O porquê da guerra entre o Hamas (Palestina) e Sionistas (Israel)!

“A partida de Abraão”, de Jozsef Molnar (+1899), imagem auto-digitalizada. Wikipédia (domínio público)

Luta por terra e poder desde os tempos bíblicos até os nossos dias!

 

Prof. Dr. Frei Jacir de Freitas Faria, OFM [1]

O mundo assiste atônito ao conflito na Terra Santa entre Hamas e Israel. Judeus versus árabes. Israel versus Palestina. Hamas versus Sionistas. Essa luta não é nova. Ela tem raízes bíblicas, ainda que a motivação do enfrentamento atual diga respeito aos conflitos estabelecidos nos últimos cem anos por causa da decisão de judeus espalhados pelo mundo, sob a liderança inicial de Theodor Herzl, no fim do século XIX, de criar um estado judeu no Oriente Médio, na Palestina, ocupada à época por árabes muçulmanos.

Por que judeus e palestinos não se entendem na região onde Deus escolheu um povo, fez aliança com eles e lhes prometeu uma terra; assim como enviou seu Filho Primogênito, Jesus de Nazaré, como o Messias esperado? Jesus, o judeu de religião e palestino, de nacionalidade.

Para entender essa sangrenta guerra, que mata inocentes de ambos os lados, é importante compreender a questão geográfica de judeus e palestinos, bem como a história de sucessivas lutas por terra, desde os tempos bíblicos de Abraão, o pai na fé de judeus, cristãos e muçulmanos, até os nossos dias. Você terá oportunidade de compreender os meandros históricos, políticos e religiosos desse conflito.

Quem, de fato, é o dono dessas terras? Quais interesses internacionais sustentam essa revolta? A região é marcada por disputas históricas entre hebreus, filisteus e cananeus, povos dos quais surgiram palestinos, judeus e árabes. Trata-se de uma luta para conquistar o território bíblico perdido pelos descendentes desses grupos.

O componente religioso desse conflito torna-se importante, quando o lemos na perspectiva de Israel e Palestina bíblicos, com o objetivo de compreender os últimos cem anos de guerra entre Israel e árabes, quando o fator político laical passa a ser preponderante no movimento sionista de Theodor Herzl.

Iniciemos a nossa análise situando o estado de Israel e os territórios palestinos.

 Estado de Israel

A primeira questão da qual devemos tomar ciência é de que existe o Estado de Israel e territórios palestinos dentro desse estado. Proposto pela ONU no dia 29 de novembro de 1947, e proclamado estado independente por David Ben Gurion, no dia 14 de maio de 1948, Israel está situado na parte baixa do mar Mediterrâneo, e tem apenas 20.770 km². Considerando Jerusalém Oriental, as colinas de Golan e o território da Cisjordânia, ele chega a 27.779 km².

Sua localização, desde os tempos antigos, é estratégica, pois está situado entre os continentes africano e asiático, tendo divisa ao norte com o Líbano, e ao sul, com o Egito; a leste com Jordânia e ao nordeste com a Síria. De norte a sul, Israel não passa de 500 km e de largura (do Mar Morto a Tel-Aviv), 100 km. Israel se situa propriamente dito no Oriente Próximo. As maiores cidades de Israel são Tel-Aviv, Jerusalém e Nazaré. Israel é uma república democrática parlamentar. Israel é, hoje, um país com grande desenvolvimento econômico, bélico e científico.

O estado de Israel não é regido pela religião judaica, mas pela política de governo democrático parlamentar. Israel é, na verdade, um estado judeu racial com várias etnias, formado por árabes muçulmanos, drusos e cristãos. Veremos, mais adiante, como isso se configurou ao longo da política sionista em Israel.

Território Palestino

Com a criação do estado de Israel, mais de um milhão de palestinos foram expulsos da região. Os palestinos ainda ficaram ocupando regiões que vão desde as cidades de Tersa a Hebron, e a Faixa de Gaza. Palestina hoje são as treze áreas dentro do Estado de Israel pertencentes aos muçulmanos e cristãos palestinos, dentre elas: Belém, Jericó, Faixa de Gaza e parte da Samaria. Os palestinos dizem que eles eram os cananeus que viviam na região, quando Josué, vindo do Egito, ocupou a região.

