e a simbologia das “coisas do alto”. Foi o próprio Deus que dividiu o “tempo” em noite e dia. Para que houvesse luz e pudéssemos “ver” além da escuridão.

Esta mesma luz do alto sempre resplandece do conteúdo derramado no cálice e depositado sobre a patena. Uma luz que a gente sente ocupar todos os nossos vazios – porque ao nos unirmos ao Cristo, entramos em plenitude. Porque Jesus é a totalidade, é o Verbo conjugado nas três pessoas e na atemporalidade da Trindade Santa.

O cálice e a patena do Padre Márcio! Escolhidos e pensados com os mesmos mínimos detalhes lá da veste. Quanta potência amorosa no conteúdo destes dois objetos que a partir de agora farão parte das idas e vindas do padre.

Cálice e patena usados na celebração eucarística da ordenação presbiteral do Padre Márcio

Entre o extasiar que a liturgia eucarística me provoca e a emoção que dela emana, lembrei do pequeno Davi, sobrinho de 6 anos do Márcio. Na nossa conversa, quase monólogo de alguns poucos segundos, rs, ele falou que estava feliz porque o tio ia ser padre. Daí, pra esticar o papo, perguntei se era o tio que levava ele pra igreja e lhe falava sobre Jesus. Bom… você já ouviu a frase que santo de casa não faz milagre, né? Então, tá aí a resposta do Davi: “É minha avó”.

O pequeno Davi, 6 anos – durante a entrevista com o Diácono Márcio

Todas aquelas faces, as conhecidas e desconhecidas. A oportunidade de ver pessoas queridas reunidas, como meu pároco, Padre Paulo Marcony, como meu ex-pároco, Padre Flávio Assis, como os que estiveram de passagem pela minha paróquia, Padre Nailson, Padre Vinícius, Padre Eugênio, ou como quem, vez ou outra, aparece por lá para celebrar, como Padre Edson e Padre Ueliton… Minha comunidade representada naquele momento tão especial… tudo isso mexe com a gente, revolve nossos interiores, nos faz sentir parte de algo maior.

Padre Vinícius Lopes e Padre Paulo Marcony
Fiéis da Paróquia Nossa Senhora da Saúde/Itabira – na ordenação do Padre Márcio

É dessa plenitude e felicidade que falo. De ver o Márcio ali, abrindo os braços com toda a sua potência amorosa, amando e sendo amado, se sentindo feliz e pleno, de braços abertos e inteiramente Padre Márcio!

“Tudo está certo, no seu lugar, cumprindo o seu destino. E eu me sinto completamente feliz. Mas, quando falo dessas pequenas felicidades certas, que estão diante de cada janela, uns dizem que essas coisas não existem, outros que só existem diante das minhas janelas, e outros, finalmente, que é preciso aprender a olhar, para poder vê-las assim” – Cecília Meireles.

Padre Márcio assinando a ata

Dos desfechos que a gente pode esperar no ano de São José

A ordenação aconteceu no dia 30 de janeiro de 2021, na Igreja São José, em Timóteo – quase dois meses após o Papa Francisco convocar o Ano de São José com a carta apostólica “Patris corde”.

Não procuro por sinais em tudo, mas prefiro não ignorar a sentinela que costuma me cutucar sobre a possibilidade deles.

De forma carinhosa, ao se dirigir ao Padre Paulo Marcony (pároco da Paróquia Nossa Senhora da Saúde/Itabira) no final da celebração, o Padre Márcio, até então um “menino bem barulhento”, falou do amadurecer o silêncio na caminhada sacerdotal: “a alegria e espontaneidade vão continuar…, mais maduras”.

O novo Plano da Ação Evangelizadora e Pastoral da Diocese tem um trechinho que nos convida a refletir sobre as “luzes e sombras”. Veio-me, então, esta analogia com o silêncio e o barulho – uma mesma porta que sinaliza entrada e saída.

São José foi a porta para a entrada de Jesus na descendência de Davi, dando-lhe um nome: “Entre os povos antigos, como se sabe, dar o nome a uma pessoa… significa conseguir um título de pertença” (Patris corde).

Jesus tinha uma pertença terrena na paternidade assumida por São José que, segundo as escrituras, era um homem do silêncio, mas também “justo (Mt 1,19), sempre pronto a cumprir a vontade de Deus manifestada na sua Lei (cf. Lc 2, 22.27.39)”. Talvez, por isso, “Deus” preferisse falar-lhe em sonhos.

“São José lembra-nos que todos aqueles que estão, aparentemente, escondidos ou em segundo plano, têm um protagonismo sem paralelo na história da salvação”. Ao prosseguir com a carta apostólica, o papa fala de algumas virtudes deste santo: pai amado, pai na ternura, pai na obediência, pai no acolhimento, pai com coragem criativa, pai trabalhador, pai na sombra, “a sombra na terra do Pai Celeste: guarda-O, protege-O, segue os seus passos sem nunca se afastar d’Ele.”

