O título deste pequeno artigo nos leva a refletir sobre o aspecto hierárquico e dialogal da assembleia litúrgica, como manifestação máxima do Corpo de Cristo, a Igreja.
A Igreja, Corpo místico de Cristo, manifesta-se em sua plenitude, quando reunida sob a presidência do Bispo ou de um presbítero, seu delegado. Diz o Concílio Vaticano II: “As ações litúrgicas não são ações privadas, mas celebrações da Igreja, que é o ‘sacramento da unidade’, isto é, o povo santo, unido e ordenado sob a direção dos Bispos. Por isso estas celebrações pertencem a todo o Corpo da Igreja, e o manifestam e afetam; mas atingem a cada um dos membros de modo diferente, conforme a diversidade de ordens, ofícios e da participação atual” (SC 26). Mais adiante se afirma: “Nas celebrações litúrgicas, cada qual, ministro ou fiel, ao desempenhar a sua função, faça tudo e só aquilo que pela natureza da coisa ou pelas normas litúrgicas lhe compete” (SC 28).
Se estes princípios valem para toda ação litúrgica, aplicam-se particularmente à Missa. A Instrução Geral sobre o Missal Romano diz: “A Celebração Eucarística constitui uma ação de Cristo e da Igreja, isto é, o povo santo, unido e ordenado sob a direção do Bispo. Por isso, pertence a todo o Corpo da Igreja e o manifesta e afeta; mas atinge a cada um dos seus membros de modo diferente, conforme a diversidade de ordens, ofícios e da participação atual. Desta forma, o povo cristão, ‘geração escolhida, sacerdócio real, gente santa, povo de conquista’, manifesta sua organização coerente e hierárquica. Todos, portanto, quer ministros ordenados, quer fiéis leigos, exercendo suas funções e ministérios, façam tudo e só aquilo que lhes compete” (n. 91). E acrescenta: “Toda celebração legítima da Eucaristia é dirigida pelo Bispo, pessoalmente ou através dos presbíteros, seus auxiliares” (n. 92).
Para expressar que somente os ministros ordenados presidem a celebração litúrgica na função de Cristo Cabeça do seu Corpo que é a Igreja, ela reserva, pelas normas litúrgicas, as saudações, as bênçãos e o envio da assembleia ao ministro ordenado, no exercício de sua função. Os ministros não ordenados são considerados iguais entre os demais fiéis. Por isso, não ocupam a cadeira da presidência, nem saúdam liturgicamente, nem abençoam os fiéis. Por exemplo, em celebrações da Palavra, quem proclama o Evangelho não saúda a assembleia, mas diz simplesmente: “Ouçamos as palavras do Evangelho de Jesus Cristo, segundo Mateus”, ou simplesmente: “Do Evangelho de Jesus Cristo, segundo Lucas”.
Por outro lado, os ministros ordenados não dirão: O Senhor esteja conosco, mas, O Senhor esteja convosco; Abençoe-vos o Deus todo poderoso; A paz do Senhor esteja sempre convosco e não conosco; Ide em paz, e não, vamos em paz e o Senhor vos acompanhe, e não, nos acompanhe. Não é fácil largar um hábito adquirido!
O costume, mais ou menos generalizado de os sacerdotes se incluírem nas saudações e bênçãos, surgiu nos primeiros anos após o Concílio. Foi a tendência de se valorizar o sacerdócio batismal dos leigos. Feliz ideia, mas fora do lugar!
Os ministros ordenados em sua função, no diálogo com a assembleia, expressam o diálogo da assembleia com Deus. Eles estão agindo em nome de Deus, em nome de Cristo. É Deus, em nome de Cristo e na força do Espírito Santo, quem saúda, abençoa e envia. Exercem uma função mediadora entre Deus e a assembleia. Eles comunicam Deus com a assembleia e a assembleia com Deus. Trata-se de uma comunicação divina. Os ministros ordenados expressam e exercem uma especial presença e ação de Cristo na Sagrada Liturgia de todo o povo santo e sacerdotal de Deus.
Fonte: Franciscanos – Especial Gotas de Liturgia /Frei Alberto Beckhäuser