A Palestina não tem, atualmente, um governo centralizado, mas uma autoridade Palestina, que, infelizmente, fica muito a desejar em questões de educação, saúde e trabalho. Israel, por sua vez, não deixa a autoridade Palestina atuar.

Atualmente, os palestinos estão confinados em áreas e em constantes conflitos com os judeus. Há um muro cercando a cidade de Belém. A região dos palestinos de Jerusalém é marcada pela miséria, como exemplo, Betânia. Em certas regiões, os palestinos gozam de direitos da cidadania judaica, em outras, passam fome. São visíveis, na região, a riqueza do estado judaico e a pobreza dos palestinos. Por outro lado, atualmente, Israel trouxe grande desenvolvimento econômico para a região.

 No início era Abraão e a terra de Canaã

A luta por terra na região é antiga.[2] Abraão chega e domina Canaã (1850 a.E.C.). Muitos morrem na conquista da terra. Abraão é o pai de judeus, cristãos e muçulmanos, a partir de suas descendências com Sara (Isaac) e Agar (Ismael). Na origem de judeus e palestinos está figura de Abraão.

A fome e a peste levaram o povo de Deus a se estabelecer no Egito. No início, foram bem acolhidos, por causa da liderança de José, o filho predileto do Patriarca Jacó, que tinha dado nome ao povo, depois de uma luta com Deus.

Israel significa “homem forte que lutou com Deus” (Gn 32,29). Após quatrocentos anos de opressão, o povo judeu se liberta da opressão dos faraós do Egito. Moisés organiza a saída. Com sua morte no deserto, seu sucessor, Josué retoma a terra de Canaã, depois de muitas guerras com a população local que havia ocupado a terra que Deus havia dado aos seus pais. O povo vive em paz por 200 anos, mas pede um rei, como o Egito.

Com reis, um país unificado e dividido: Israel e Judá

Com os Reis Davi (1010-970 a.E.C.) e Salomão (970-930 a.E.C.) nasce o país da promessa: povo escolhido por Deus, que lhe dá uma terra e com ele faz uma aliança eterna de fidelidade.

O mau governo de Salomão causa a divisão do povo em Norte e Sul. O norte recebeu o nome de Israel e o Sul, de Judá. O domínio da Assíria, por volta de 722 a.E.C., ocupa a região. Muitos migram para o sul, em Judá, que continuará com independência até 597 a.E.C. quando a Babilônia (atual Iraque) destrói Jerusalém e leva cativos a lideranças judaicas para Babel, sua capital, ocorrendo a primeira Diáspora (dispersão do povo judeu). Quando os persas (atual Irã) domina a Babilônia, os judeus voltam para a região com o apoio dos persas e iniciam a reconstrução do país. Muitos morrem numa luta por terra.

Gregos e romanos dominam a região, a qual passa a ser chamada de Palestina

Posteriormente, os gregos dominam os persas, em 333 a.E.C., com Alexandre Magno. Na região, os romanos dominam os gregos em 69 a.E.C. A região recebe o nome de Palestina, por causa dos Filisteus, chamados de povos do mar. Eles habitavam a Mesopotâmia e chegaram pelo mar à Palestina. Os romanos mantiveram o nome para região.

No ano 70 E.C., por causa da revolta judaica contra Roma, sob a tutela de Tito, Jerusalém e o Templo são destruídos pelos romanos. Foi um golpe fatal para os judeus, que viram sua Jerusalém sagrada se transformar em uma cidade pagã, bem como foram dispersos para várias regiões. Trata-se da segunda Diáspora (dispersão) do povo judeu.

O judaísmo subsistiu através da corrente farisaica, liderada pelo Rabino Akiba.”[3] Mais tarde, em 132 E.C., outra liderança judaica surgiu no meio do povo, Bar Kochba, que liderou uma revolta, logo sufocada por Roma. Após esse fato, Jerusalém foi novamente reconstruída pelo imperador Adriano, recebendo o nome de Aélia Capitolina. Os judeus foram proibidos de permanecer na cidade. Muitos deles fugiram para o Egito e Oriente, passando a ser chamados de judeus da Diáspora. Muitos outros foram escravizados ou levados para Roma.

