Igreja peregrina para Deus

Papa Francisco beija o Altar na Basílica de São Pedro na Missa para a comunidade de Mianmar (Vatican Media)

“A Igreja… só terá sua consumação na glória celeste quando do retomo glorioso de Cristo. Até aquele dia, “a Igreja avança em sua peregrinação por meio das perseguições do mundo e das consolações de Deus”(CIC, 769).”

 

Por Jackson Erpen – Vatican News

A Igreja, à qual todos somos chamados e na qual por graça de Deus alcançamos a santidade, só na glória celeste alcançará a sua realização acabada, quando vier o tempo da restauração de todas as coisas e, quando, juntamente com o gênero humano, também o universo inteiro, que ao homem está intimamente ligado e por ele atinge o seu fim, for perfeitamente restaurado em Cristo”. (LG 48)

Lumen Gentium nos aponta a fundação da Igreja do lado aberto de Jesus na Cruz. A mesma Constituição Dogmática apresenta diversas imagens da Igreja, tema que vem sendo tratado neste nosso espaço pelo padre Gerson Schmidt*. Depois de ter falado sobre a imagem da Igreja como a nova Eva em nosso último programa, o sacerdote gaúcho nos apresenta hoje “a Igreja peregrina para Deus”, destacando sua índole escatológica:

“Outra imagem significativa da Igreja é que ela caminha como peregrina para a Pátria Celeste, como todos nós batizados, que constituímos a Igreja militante, para que um dia sejamos triunfantes. Diz a constituição Lumen Gentium: “A Igreja «prossegue a sua peregrinação no meio das perseguições do mundo e das consolações de Deus», anunciando a cruz e a morte do Senhor até que Ele venha (cfr. Cor. 11,26). Mas é robustecida pela força do Senhor ressuscitado, de modo a vencer, pela paciência e pela caridade, as suas aflições e dificuldades tanto internas como externas, e a revelar, velada mais fielmente, o seu mistério, até que por fim se manifeste em plena luz”(LG, 8).

O capítulo VII da Lumen Gentium descreve de modo específico sobre “A ÍNDOLE ESCATOLÓGICA DA IGREJA PEREGRINA E A SUA UNIÃO COM A IGREJA CELESTE”. É de notar que o caráter escatológico da nossa vocação à Igreja, “a dimensão escatológica da Igreja impregna a Constituição inteira e outros textos conciliares”[1]. Esse capítulo VII da LG põe em evidência um dado essencial da Mistério da Igreja: a sua realização iniciada na terra e sua culminância na plenitude celeste. “Não são duas Igrejas diversas, no céu e na terra, mas sim a mesma Igreja em duas fases”…[2].

Afirma a LG, no número 48 assim: “Enquanto não se estabelecem os novos céus e a nova terra em que habita a justiça (cfr. 2 Ped. 3,13), a Igreja peregrina, nos seus sacramentos e nas suas instituições, que pertencem à presente ordem temporal, leva a imagem passageira deste mundo e vive no meio das criaturas que gemem e sofrem as dores de parto, esperando a manifestação dos filhos de Deus (cfr. Rom. 8, 19-22)” (LG, 48).

E continua no número 49 dizendo dessa unidade das duas fases da mesma Igreja: “Com efeito, todos os que são de Cristo e têm o Seu Espírito, estão unidos numa só Igreja e ligados uns aos outros n’Ele (cfr. Ef. 4,16). E assim, de modo nenhum se interrompe a união dos que ainda caminham sobre a terra com os irmãos que adormeceram na paz de Cristo, mas antes, segundo a constante fé da Igreja, é reforçada pela comunicação dos bens espirituais” (LG, 49).

Por isso, ambas as fases dessa única Igreja realizam a Comunhão dos Santos. Os que são de Cristo constituem uma mesma Igreja (LG, 49).

O Concílio Vaticano II recorda a doutrina tradicional dos “novíssimos”, que são os temas do céu, do inferno e do purgatório. Mas integra a escatologia individual na escatologia geral da humanidade, dando relevo à esperança na restauração do mundo por Cristo e à vigilância para resistir ao Maligno durante o tempo de prova terrena.

Essa doutrina do capítulo VII da LG foi um estímulo para a renovação pós-conciliar do tratado dogmático de escatologia. Essa dimensão escatológica da Igreja peregrina não se fez repercutir nos tratados teológicos para compreensão dessa fase celestial da Igreja. Nas últimas décadas houve um acento sempre forte da dimensão terrena, da construção da cidade terrestre, das lutas cotidianas para um mundo mais justo e humano. O que não é errado, mas digno de louvor. Porém, não devemos esquecer o destino, a meta, nosso porto onde chegaremos um dia, onde todos vamos estar. “Com efeito, a vida daqueles que fielmente seguiram a Cristo, é um novo motivo que nos entusiasma a buscar a cidade futura (cfr. Hebr. 14,14; 11,10) e, ao mesmo tempo, nos ensina um caminho seguro, pelo qual, por entre as efêmeras realidades deste mundo e segundo o estado e condição próprios de cada um, podemos chegar à união perfeita com Cristo, na qual consiste a santidade” (LG, 50). Diz o Catecismo: “A Igreja… só terá sua consumação na glória celeste quando do retomo glorioso de Cristo. Até aquele dia, “a Igreja avança em sua peregrinação por meio das perseguições do mundo e das consolações de Deus”(CIC, 769).”

*Padre Gerson Schmidt foi ordenado em 2 de janeiro de 1993, em Estrela (RS). Além da Filosofia e Teologia, também é graduado em Jornalismo e é Mestre em Comunicação pela FAMECOS/PUCRS.

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[1] VILLAR, José Ramón. HACKMANN, Geraldo B. e AMARAL, Miguel de Salis (org.). As constituições do Vaticano II, Ontem e hoje, Edições CNBB, 2015, p.189.

[2] Ibidem.

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