O desafio da autossustentabilidade da Pastoral Juvenil

Foto de Francisco Xavier em Cathopic

Por Dom Antônio de Assis Ribeiro
Bispo auxiliar da Arquidiocese de Belém/PA

 

Introdução

autossustentabilidade é a condição pela qual uma instituição (ou indivíduo) busca o seu equilíbrio existencial para manter-se “de pé”, dinâmico e atuante. Muitos fatores concorrem para isso, além da própria vontade. A ausência da sustentabilidade gera desequilíbrio, perda, enfraquecimento, queda, paralisia e morte!

A autossustentabilidade significa o esforço próprio de uma instituição ou de um sujeito em vista da manutenção do seu dinamismo. Instituições insustentáveis estão a caminho da falência porque não conseguem providenciar aquilo que é necessário para a sua subsistência e cumprir sua missão.

O termo autossustentabilidade nos fala de dinamismo da vida de um sujeito. Os antigos gregos definiam o fenômeno vida como “autopoiesis”, ou seja, aquilo que tem dinamismo próprio, que se move por si mesmo, que é capaz de reproduzir-se, movimentar-se etc. De fato, é assim o mistério da vida! Mas autossustentabilidade não é sinônimo de autossuficiência. A autossustentabilidade é um fenômeno interativo; a autossuficiência significa a pretensão de bastar a si mesmo. Esse é um tema muito significativo numa perspectiva pastoral. Dessa forma podemos falar da autossustentabilidade de uma diocese, prelazia, paróquia, movimento, grupo e também das pastorais. Quando não há esforço para a continuidade e manutenção daquilo que fazemos, certa será a sua crise, o esvaziamento, o envelhecimento, a redução de vigor e a morte.

  1. A autossustentabilidade econômica da Pastoral Juvenil

A pastoral tem uma dimensão econômica e administrativa. Isso deve ser levado a sério, porque sem essas dimensões as atividades não têm “combustível” para se manterem. Na área pastoral tudo aquilo que formos promover necessita de recursos financeiros, materiais, técnicos, didáticos, esportivos etc. Também a promoção da liturgia tem um custo, pois necessitamos de velas, vestes, papel, vinho, hóstias, energia elétrica etc. Tudo tem custo. Nada cai do céu de graça! Por isso, não basta sonhar, é preciso organizar-se estrategicamente para termos os recursos necessários para a promoção e estabilidade do dinamismo pastoral.

A vitalidade de uma pastoral se expressa concretamente através de atividades, eventos, processos, formação, ambientes preparados; isso implica o uso de materiais como, equipamentos, transporte, material de consumo etc. Quem providencia o que é necessário e de onde vem os recursos?

Nem sempre a administração paroquial tem recursos financeiros suficientes para subsidiar todas as despesas ordinárias de manutenção, pessoal, as demandas dos grupos e das diversas pastorais. Isso significa que será necessário que cada pastoral assuma uma postura criativa, empreendedora e estratégica para que possa captar os recursos dos quais precisa para o pleno desenvolvimento das atividades previstas, renovar-se e ainda avançar sempre mais. Quando faltam os recursos, em geral, a tendência é a redução das atividades.

Os jovens deverão ser estimulados e educados para que não sejam dependentes, assumindo uma postura passiva diante das próprias necessidades pastorais e sonhos. Isso também faz parte do protagonismo juvenil. Uma pastoral bem organizada, com dinamismo empreendedor, vence com facilidade os obstáculos econômicos. Já está constatado pelo mundo afora, que onde não há recursos econômicos disponíveis também não há dinamismo pastoral.

  1. A necessária mudança de cultura

Por muitos anos as atividades pastorais da Igreja eram sustentadas através de projetos subsidiados por instituições europeias. Todavia, essa realidade mudou completamente. É chegada a hora da corresponsabilidade do povo. Até mesmo a Pastoral da Juventude viveu por muito tempo nessa dependência e um dos fatores do seu atual enfraquecimento nacional tem uma dimensão financeira.