O império romano bizantino no Oriente: cristãos ocupam as terras

Com a perseguição de cristãos no Império Romano, nos séculos seguinte, a região ficou sem a presença de judeus e cristãos. No entanto, quando o império romano assume o cristianismo como religião do estado, com o imperador Constantino, filho de Santa Helena, o cristianismo chega à Terra Santa. Nasce o domínio bizantino (330-630). O império romano expande para o oriente, passando a ser chamado de império romano no oriente ou império bizantino, em homenagem à cidade de sua sede, Bizâncio, mais tarde, Constantinopla, hoje, Istambul, na Turquia. A Terra Santa passa a ter a sua vida política e religiosa controlada pelos bizantinos. Igrejas são construídas. Desenvolve-se a arte bizantina na região.

Com Maomé nasce o islamismo que domina os cristãos da região

Com o nascimento da religião islâmica com Maomé, nascido em 570 E.C., recebe em 610 da E.C., num retiro, uma mensagem divina por meio de uma visão, na qual o anjo Gabriel lhe revela a sua missão profética de pregar a todos.  Maomé se intitulava pregador das palavras de Deus e portador das mensagens de Deus para a humanidade. Mensagens essas que se basearam na fé em um único Deus, na ressurreição dos mortos e na felicidade eterna.[4] Maomé morre em 632, na cidade de Meca, para onde voltara com poderes em 630. Com a sua morte, o islamismo se impõe definitivamente como religião universal. Em 614 a.E.C., os árabes já haviam invadido cidades e implantado o islamismo desde a Arábia até a Pérsia. Jerusalém foi conquistada pelos califas e ali estes se estabeleceram com mesquitas e palácio. Os cristãos foram perseguidos na Terra Santa.

As Cruzadas reconquistam a Terra Santa para os cristãos

Muçulmanos dominam a Terra Santa até o dia em que surgiram as Cruzadas (1099-1291 E.C.). Elas nasceram com o objetivo de garantir a salvação para quem delas participasse, por meio de indulgências, e de resgatar dos muçulmanos os lugares santos para a Igreja. O Papa Urbano II, no Concílio de Clermont, na França, em 1095, conclamou os cristãos a retomarem os lugares santos. Nesse propósito, interesses particulares, políticos e religiosos se misturaram. Ao chamado papal se alistaram 100.000 pessoas, as quais partiram para Jerusalém sob a liderança de Godofredo de Bouillon. Sete cruzadas foram realizadas. Somente a primeira chegou à Palestina. Elas dominaram o norte da África, a Palestina e a Síria. Chegaram a ter quatro reis. Alguns deles estão sepultados no Santo Sepulcro, em Jerusalém. Dessa organização surgiram várias ordens, como a de Malta, a dos Templários e a do Santo Sepulcro.

Os cruzados, representantes da Igreja poderosa das armas do ocidente, deixaram suas marcas indeléveis na Terra Santa, vindo a cognominar os católicos romanos da região de Igreja Latina, o que permanece até os nossos dias. Ainda hoje, Jerusalém não é uma diocese, mas o patriarcado latino da igreja romana. Os cruzados prepararam a Terra Santa para receber os peregrinos.

Os enviados foram revestidos de um manto, receberam uma espada e uma cruz, daí o nome cruzados. Cruzando desertos e perigos, peregrinando em direção à Terra Santa, eles aí chegaram e construíram castelos e fortalezas, refizeram santuários destruídos e construíram outros. Em todos os lugares, os cruzados tinham monges e religiosos para acolher os peregrinos. Em 1187, o sultão Saladino reconquistou Jerusalém para os muçulmanos. Outras cruzadas surgiram para enfrentá-lo. Esse permitiu que somente os cristãos pudessem entrar em Jerusalém.

