O belíssimo cortejo dos Santos

Neste domingo, 7 de novembro, a Igreja no Brasil celebra a Solenidade de Todos os Santos. Abaixo, uma reflexão do Frei Almir Guimarães: “Nós, discípulos de Jesus, somos chamados à santidade”.

 

A santidade é uma grande paixão. Nela há qualquer coisa da loucura do amor, a própria loucura da cruz que desconsidera os cálculos e a sabedoria dos homens. (Pierre Claverie).

Os santos são pessoas que se viram livres de si mesmas, de tanto se doarem aos outros (Ambroise-Marie Carré, op).

Existe apenas uma tristeza: a de não ser santo (Léon Bloy)

 

Novembro dos agapantos, da comemoração dos falecidos que deixaram tanta saudade em nossos corações, festa de todos os santos, desses habitantes do país onde o sol brilha sempre e onde todas as lágrimas serão enxugadas, onde a terra e o céu se encontram. João Crisóstomo, Terezinha de Lisieux, Pedro de Alcântara, Francisco de Assis, Edith Stein, João Paulo II, Isabel da Hungria, Oscar Romero. E tantos outros santos anônimos: Dona Cremilda, seu Zezinho, Ana Lucia. Jovens de coração reto, casais impecáveis, sacerdotes zelosos, médicos dedicados, motoristas atenciosos, plantadores de soja, enfermeiros balconistas. Muitos nunca terão imagens nas igrejas, nem serão padroeiros de paróquias, mas já circulam hoje nos espaços da glória de Deus.

Nós, discípulos de Jesus, somos chamados à santidade. Não fomos feitos para um cristianismo de rotina, de ritos, do frio elenco de doutrinas. A santidade não tem a ver com “halterofilismo espiritual”. Não é resultado de meros empenhos pessoais. É o Senhor que nos santifica porque só ele é santo. Temos as marcas do pecado que torna seres dilacerados. Os santos são obras primas do amor de Deus.

É o Altíssimo que nos santifica. Aos poucos homens de todos os tempos, todas as raças e nações foram deixando espaço para que Deus deles se apossassem. Foram se achegando a Cristo e deixaram o amor do Senhor manifestado no peito aberto no alto da cruz e na água que saiu do peito do Senhor os lavasse.

As bem-aventuranças de Mateus, de alguma forma, traçam o perfil do santo segundo o coração de Deus.

Os pobres de coração são aqueles se colocam na dependência do Senhor. Eles foram se libertando e se livrando de todas as coisas que atravancavam sua vida. Foram sendo libertados de vaidades, complacências e riquezas de toda sorte. Pobres de ideias fixas. Capazes de acolher o diferente. Pobres por dentro e por fora. Pobres que vivem na dependência de Deus. Seres leves e transparentes. Capazes de dar aos outros a plenitude de sua atenção.

Os não violentos, os mansos possuirão a terra. Quanta violência! Violência de prisões arbitrárias de ladrões de galinha, atentados, torturas, assassinatos. Cenas horríveis. Os que buscam ser fiéis à ação de Deus neles vão se livrando da cólera, da agressividade. Os mansos procuram convencer e não vencer. Aprendem a se desarmar. Sabem que existe uma força nos meios frágeis.

Os que choram serão consolados. Certamente o olhar do Senhor se volta para os que choram. No Evangelho vemos Jesus ter imensa compaixão pela viúva de Naim que enterrava seu filho único. As lágrimas dizem a alma não se enrijeceu. Os santos mostram ternura para com os aflitos, ajudam-nos a carregar seus fardos. Recolhemos as lágrimas de Deus no rosto dos que sofrem. Todos os soluços através dos tempos serão recolhidos no mundo definitivo do Reino.

Os santos não se contentam com isso ou aquilo, este alimento meio leve e essa água não tão transparente. São famintos e sedentos de plenitude, de santidade. Os santos, na fé, contemplam a Face do Senhor. Nunca estão plenamente satisfeitos. A samaritana que encontrou Jesus no poço tinha dentro dela uma sede diferente daquela que é apaziguada pela água. Felizes os que têm fome e sede de Deus. Felizes os santamente inquietos.

Deus é misericórdia. Ele se volta para os corações pequenos e carentes de tudo. Misericórdia é o nome de Deus. Nós, pobres mortais e viandantes errantes calculamos, julgamos, condenamos. Contabilizamos as ofensas e preparamos revanches. Deus perdoa, confia. Não conhece o dar quando se recebe.

Profunda e encantadora esse pensamento-oração de Gilbert Cesbron: “Tu que, alegremente acolhes o filho pródigo, que tudo deixas de lado para buscar a ovelha perdida, que prestas atenção no operário da undécima hora num fantástico ato de fé, esperança e caridade. Deus de ternura e generosidade, do sorriso e da gratuidade, dá-nos a loucura da Misericórdia”.

Os santos lutam por manter a transparência do olhar. O coração deixa de ser puro pela inveja, ambição, hipocrisia e desejo de posse das pessoas. Deseja que seu coração seja como água pura. Pureza e transparência. Nada de preconceitos, nem espírito de cálculo. Puros de coração, de corpo e de mente. Uma tal transparência que as pessoas podem ver no olhar do santo, ou do que tende à santidade, a claridade do olhar de Deus.

Os santos, os que buscam ser santos, trabalham pela paz e são chamados filhos de Deus. A paz precisa, antes de tudo, ser estabelecida em nosso interior, não como um armistício mas como conquista de nossas fraquezas e contradições. Reconciliando-nos conosco mesmos procuramos os outros e lutamos com nossas forças contra privilégios, opressão e desordens estabelecidas. Os santos batalham pela busca da paz inseparável da justiça. Num mundo de tantos conflitos os santos mais bonitos são certamente são aqueles que trabalham pela reconciliação.

Há ainda a bem-aventurança dos perseguidos por causa do nome de Jesus. E quantos!!! Esses todos lembram Jesus, o justo que sofreu. Esses têm em seu rosto fortes traços do semblante de Jesus.


Oração

Felizes os que têm espírito de pobre, os que sabem viver com pouco.
Terão menos problemas, estarão mais atentos aos necessitados e viverão com mais liberdade.

Felizes os mansos porque esvaziaram o coração da violência e da agressividade. Constituem uma dádiva para nosso mundo violento

Felizes os que choram por verem os outros sofrer. São pessoas boas. Com elas podemos construir um mundo mais fraterno e solidário.

Felizes os que têm fome e sede de justiça porque não perderam o desejo de serem justos, nem a vontade de construir uma sociedade mais digna.

Felizes os misericordiosos porque sabem perdoar do fundo do coração. Só Deus conhece sua luta interior e sua grandeza. Eles nos ensinam a lição da reconciliação.

Felizes os que mantêm o coração limpo de ódios, falsidades e interesses ambíguos. Neles se pode confiar para construir o futuro.

Felizes os que trabalham pela paz sem desanimar.

Felizes os que são perseguidos, eles nos ajudam a vencer o mal com o bem.

Fonte: Franciscanos


FREI ALMIR GUIMARÃES, OFMingressou na Ordem Franciscana em 1958. Estudou catequese e pastoral no Institut Catholique de Paris, a partir de 1966, período em que fez licenciatura em Teologia. Em 1974, voltou a Paris para se doutorar em Teologia. Tem diversas obras sobre espiritualidade, sobretudo na área da Pastoral familiar. É o editor da Revista “Grande Sinal”.

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui