Nossa Senhora do Carmo: a virgem que nos reveste de graça

Ó Maria, formosura do Carmelo, tornai-me digno da vossa proteção, revesti-me com a vossa veste, sede a mestra da minha vida interior.

 

O nome de Nossa Senhora do Carmo está totalmente ligado a região do Monte Carmelo (em hebraico, “carmo” significa vinha; e “elo” significa senhor; portanto, “Vinha do Senhor”). Foi ali que os profetas Elias e Eliseu se refugiaram, tornando o lugar o cenário de um dos acontecimentos mais importantes do Antigo Testamento e onde se reuniram e juntos construíram uma pequena capela em homenagem a Nossa Senhora e por isso ganharam o nome de “Ordem dos Carmelitas”.

Esse local não foi escolhido à toa, já que é considerado um local sagrado, principalmente por conta das ações do profeta Elias que em questão teve como prova de Deus sua manifestação o defendendo e mostrando que era o único Deus.

Um tempo depois, a Ordem foi para a Europa onde enfrentaram tempos muito difíceis. Mas foi ali que São Simão Stock consagraria a história e origem do escapulário. O ano era 1251 e São Simão estava orando e pediu um sinal de proteção a Nossa Senhora contra os seus possíveis inimigos. Foi ali que recebeu dEla um escapulário com a promessa de proteção para todos aqueles que o usassem.

“Recebe, filho amado, este escapulário. Todo o que com ele morrer, não padecerá a perdição no fogo eterno. Ele é sinal de salvação, defesa nos perigos, aliança de paz e pacto sempiterno”.

Depois desse episódio, os carmelitas ficaram conhecidos como uma das maiores ordens da Igreja Católica.

A Santíssima Virgem é a Mãe que nos reveste de graça, que toma sob a sua proteção a nossa vida sobrenatural até garantir o seu pleno desabrochar na vida eterna. Ela, a toda pura, cheia de graça desde o primeiro instante da sua conceição, toma as nossas almas manchadas pelo pecado, e com um gesto maternal, lava-as no Sangue de Cristo, reveste-as da graça que, juntamente com Ele, nos mereceu. Bem podemos dizer que a veste da graça foi tecida pelas mãos benditas de Maria que, dia a dia, momento a momento, se deu inteiramente a si mesma, em união com o seu Filho, pela nossa redenção.

A lenda fala da túnica inconsútil que a Virgem teceu para Jesus; mas para nós fez realmente muito mais: cooperou para nos conseguir a veste da nossa salvação eterna, veste nupcial com que seremos introduzidos na sala do banquete celeste. Oh! como Ela quereria que esta veste fosse imperecível! Desde o momento em que a recebemos, Maria nunca deixou de nos seguir com o seu olhar maternal para proteger em nós a vida da graça. Cada vez que nos convertemos a Deus, nos levantamos de uma culpa — grande ou pequena — ou progredimos na graça, sempre o fazemos por intermédio de Maria.

O escapulário que a Senhora do Carmo nos oferece não é mais do que o símbolo exterior desta sua incessante solicitude maternal; símbolo, mas também sinal e penhor de salvação eterna. “Recebe, amado filho — disse a Virgem a S. Simão Stock — este escapulário… quem morrer com ele não padecerá o fogo eterno”. A Virgem assegura a graça suprema da perseverança final a todos os que usarem dignamente o seu escapulário.

“Quem usa o escapulário — disse Pio XII — faz profissão de pertencer a Nossa Senhora”; precisamente por lhe pertencermos, a Virgem tem um cuidado especialíssimo com as nossas almas: o que é seu não se pode perder, não pode ser tocado pelo fogo eterno. A sua poderosa intercessão maternal dá-lhe direito a repetir em nosso favor as palavras de Jesus: “Pai Santo… conservei os que me deste e nenhum deles se perdeu” (Jo 17, 12).

A devoção à Virgem do Carmo é também um premente apelo à vida interior, a essa vida que foi de modo especialíssimo a vida de Maria. A Virgem quer que sejamos muito mais semelhantes a Ela no coração e no espírito do que no hábito exterior. Se penetrássemos na alma de Maria, veríamos que a graça produziu nEla uma imensa riqueza de vida interior: vida de recolhimento, de oração, de ininterrupta doação a Deus, de contato contínuo, de união íntima com Ele. A alma de Maria é um santuário reservado só para Deus, onde nenhuma criatura humana jamais imprimiu a sua forma, onde reina o amor e o zelo pela glória de Deus e pela salvação dos homens.

Os que desejam viver plenamente a devoção a Nossa Senhora do Carmo devem seguir Maria nas profundezas da sua vida interior. O Carmelo é o símbolo da vida contemplativa, vida toda dedicada à busca de Deus, toda dirigida para a intimidade divina; e quem melhor realizou este ideal altíssimo foi a Virgem, Regina decor Carmeli. “No deserto habitará a equidade, e a justiça terá o seu assento no Carmelo. A paz será a obra da justiça e o fruto da justiça é o silêncio e a segurança para sempre. O meu povo repousará na mansão da paz, nos tabernáculos da confiança”.

Estes versículos de Isaías (cf. 32, 16-18) reproduzidos no Ofício próprio de Nossa Senhora do Monte Carmelo esboçam muito bem o espírito contemplativo e são, ao mesmo tempo, um belo retrato da alma de Maria, verdadeiro “jardim” (Carmelo em hebreu significa jardim) de virtudes, oásis de silêncio e de paz, onde reina a justiça e a equidade, oásis de segurança, todo envolto na sombra de Deus, todo cheio de Deus.

Toda a alma de vida interior, embora vivendo no meio do ruído do mundo, há de esforçar-se por alcançar esta paz, este silêncio interior que tornam possível o contato contínuo com Deus. São as paixões e os apegos que fazem barulho dentro de nós, perturbando a paz do nosso espírito e interrompendo o trato íntimo com o Senhor. Só a alma completamente desprendida e que domina inteiramente as suas paixões, poderá, como Maria, ser um “jardim” solitário e silencioso, onde o Senhor encontre as Suas delícias. É esta a graça que hoje devemos pedir à Senhora, escolhendo-a para padroeira e mestra da nossa vida interior.

Colóquio — “Ó Maria, flor do Carmelo, vinha florida, esplendor do céu, Virgem fecunda e singular, Mãe bondosa e intacta, aos vossos filhos dai privilégios, Estrela do mar!” (S. Simão Stock).

“Ó Virgem bendita, quem vos invocou nas suas necessidades, sem que tenha recebido o vosso socorro? Nós, vossos pobres servos, regozijamo-nos convosco por todas as vossas virtudes, mas pela vossa misericórdia regozijamo-nos conosco. Louvamos a virgindade, admiramos a humildade, mas para quem é miserável, a misericórdia tem um sabor muito mais doce. Abraçamos a misericórdia com maior ternura, lembramo-la muitas vezes, invocamo-la com mais frequência.

Por vós, ó Maria, enche-se o céu, o inferno esvazia-se, os que se extraviavam regressam ao bom caminho.

Com efeito, foi a vossa misericórdia que obteve a redenção do mundo e que, juntamente com as vossas orações, conseguiu a salvação de todos os homens. Portanto, ó bendita, quem poderá medir o comprimento e a largura, a altura e a profundidade da vossa misericórdia? A sua extensão chega até ao fim dos tempos para socorrer todos os que vos invocam; a sua largura envolve o mundo inteiro, de modo que toda a terra fica cheia da vossa bondade. A altura da vossa misericórdia abriu as portas da cidade celeste e a sua profundidade obteve a redenção dos que habitam nas trevas e nas sombras da morte.

Por vós, ó Maria, enche-se o céu, o inferno esvazia-se, os que se extraviavam regressam ao bom caminho. Assim a vossa poderosíssima e piíssima caridade derrama-se sobre nós com um amor compassivo e auxiliador” (S. Bernardo).

 

Fontes: Nossa Sagrada Família / Padre Paulo Ricardo

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