A dinastia muçulmana dos Mamelucos domina a Terra Santa

Outra etapa de dominação surge na região com os mamelucos (1250-1516 E.C). Os mamelucos formavam a dinastia muçulmana do Egito. A tomada da Terra Santa se deu pela ocupação de Akko, no norte de Israel, pelos turcos, em 1291. A Terra Santa, com o fim das cruzadas, passou para o controle dos mamelucos, que não se interessaram muito pela região. Esses foram permissivos para com os cristãos. Foi nesse período que começou a prática entre os cristãos de fazer uma coleta para a Terra Santa, com o objetivo de manter e conservar os lugares santos. Assim, com a ajuda dos cristãos do mundo inteiro, os lugares santos foram sendo comprados e repassados aos franciscanos.

Os turcos otomanos dominam a Terra Santa

Os turcos otomanos venceram os mamelucos, conquistaram Constantinopla, mudando o seu nome para Istambul. Os otomanos construíram as portas e muralhas de Jerusalém, as quais permanecem em nossos dias. O império Otomano dominou por muitos séculos o Oriente Médio (1516 a 1917). Com o seu fim, durante a Primeira Guerra Mundial, a região ficou dividida entre ingleses (Kuwait, Iraque, Jordânia e Palestina) e franceses (Líbano e Síria).

Os ingleses expulsam os árabes e dominam a região

Os ingleses, em uma guerra travada em Meguido, expulsaram os turcos da Terra Santa. Era a época da Primeira Guerra Mundial (1917). Os turcos eram aliados aos alemães. Os árabes, aos ingleses. Os árabes esperavam retomar o governo da Terra Santa. Os ingleses, por interesses econômicos, aí permaneceram até a criação do Estado de Israel, ocorrida no dia 18 de julho de 1948. Em 1923, os ingleses já haviam reconhecido a Transjordânia como um emirado árabe autônomo, tendo Amã como capital.

O sionismo e o estado Judeu na Palestina

No final do século XIX, surge na história de Israel um personagem que muito contribuiria para o surgimento do estado de Israel. Trata-se do jornalista húngaro Theodor Herzl. Ele fundou, em 1892, o movimento sionista, em referência ao monte Sião, onde está situada a Jerusalém bíblica, mais precisamente o templo de Salomão, construído no IX a.E.C.

Herzel escreveu o livro “O Estado Judeu”, no qual defende a ideia de se criar um estado judeu, um lar para abrigar os judeus dispersos pelo mundo, na segunda Diáspora. Muitos judeus se sentiram atraídos pela teoria de Theodor Herzl, visto que eles sofriam com o antissemitismo.

Na inspiração sionista, muitos judeus acabaram migrando para a região, mais de 50 mil entre o final do século XIX e início do século XX. Esses novos judeus são constituídos de valores éticos e culturais assemelhados. Nem todos eram praticantes do judaísmo tradicional. Ainda hoje, muitos judeus não são religiosos.

A longa diáspora criou vários grupos judaicos, como os Sefarditas (Espanha, Itália, Turquia e França); os Ashkenazim (descendentes de alemães e da Europa Oriental) e os Mizrachim (Irã, Iraque, Síria e Egito). O sionismo uniu essas várias etnias e raças, com o objetivo de encontrar uma terra para um povo sem terra.

Um dos objetivos do Congresso Sionista, realizado em 1897, que decidiu pela criação do estado de Israel, era a de encontrar uma terra desabitada para criar uma pátria para os judeus. Ela poderia ser na Patagônia (sul da Argentina), na África (Congo ou Uganda) ou na ilha de Chipre. A decisão final foi pela Palestina, que já estava habitada pelos árabes.[5]

A escolha da Palestina corroborava para fortalecer a memória milenar da terra que Deus deu como dom ao povo judeu. Isso poderia contribuir para fortalecer o estado judeu, ainda que ele fosse laico por princípio. O discurso religioso sustentaria a criação do estado. Abraão chegou a Canaã (Palestina) e fez mesmo. Não seria diferente com os judeus que sonhavam voltar para a terra de seus pais. Nisso está a origem de conflito que dura até os nossos dias.

No início, com a chegada dos sionistas, os quais criaram cooperativa socialistas, chamadas de Kibutz, havia uma convivência pacífica entre judeus e população local. Os atritos entre judeus e árabes começaram a partir da Primeira Guerra Mundial, de 1914 a 1917.

