Milhares de pessoas armadas de amor, pela vida! – IV Romaria das Águas e da Terra

Não estamos sozinhos, ainda que na correria dos dias, ou na dor silenciosa de cada dia, por cada perda, nos sintamos, vez ou outra, solitários. E nem falo da companhia do Nosso Único Deus e Senhor – porque Ele, a gente querendo ou não, está entranhado no mais fundo de cada um.

Falo desse caminhar junto, desses passos compassados num mesmo ritmo, seguindo por um mesmo caminho, definido por um mesmo anseio… Na IV Romaria das Águas e da Terra, da Bacia do Rio Doce, o anseio e o grito são PELA VIDA!

A estimativa da Polícia Militar é de que cerca de 4 mil pessoas participaram da IV Romaria que aconteceu na manhã deste domingo, 02 de junho, em Itabira. Algumas pessoas da organização acreditam que os números passaram de 5 mil. Indiferente de 4 ou 5, certo é que “não estamos sozinhos”. Uma multidão como esta… deixa isso muito claro. Não caminhamos sós!

A pluralidade e as diferenças caminharam juntas. Enquanto um segurava a caneca, o desconhecido virava o café. Teve quem ajeitou a sombrinha para fazer sombra até em quem não conhecia. Teve gente carregando a cruz do “outro”, das muitas vítimas que o lamaçal de rejeito de minério de ferro deixou no meio do caminho. Foram mais de 300 cruzes, a maioria delas levando o nome de algum irmão ou irmã soterrados em Mariana e em Brumadinho.

 

Os primeiros contatos, com gente vinda de todo canto, de várias cidades, aconteceu no estacionamento do Valério. Ali, os romeiros foram recebidos bem à moda mineira: com café fresquinho. Lá do alto do carro de som, aquela gente que vem ao mundo parecendo “encantada” ou com o talento de encantar, animava os peregrinos. Sim, peregrinos – porque estamos falando da nossa Casa Comum, terra santa.

 

E para caminhar em solo sagrado, é preciso desamarrar as sandálias do orgulho, do preconceito, do comodismo e da desesperança. Foi assim que o povo de Deus seguiu, numa romaria de encher os olhos e tocar profundamente os corações desavisados. (Embora, até os corações amarrados, devem ter desatado os nós).

Madson Silva veio de Timóteo. É catequista e participou pela primeira vez da Romaria da Bacia do Rio Doce. Veio pela causa ambiental. Veio pelo grito de justiça – por cada uma das vítimas das tragédias de Mariana e Brumadinho.

Gerenusa Nunes é de Nova Era, engajada atua no AA (Alcoólicos Anônimos) e no Projeto Amor Exigente. Já está acostumada às caminhadas que dizem muito sobre os problemas ambientais, sobre as agressões impostas pela ganância do capital à nossa Casa Comum.

Os romeiros seguiram até a portaria da Vale. Ali, fincaram os nomes (cruzes) dos que morreram soterrados, vítimas do descaso com a segurança, vítimas do descaso com a vida, vítimas da irresponsabilidade de todos que atestaram laudos que devastaram muitas famílias mineiras.

Algumas pessoas que viveram estas tragédias caminharam na romaria, deram seus depoimentos. Somaram. Uniram-se às vozes de tantos outros, aterrorizados pela possibilidade de novos desabamentos de barragens, como o povo de Barão de Cocais. Quem perdeu muito veio também para fazer um alerta, para falar da luta travada contra um sistema que não os defende, que permite que eles continuem à margem dos próprios direitos, até mesmo, de seguir com a vida. Quem perdeu, além de vidas, casas e todos os bens materiais, ainda espera uma solução.

Aqueles que acompanharam a Romaria devem ter percebido como a multidão parecia caminhar armada. Armas em punhos, armas nos pés, armas na alma – armados até os ossos de uma piedade e fraternidade que só é possível na experiência do amor. E, pouca coisa incomoda mais do que um grito dado por e com amor!

Bastidores

Foram cerca de 5 meses de preparativos. Representantes de todas as dioceses da Província Eclesiástica de Mariana e também de Guanhães e Colatina participaram de encontros mensais, além de lideranças de movimentos e serviços.

Uma estrutura, que vai muito além das atividades rotineiras de cada paróquia, foi necessária para receber os milhares de romeiros.

As atividades começaram na segunda-feira, dia 27/05, com a chegada dos missionários que foram acolhidos pelas comunidades das paróquias Nossa Senhora da Piedade, Nossa Senhora da Conceição Aparecida e Santo Antônio. Foram aproximadamente 120 pessoas que percorrem várias casas durante a Semana Missionária, levando, não apenas o Evangelho, mas palavras de solidariedade e alento às muitas famílias itabiranas que estão nas áreas de risco, moradores que vivem próximos às barragens de rejeito em Itabira.

A Paróquia Nossa Senhora da Piedade foi a anfitriã da Romaria. Só no dia 2 de junho, cerca de 350 voluntários, das diversas comunidades da paróquia, trabalharam e trabalharam muito!

Gente que até gostaria de participar da caminhada, de estar junto, colocar o pé no chão, fazer o percurso, seguir na e com a marcha. Mas há os que seguem de um outro jeito, os que fazem acontecer de uma outra maneira. Os que se dedicam para que outros possam caminhar tranquilos, abastecidos não só de ânimo e de palavras que elevam espiritualmente, mas também de água, de pão e de comida.

Somam-se a eles, várias outras dezenas de ministros, membros de pastorais e serviços de várias paróquias de Itabira que também ajudaram, na certeza de que servir ao irmão é, antes de mais nada, agradar e servir ao Pai, ao Criador de tudo o que há em nossa Casa Comum.

 

Liliene Dante

 

Fotos e vídeos da IV Romaria das Águas e da Terra estão disponíveis na página da Paróquia Nossa Senhora da Saúde no facebook. Acesse: https://www.facebook.com/pnssitabira/

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui