Jesus viaja no barco de nossa vida

Frei Clarêncio Neotti

 

Há duas frases de Jesus na Última Ceia que caem bem neste domingo. Uma: “Sem mim nada podeis fazer” (Jo 15,5). Apesar de toda a sua experiência com o mar, os Apóstolos estavam apavorados com as ondas revoltas do lago, dentro da noite tempestuosa, símbolo de muitas situações que eles encontrariam na missão. Quando viram que o barco afundava, apelaram para Jesus, que deu ordens ao vento e ao mar e recompôs a bonança. Outra: “Coragem! Eu venci o mundo!” (Jo 16,33). Para os Apóstolos pescadores, Jesus não só acalmou as ondas, mas mostrou que tinha poderes sobre os demônios, porque, no pensamento deles, os demônios moravam no fundo do mar e eram eles que o revolviam. Tanto que, no dia seguinte, quando Jesus libertou um possesso em Gérasa, os demônios (o Evangelista diz que eram mais de dois mil) entraram numa vara de porcos, que se precipitou no mar, porque o mar seria sua morada (Mc 5,9-13).

Jesus adaptou-se pedagogicamente à mentalidade dos Apóstolos e foi, de ensinamento em ensinamento, passando a doutrina nova e corrigindo os conceitos errados. Como na Sinagoga de Cafarnaum, os Apóstolos estavam diante de alguém, maior que profeta, a quem os agentes do mal obedeciam. O Evangelista João chamou de “mundo” o conjunto dos males que afligem a parte espiritual do ser humano. Jesus venceu o mundo, numa vitória em nosso proveito, como venceu a tempestade em proveito dos doze. Por isso pede coragem e ânimo.

A missão dos Apóstolos seria pregar a chegada do Reino de Deus a hebreus e pagãos, um Reino na terra, nesta vida procelosa. Apesar do mal, apesar das borrascas tenebrosas ocasionadas pela presença do mal no mundo, o Reino é possível, porque Jesus está presente. A atenção e a luta serão incessantes, o medo virá. Mas o pensamento de que Jesus “está conosco” (Mt 28,20), no mesmo barco da vida, significa garantia.

Fonte: franciscanos.org


FREI CLARÊNCIO NEOTTI, OFMentrou na Ordem Franciscana no dia 23 de dezembro de 1954. Durante 20 anos, trabalhou na Editora Vozes, em Petrópolis. É membro fundador da União dos Editores Franciscanos e vigário paroquial no Santuário do Divino Espírito Santo (ES). Escritor e jornalista, é autor de vários livros e este comentário é do livro “Ministério da Palavra – Comentários aos Evangelhos dominicais e Festivos”, da Editora Santuário.

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