A proposta de criação do estado de Israel pela ONU

Em 1937, após uma greve árabe, o governo inglês propôs a divisão da região entre judeus e árabes. A proposta foi aceita pelos judeus e rejeitada pelos árabes. Veio a Segunda Guerra Mundial e os conflitos aumentaram.

Em 1947, os ingleses transferiram o conflito para a Organização das Nações Unidas (ONU) resolver. Por meio de proposta vinda de uma comissão da ONU, a de criar um estado judeu com 5500 hectares, 53% do total (60% no
deserto do Neguev) para 538 mil judeus e 397 mil árabes, e outro árabe, o estado Palestino, com 4500 hectares, 47% do total, para 804 mil árabes e 10 mil judeus, bem como a internacionalização de Jerusalém. A ONU votou e aprovou tal proposta em 29 de novembro de 1947 por 33 votos a favor, 13 contra e 10 abstenções.

Resistência à proposta e declaração de independência por David Ben Gurion

Mediante resistências dos árabes e do movimento palestino contra a divisão, pois eles perderiam a metade de suas terras, David Ben Gurion declarou a independência do Estado judeu na Terra de Israel no do dia 14 de maio de 1948. Nesse mesmo dia, os ingleses deixaram a região, e a questão passou a ser discutida entre judeus e árabes. Tel-Aviv foi proclamada por David Ben Gurion a capital do país. Israel se estabeleceu na parte ocidental da Terra Santa, e os palestinos, na oriental (Cisjordânia).

Muitos judeus refugiados, perseguidos pelo antissemitismo, imigraram para Israel. Ben Gurion iniciou um processo de limpeza étnica. Muitos palestinos morreram nesses confrontos. Ele queria retomar o velho Israel da época de Davi. A criação do estado de Israel teve apoio dos Estados Unidos e Rússia. Posteriormente, Israel se alia aos Estados Unidos.

Israel invade militarmente as áreas destinadas ao estado da Palestina

Logo após a criação de Israel, em 1948, uma nova guerra foi travada entre árabes e judeus até dezembro de 1949. Nas suas incursões militares, Israel invadiu territórios palestinos. De apenas 7% de todo o território, Israel chegou a 80% e não conseguiu dominar toda a cidade de Jerusalém, ficando esta sob o domínio jordaniano.

Uma leva de mais de 750.000 palestinos se tornaram refugiados, perdendo tudo que tinham. Nunca mais voltaram para as suas terras. Hoje, estima-se que são mais de 4 milhões de palestinos vivendo como refugiados de guerra em campos na Síria, Faixa de Gaza, na Cisjordânia, no Líbano, na Jordânia etc.

Guerra de Israel com o Egito e Líbano

Em 1956, Israel invadiu a península do Sinai, tendo que sair posteriormente. Em 1964, nasce, sob a liderança de Yasser Arafat, um grupo político e militar de defesa dos direitos palestinos, o Fatah.

Em 1967, durante a guerra dos Seis Dias, Israel conquistou as colinas do Golan, que ficam na região norte (Síria), o Sinai e a Faixa de Gaza e toda a Cisjordânia. Mais tarde, o Sinai foi devolvido ao Egito. Em 1973, Egito e Síria atacaram Israel, que contra-atacou e recuperou o território perdido.

Nasce OLP em defesa dos palestinos

Em 1974, Yasser Arafat criou uma entidade política e paramilitar palestina, que levou o nome de Organização pela Libertação da Palestina (OLP). Em 1979, Israel e Egito assinaram um tratado de paz.

Em 1981, Jerusalém voltou a ser a capital de Israel. Muitas embaixadas, no entanto, preferiram permanecer em Tel-Aviv. Atualmente, Jerusalém Nova passa por um período de modernização de grande impacto econômico e social.

Israel cria assentamentos para colonizar terras palestinas, o que propiciou o surgimento de Intifadas

Governos israelenses, a partir de então, iniciaram um processo de criação de assentamentos judaicos para colonizar as regiões tomadas por Israel e criar um bloqueio aos palestinos. Para muitos judeus essa criação de assentamentos apressaria a vinda do Messias.