E Francisco completa: “Não se nasce pai, torna-se tal… E não se torna pai, apenas porque se colocou no mundo um filho, mas porque se cuida responsavelmente dele. Sempre que alguém assume a responsabilidade pela vida de outrem, em certo sentido exercita a paternidade a seu respeito”. (Papa Francisco – Patris corde) É muito padre/pai espiritual essa frase, né?

Dom Pedro Brito Guimarães, Arcebispo de Palmas (TO), escreveu em um artigo: “Todos nós sabemos que a palavra “padre” significa: “pai”. Não foi nenhum Concílio que definiu o padre com esta missão, mas foi o carinho, o capricho e o amor das comunidades eclesiais que chamou o sacerdote de pai. Uma verdadeira profecia, pois, de fato o é. Uma merecida homenagem para quem tem a missão de gerar filhos para Deus”.

Apesar de todas as dificuldades que estamos vivenciando desde o ano passado, por causa da pandemia, 2021 nos aponta para a santidade silenciosa e responsável de São José.

O Padre Márcio começa sua caminhada assumindo a administração de duas paróquias: a Paróquia Nossa Senhora das Dores, em Marliéria, e a Paróquia São José, em Jaguaraçu.

Com tanto São José no meio do caminho, não consegui deixar de me perguntar se não há um dedinho do alto nisso tudo. Pode ser que sim, pode ser que não! Indiferente à resposta, São José, guardião universal da Igreja, parece querer um lugarzinho, tal como São João Batista, na caminhada deste novo padre da nossa Diocese.

Que o exemplo desses dois santos seja fecundo na vida e na resposta de fé do Padre Márcio Rodrigo Mota.

“Um padre deve ser, ao mesmo tempo, pequeno e grande, de espírito nobre, com sangue real, simples e espontâneo como um lavrador, um herói no domínio de si, um homem que lutou com Deus, uma fonte de santificação, um pecador que Deus perdoou, senhor de seus desejos, um servidor humilde para os tímidos e fracos, que não se rebaixa diante dos poderosos mas se curva diante dos pobres; discípulo de seu Senhor, chefe de seu rebanho; um mendigo de mãos largamente abertas, um portador de inúmeros dons, um homem no campo de batalha; uma mãe para confortar os doentes, com a sabedoria da idade e a confiança de um menino; voltado para o alto, os pés na terra… feito para a alegria, experimentado no sofrimento, imune a toda inveja, que se vê longe… que fala com franqueza, um inimigo da preguiça, uma pessoa que se mantém sempre fiel” – trecho extraído de um manuscrito medieval, de autor desconhecido, denominado de “Retrato do Padre”, citado no artigo de Dom Pedro Guimarães (CNBB).

Do fim que leva a outros começos

A ordenação sacerdotal do Padre Márcio terminou como esperado: com todos comungando a alegria. Teve muita gente envolvida para que tudo desse certo. Parabéns! Deu!

Agora ele parte para novos desafios. Além da administração das paróquias já citadas, ainda responde como Assessor Diocesano das Pastorais Catequética e de Música Sacra e atua como professor no Seminário.

É muita responsabilidade para quem vai começar uma nova caminhada. Mas ele é jovem, é ligado na tomada de 220, tem energia, alegria, disposição e disponibilidade para servir.

Quando perguntei se ele estava preocupado, respondeu com ‘suave firmeza’:

“Não estou ansioso e nem com medo. Este momento é como viver o Advento. Estou com uma alegre expectativa. Sei da minha missão, mas eu não sei ser padre. Esta vivência vai ser construída. É o que eu vou aprender, o dia a dia é o que vai me conduzir”.

“Não sei ser padre”! Esta frase nos diz muito sobre a trajetória daquele menino bagunceiro da infância, que fazia de tudo para chamar a atenção. Diz de uma maturidade e observância das coisas e situações deste mundo. Diz muito da construção de uma personalidade forte, mas também carregada de doçura (às vezes até ingênua).

Sobre “Não sei ser padre”, podemos parafrasear o Papa Francisco: não se nasce padre, torna-se! É um caminhar que haverá de ter seus altos e baixos, seus instantes de felicidade e plenitude e alguns não tão felizes ou plenos assim.

É jargão, todo mundo conhece e/ou repete algo mais ou menos assim: “Ninguém disse que seria fácil”. Mas se até eu conheço o versículo bíblico (a seguir), é certo que o Padre Márcio conhece muitos outros similares. Eis, portanto, o que penso pra sua caminhada:

“O Deus de toda a graça, aquele que vos chamou para a sua glória eterna em Cristo, vos restaurará, vos firmará, vos fortalecerá e vos tornará inabaláveis. A ele seja todo o poder pelos séculos dos séculos! Amém.” (1Pe 5,10s)

 

Liliene Dante

Obs.: para ver outras fotos da ordenação, acesse a página da Paróquia no facebook: https://www.facebook.com/pnssitabira/posts/4039937719370931

Márcio em seu primeiro “discurso” como padre

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