É chegada a hora da mudança de cultura, atitudes e estratégias! Por isso a perspectiva da autossustentabilidade da pastoral juvenil, visa sensibilizar, animar e educar os jovens para o compromisso com a dimensão econômica na promoção da evangelização dos outros jovens. Quando a corresponsabilidade econômica é promovida se estimula a captação de recursos através de muitas formas. Entram nesta dimensão a busca de amigos, colaboradores, apoiadores, parceiros, patrocinadores, dizimistas…

A mudança da cultura da passividade e dependência deve ceder lugar à cultura empreendedora, da projetualidade administrativa, mentalidade orçamentária, visão estratégica e preventiva daquilo que devemos fazer. Isso é impossível, sem o incentivo do protagonismo juvenil. O protagonismo juvenil tem uma dimensão administrativa e financeira.

  1. Algumas dificuldades

Em geral os jovens vivem numa fase em que não dispõe de recursos próprios porque, em geral são estudantes, e dependem de seus pais. Quando não, vivem do subemprego e, como autônomos, recebem poucos recursos para a própria manutenção. A pastoral juvenil é naturalmente dinâmica e, isso, requer recursos financeiros.

Constata-se que, muitas vezes, em diversos contextos, a pastoral juvenil fica atrofiada, enfraquecida e reduzida por causa da falta de investimentos. Sem recursos, os jovens caem na dependência, são alvos de antipatia, rotulados, vistos como peso para a paróquia. Duas questões devem ser aprofundadas: de um lado é a necessária promoção do protagonismo juvenil que tem muitas dimensões e, por outro, o necessário apoio dos líderes de base, párocos e bispos, capazes de educar os jovens, orientá-los, desafiá-los, acompanhá-los, ajudá-los concretamente a saberem buscar recursos com inteligência pastoral.

Apesar das dificuldades, na verdade, há muitas possibilidades a serem consideradas apara a consolidação da autossustentabilidade da pastoral juvenil. Vejamos algumas possíveis iniciativas:

  • Formar os jovens para que cresçam na compreensão da cultura projetual; não basta ter ideias, é necessário considerar a necessidade de processos executivos das atividades;
  • Favorecer o crescimento dos jovens na cultura orçamentária; isso significa considerar o fato de que tudo tem um custo e é necessário prever os investimentos;
  • Não basta ter boas ideias, é importante que os jovens aprendam a elaborar projetos de acordo com as necessidades, considerando tudo o que é importante para a sua execução com bons resultados;
  • Articular estratégias variadas de captação de recursos financeiros; uma podem ser ocasionais, outra permanentes;
  • Muitas formas de captação de recursos por parte dos jovens são possíveis promover em vista da manutenção da pastoral juvenil, tais como: promover pequenas iniciativas pastorais a partir de projetos autossustentáveis de evangelização; estimular o crescimento na conscientização dos jovens sobre a importância da cultura do voluntariado e da solidariedade dos próprios jovens, das famílias e instituições católicas;
  • investir em meios e eventos extraordinários de geração de receitas como venda de produtos, eventos, confecção e venda de objetos; contribuição mensal dos jovens e de parceiros amigos dos jovens;
  • Negociação de parcerias e ou permutas com governo municipal, empresas e outras instituições;

Jesus Cristo, educou o povo a saber partilhar e o responsabilizou diante das próprias carências, não deixando que os apóstolos fossem buscar recursos em outros lugares (cf. Mc 6,34-44). O evangelista Lucas conta que Jesus e os doze contavam com um grupo de mulheres que auxiliavam em suas necessidades (cf. Lc 8,3). A pastoral juvenil deve ter seus colaboradores. Mas isso deve ser planejado. Também São Paulo estimulou o povo a cultivar a atitude de autossustentabilidade na evangelização; com seus esforços sempre procurou manter sua missão por onde passava (cf. At 20,35;1Cor 9,6-14; Gal 6,6; 2Ts 3,9). Confiar na Divina Providência é essencial e fazer com inteligência estratégica o que podemos é necessário.

PARA REFLEXÃO PESSOAL:

  • O que significa a autossustentabilidade pastoral?
  • Quais dificuldades a autossustentabilidade da pastoral juvenil deve enfrentar?
  • Quais são as consequências da cultura da passividade e da dependência na pastoral?

Fonte: CNBB Norte 2

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