Entre 1987 e 1991, Israel conheceu os embates populares entre judeus e palestinos, chamados de Intifadas e definidos como revolta popular árabe contra a invasão israelense na faixa de Gaza e na Cisjordânia. Os árabes e palestinos saíam nas ruas atirando pedras nos populares. Os palestinos reclamavam direito à cidadania.

Vários países se opuseram a Israel, que teve de ceder e caminhar para um acordo com as representações dos palestinos. As Intifadas foram retomadas em 2000, quando militantes palestinos começaram a disparar foguetes de Gaza contra Israel.

Nasce o Hamas, em Gaza, com a proposta de criação de um estado palestino islâmico

Na primeira Intifada, a de 1987, nasce na Cisjordânia, o grupo de resistência palestino, conhecido como Hamas, que se tornou um partido político e defensor da criação de um estado palestino islâmico, entre o rio Jordão e o mar Mediterrâneo. Seu fundador é o Sheikh Ahmed Yassin, morto em 2004, vítima de ataque israelita em Gaza. Atualmente, o Hamas luta por um Estado Palestino em Gaza, Cisjordânia e Jerusalém oriental. O Hamas quer um estado muçulmano. Gaza já teve a presença judaica, hoje, não mais. O Hamas tem a vertente política, militar e ação social.

O Hamas tem sua origem nos grupos muçulmanos sunitas. Hamas, em árabe, significa “Movimento de Resistência Islâmica”. Esse grupo, no seu estatuto, não aceita a presença de judeus e israelenses na região. Eles defendem a aniquilação deles para a criação do Estado Palestino.

Hamas afirma que a luta não é contra o povo judeu, mas contra os “agressores sionistas de ocupação”. A Brigada Izz el-Deen al-Qassam é o braço armado do Hamas, que conta, hoje, com mais de 40 mil combatentes. O Hamas é um braço da Irmandade muçulmana, do início do século XX, em 1928, no Egito. O Irã apoia o Hamas em oposição à presença dos Estados Unidos e Europa no Oriente Médio.

O Hamas não tem diálogo com a Autoridade Palestina, que controla as outras regiões palestinas dentro de Israel. A Autoridade Palestina é controlada por outro grupo de resistência, o Fatah, que é oposição ao Hamas, de origem xiita. Esses dois grupos se opõem, mas têm um inimigo comum, estado de Israel.

Na Faixa de Gaza, território pequeno de 360km quadrado, comporta, atualmente, uma população de mais 2 milhões de palestinos, os quais vivem cercados por Israel, na pobreza, sem trabalho etc., assim como Belém, na Cisjordânia.

O Hamas recorda o grupo de resistência armada ao império romano, chamado de Zelotas, durante a guerra judaica, entre 67 e 70 E.C.

O acordo de Paz em Oslo

Em 1993, Israel e a Organização para a Libertação da Palestina (OLP) assinaram acordo em Oslo. Israel deixou parte dos territórios palestinos. A população palestina passou a ser controlada pela Autoridade Palestina.

Em 1994, em Washington, o então presidente dos EUA, Clinton, logrou que Yasser Arafat e o primeiro-ministro de Israel, Yitzhak Rabin, assinassem um acordo de paz, pondo fim à guerra. Surgiu a possibilidade de criação do Estado Palestino.

Em 1995, quando um judeu radical assassinou o primeiro-ministro de Israel, Yitzhak Rabin, o acordo de paz caminhou para o fim. Esse judeu dizia que ceder seria perder a bênção divina de terra para Israel. Surgem os homens bombas, liderados pelo Hamas, para não aceitar o Acordo de Oslo. Hamas não aceita o Estado de Israel.

Novas tentativas de criação do estado da Palestina

No ano de 2000, houve uma nova tentativa de acordo entre Israel e Palestina com a criação de dois estados. Os palestinos não aceitaram. O ministro israelense Ariel Sharon visitou o Domo da Rocha e a Mesquita do Al-Aqsa, em Jerusalém, o que foi considerado uma afronta aos palestinos. Israel iniciou o processo de cercar os palestinos em seus territórios de resistência, como a Faixa de Gaza e Belém.

