Aprofundando a compreensão da Sagrada Liturgia, vamos abordar a questão de sua expressão significativa ou do símbolo. Toda a Liturgia se move e se expressa através de uma linguagem simbólica.
O que é o símbolo? Em todo o relacionamento humano, o símbolo não é o que em geral se entende por símbolo: algo irreal, fantasioso, mero sinal para significar outra coisa.
A palavra símbolo vem do grego e significa lançar junto, juntar, unir, de duas coisas tornar uma só. Vejamos três exemplos para compreender o que é o símbolo.
Quando os comerciantes gregos realizavam um contrato de troca no mercado, para depois se reconhecerem, tomavam uma varinha e a quebravam em duas partes. Cada um levava consigo uma parte. Quando se reencontravam para fazer a troca do produto combinado, uniam os dois pedaços que se encaixavam perfeitamente um no outro. Esta ação de unir duas partes numa só, é o símbolo. Uma parte contém, oculta, revela e comunica a outra. A ação contém, oculta, revela e comunica, o contrato, a palavra dada.
Outro exemplo: a união conjugal. O homem é símbolo da mulher e a mulher, símbolo do homem. Já não são dois, mas uma só carne. Um contém, oculta, revela e comunica ao mesmo tempo o outro. O símbolo contém o que significa e não aponta simplesmente para outra coisa fora de si mesma. O símbolo é a mesma coisa em outro modo de ser, é a mesma realidade em outra maneira de ser. O símbolo é real.
O exemplo do bolo. Um dia escutei uma conversa entre duas jovens. A conversa foi longa. Resumindo, uma disse à outra: Sabe, a fulana de tal, minha amiga, me convidou para comer um bolo na casa dela. Ela tem aniversário, convidou os amigos. Mas, eu não vou não. É bobagem, é coisa de coroa. Além disso, se quiser comer bolo eu vou na confeitaria e como à vontade. A outra, porém, observou: Mas é festa, não é? E a conversa morreu por aí. Para a primeira, bolo é bolo e acabou. Bolo de confeitaria. Expressão da gula, matar a fome, sozinha. Para a outra, bolo não é bolo, mas é festa. E festa é encontro, acolhida, celebração da vida, apreço, expressão da amizade, em suma, é a intercomunhão solidária, o mistério da vida experimentada na partilha do bolo. O bolo, portanto, contém, oculta, revela e comunica, ao mesmo tempo, a festa, é o símbolo da festa.
Assim como o bolo contém, oculta, revela e comunica, ao mesmo tempo, a festa, o símbolo contém, oculta, revela e comunica o mistério. O símbolo é a linguagem do mistério, é a comunicação do mistério e com o mistério, a experiência do mistério.
Podemos definir, portanto, o símbolo de três modos: 1) O símbolo é a mesma realidade em outra forma, em outro modo de ser. 2) O símbolo é algo ou uma ação que contém, oculta, revela e comunica, ao mesmo tempo, o mistério. 3) O símbolo é a linguagem, a comunicação do mistério.
Assim, na Liturgia, o símbolo, o rito, composto por um conjunto de símbolos, é a expressão significativa do mistério. Pela ação litúrgica realiza-se a comunhão divino-humana, comemorando a comunhão divino-humana que se realizou na história pelo mistério da Encarnação do Filho de Deus, em Jesus Cristo. Em forma sensível, através de ritos simbólicos, participamos da Salvação em Cristo Jesus e com Ele, por Ele e Nele, a humanidade glorifica a Deus.
Fonte: Franciscanos – Especial Gotas de Liturgia /Frei Alberto Beckhäuser