Em 2003, em Genebra, uma nova tentativa de criar o estado palestino foi feita. A proposta não foi aceita em Israel.

Israel cerca Belém e Gaza. Hamas governa Gaza

Em 2004, morre Arafat e instaura-se a luta pelo poder entre os palestinos, sob a liderança de Mahmoud Abbas. Duas organizações pró-Palestina, OLP e Hamas, se tornaram inimigas. Israel inicia, nessa mesma época, a construção de um muro em Belém e em outras regiões do país com o discurso de proteger o país. Desde então, o mundo protesta, mas Israel continuou a sua obra. Outros muros de “Berlim” estavam sendo construídos.

Em 2005, Israel retirou todos os seus assentamentos e forças militares da Faixa de Gaza. Em 2007, o grupo Hamas passa a governar Gaza, e o Fatah, a Cisjordânia.

Com Benjamim Netanyahu há um retrocesso no processo de paz

Em 2009, com a eleição de Benjamin Netanyahu, o curso da paz entre israelenses e palestinos sofreu novamente um retrocesso. Nesse mesmo ano, Israel bombardeou Gaza.

Em 2010, o presidente norte-americano Barack Obama sinalizou a preocupação de restabelecer a paz no Oriente Médio por meio de uma tratativa de paz. Em 2011, o presidente palestino Mahmoud Abbas discursou na Assembleia Geral da ONU a favor do reconhecimento da Palestina como estado e membro com plenos direitos na referida instituição. Afirmou Mahmoud: “O objetivo do povo palestino é a realização dos inalienáveis direitos nacionais do Estado independente da Palestina, com Jerusalém Oriental como sua capital, e todas as terras da Cisjordânia, incluindo Jerusalém Oriental e Gaza”.

O Primeiro-Ministro de Israel Benjamin Netanyahu respondeu: “Os palestinos devem primeiro alcançar a paz com Israel e, em seguida, obter um Estado. Israel não será o último a acolher um Estado palestino na ONU. Vai ser o primeiro”. Devido ao veto dos Estados Unidos no Conselho de Segurança da ONU, argumentando que o reconhecimento do Estado Palestino quebraria as negociações de paz no Oriente Médio, a ONU negou o pedido palestino. Por outro lado, semanas depois dessa negativa, em 31 de outubro, uma das entidades da ONU, a Unesco (Organização das Nações Unidas para a Ciência e a Cultura) aprovou a admissão da Autoridade Nacional Palestina (ANP) como membro de pleno direito, com 107 votos a favor, 14 contra e 52 abstenções.

Dez considerações finais sobre o presente desse conflito milenar

  1. A história bíblica do conflito entre Israel e Palestina revela a herança do pensamento de que se pode matar em nome do Sagrado. Guerra é fruto da violência humana. A violência gera violência. Outros terroristas surgem. Outros violentos matam. A violência, então, faz parte da condição humana? Sim. A origem da violência está em cada um de nós e na relação que mantemos com o sagrado. O uso arbitrário do poder origina a violência, que, por sua vez, gera a injustiça, a insegurança e o afastamento de Deus.
  2. O Hamas e Israel estão agindo com violência. Em ambos os lados têm surgido grupos radicais religiosos judaicos e muçulmanos. A atitude terrorista do Hamas é indefensável e inadmissível. O Hamas não representa o pensamento da grande maioria do povo palestino.
  3. Por outro lado, o mais longevo e atual Primeiro-ministro de Israel Benjamin Netanyahu (1996-99, 2009-21, e desde janeiro de 2023) tem recebido duras críticas em relação à condução do país e nas negociações com o mundo árabe.
  4. O sionismo do atual governo é uma doutrina racista de supremacia judaica que coloniza tirando as terras dos palestinos destinada à criação do Estado da Palestina. O sionismo mata, o estado de Israel mata os palestinos da Faixa de Gaza.
  5. Dizer que Israel somente contra-ataca não é de todo verdadeiro. Palestinos têm, tanto quanto Israel, direito à terra e a vida com dignidade. Israel é, atualmente, uma referência mundial de um país que deu certo na tecnologia, na ciência, na defesa etc. Na outra ponta da linha, palestinos vivem na pobreza e à mercê de favores.
  6. Israel tem o apoio dos Estados Unidos, visto que a sua posição geopolítica é fundamental para a presença dos USA na região, como porta, ponto de resistência aos países árabes, sobretudo o Irã. No passado recente, havia interesse do petróleo do Oriente pelos Estados Unidos. Hoje, ele consegue tirar petróleo de outros modos e tem controle sobre os postos de petróleo do Iraque.
  7. Após um longo processo de aparente paz, o conflito entre Israel e Palestina, sob a liderança do Hamas, volta com vigor e de forma sangrenta. Enquanto não houver diálogo entre as partes, uma solução não virá. Há atrocidades em ambos os lados. Diálogo entre radicais é muito difícil, quase impossível. Há dificuldades de encontrar interlocutores para dialogar com o Hamas.
  8. A criação de dois estados seria a melhor solução? Alguns especialistas falam de um estado com duas nacionalidades. Não vejo como melhor solução, pois há na região uma rejeição mútua entre judeus e palestinos. Ambos se sentem lesados e donos de uma mesma terra.
  9. Em nível mundial há os que defendem, com razão, o direito à terra pela população palestina. Israel não pode manter-se intransigente nas negociações por paz no Oriente Médio, local onde, secularmente, o Oriente e Ocidente se encontram nos seus interesses. Israel apoia a criação de dois estados, mas não cria possibilidade para que isso aconteça, criando, por exemplo, as colônias judaicas.
  10. O acordo está longe de acontecer. Ele exige muita renúncia de ambas as partes. Quem vai ceder? Enquanto isso, pobres inocentes civis morrem pelas armas de uma guerra sem fim. O momento é de muitas dúvidas e incertezas em relação ao futuro desses dois povos irmãos na sua origem.

Fonte: Franciscanos

 

 


Referências bibliográficas

ALTMAN, Breno. O que é o sionismo. Disponível em:  https://www.youtube.com/watch?v=buJTNr7LDy8  Acesso 17 out. 2023.

BINGERMER, Maria Clara Luccchetti. Violência e Religião. Cristianismo, Islamismo e JudaísmoTrês religiões em confronto e diálogo. Rio de Janeiro: Loyola/Puc-Rio, 2001.

FARIA, Jacir de Freitas. Israel e Palestina em três dimensões: história, geografia e cultura/judaísmo, cristianismo e islamismo. 3. ed. Belo Horizonte: Província Santa Cruz, 2010.

FARIA, Jacir de Freitas. Apócrifos aberrantes, complementares e cristianismos alternativosPoder e heresias3 reimpressão. Petrópolis: Vozes, 2022.

Videotexto desse artigo está disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=wi21XWDbuec&t=413s

[1]Doutor em Teologia Bíblica pela FAJE (BH). Mestre em Ciências Bíblicas (Exegese) pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma. Professor de Exegese Bíblica. É membro da Associação Brasileira de Pesquisa Bíblica (ABIB). Sacerdote Franciscano. Estudou em Jerusalém, na École Biblique. Autor de dez livros e coautor de quinze. Youtube: Frei Jacir Bíblia e Apócrifos. https://www.youtube.com/channel/UCwbSE97jnR6jQwHRigX1KlQ

[2] FARIA, Jacir de Freitas. Israel e Palestina em três dimensões: história, geografia e cultura/judaísmo, cristianismo e islamismo. 3. ed. Belo Horizonte: Província Santa Cruz, 2010.

[3] FARIA, Jacir de Freitas, Apócrifos aberrantes, complementares e cristianismos alternativosPoder e heresias! 2 ed. Petrópolis: Vozes, 2009, p. 56.

[4] BINGERMER, Maria Clara Luccchetti, Violência e Religião. Cristianismo, Islamismo e JudaísmoTrês religiões em confronto e diálogo. Rio de Janeiro: Loyola/Puc-Rio, 2001, p. 199.

[5] ALTMAN, Breno. O que é o sionismo. Disponível em  https://www.youtube.com/watch?v=buJTNr7LDy8 Acesso 17 out. 2023.

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