“Fraternidade e Vida: dom e compromisso. Viu, sentiu compaixão e cuidou dele”.
Esses são o tema e o lema da Campanha da Fraternidade 2020 (CF), em plena sintonia com o discurso pontual do Papa Francisco sobre a dignidade, valorização e respeito à vida.
Não poderia haver tempo mais propício para se discutir a vida, e o que implica ser cristão no mundo de hoje, do que na quaresma. Por isso, não à revelia, a Campanha da Fraternidade está inserida no calendário da Igreja Católica no Brasil exatamente no Tempo Quaresmal – período que nos convida a mergulhar no nosso deserto interior, aprofundando as reflexões e os questionamentos sobre a nossa postura de cristãos(ãs) diante dos desafios diários. Este ano, o lema da campanha nos aponta um caminho: ser como o Bom Samaritano.
A cada ano, a campanha traz um “assunto” para instigar os debates e, sobretudo, fortalecer e impulsionar a caminhada pastoral. Por isso, parte das atividades paroquiais no tempo quaresmal, são voltadas para a CF. Não raro, o assunto está na pauta das homilias, como forma de alcançar, também, os cristãos que não atuam diretamente nas pastorais, serviços e movimentos – mas são fiéis participantes das celebrações eucarísticas dominicais.
Na Paróquia Nossa Senhora da Saúde, além das referências à campanha durante as missas, há sempre um aprofundamento sobre o tema, proposto aos corpos ativos das três comunidades paroquiais. Este ano, a formação contou com a participação de aproximadamente 50 pessoas que se reuniram no salão comunitário da Matriz da Saúde, na noite de terça-feira, 3/03.
Durante os estudos e reflexões, os participantes foram motivados a mergulhar no mais profundo sentido da vida, em suas várias dimensões: pessoal, comunitária, social e ecológica.
A Campanha da Fraternidade objetiva sempre um despertar, em cada um de nós, do espírito comunitário, da busca pelo bem comum; educar para a vida em fraternidade, renovando a consciência de que todos nós somos responsáveis pela ação evangelizadora pautada em uma sociedade justa e solidária.
Conduziram as atividades, o seminarista Márcio Mota, a Ir. Rosa Ternes (EPAP), Maria José (Comunidade Nossa Senhora da Conceição) e Rosângela Coelho das Dores (Coordenadora da ERAC).
Após o estudo, as lideranças participaram de um trabalho em grupo para definir o gesto concreto a ser assumido a partir desta Campanha da Fraternidade. Após as discussões, foi aprovada a criação da Pastoral da Escuta, sugerida no Plano Pastoral Paroquial.
A Campanha da Fraternidade no Brasil
A primeira campanha intitulada “Campanha da Fraternidade” surgiu com o objetivo de levantar recursos para obras assistenciais. Foi idealizada por três padres da Cáritas no Brasil e realizada na Quaresma de 1962, em Natal/RN.
No ano seguinte, várias dioceses nordestinas aderiram à iniciativa. Em 1964, a CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil) lançou a primeira Campanha da Fraternidade abrangendo todo o país. Sob influência do Concílio Vaticano II, o tema da primeira edição foi bem sugestivo: “Igreja em Renovação”.
Abaixo, em trecho extraído do site “Dom Eugenio Sales”, mais detalhes sobre os primeiros passos da campanha que ganhou o Brasil e é hoje uma das maiores mobilizações promovidas anualmente pela Igreja Católica.
“A história da Campanha da Fraternidade teve origem alguns anos antes do início do Concílio Ecumênico Vaticano II, quando um pequeno grupo de padres recém-ordenados, sob a coordenação de Dom Eugenio Sales, reunia-se em Natal, cada mês, para rezar e refletir sobre a Igreja e a Pastoral. Daí surgiram várias iniciativas postas em prática, com sucesso. Algumas vieram a ter dimensão nacional. Dentre elas estão o primeiro Regional da CNBB, que abrangia as dioceses da área territorial que ia do Maranhão à Bahia; o primeiro planejamento pastoral, colocando a técnica a serviço do Reino de Deus; a organização sistemática dos trabalhadores em sindicatos rurais, reconhecidos pelo Governo. E, logo a seguir, a primeira Federação dos Trabalhadores Rurais no Rio Grande do Norte; paróquias confiadas a religiosas; as escolas radiofônicas e outras iniciativas, sem esquecer a Campanha da Fraternidade, posteriormente assumida em nível nacional pela CNBB no ano de 1964.
No Nordeste semiárido, pobre, mas confiante em Deus, nasceram estas atividades fecundas, fruto do Evangelho posto em prática. A Arquidiocese de Natal havia recebido alguma ajuda, de modo particular da Igreja da Alemanha, que mal saíra da catástrofe da 2ª Guerra Mundial. Muitos outros projetos de ajuda financeira eram encaminhados a outras nações, mas, particularmente, à “Aktion Misereor”, do Episcopado Alemão.
Alguns dirigentes do Serviço de Assistência Rural (SAR) julgaram ser importante criar, entre católicos, uma mentalidade de cooperação local com as obras pastorais e sociais da Igreja, dando, assim, maior credibilidade aos pedidos feitos ao estrangeiro. Ao chegarem respostas favoráveis dos católicos, o grupo de sacerdotes e leigos julgou que, de sua parte, deveria fazer algo para que se pudesse solicitar colaboração aos irmãos na Fé.
Dom Heitor de Araujo Sales, então sacerdote potiguar, estudando na Europa e passando as férias na Alemanha, trouxe todo o material da estrutura da “Misereor” e a divulgação de suas campanhas. Na sede do Movimento de Natal, os subsídios vindos da Europa foram traduzidos e adaptados à realidade brasileira. Um grupo estudou o assunto, escolheu o nome que vigora até hoje – Campanha da Fraternidade -, organizou da melhor maneira a Campanha com essa dupla finalidade: evangelizadora e social.
Foi na cidade de Nísia Floresta que surgiu o embrião da Campanha da Fraternidade. Caminhadas à pé, de casa em casa, de rua em rua, de povoado em povoado. Quase paralelamente às marchas, foram criadas as Semanas da Fraternidade. Eram doados ovos, galinhas, hortaliças frutas e o resultado comercializado numa feira cuja renda tinha como finalidade a compra de colchões, redes, dentre outras coisas, para as famílias pobres espalhadas em treze comunidades ligadas ao município.
A experiência das Irmãs Vigárias nesta cidade e das marchas foi implantada depois em São Gonçalo do Amarante e Taipu. Tudo com o apoio da Santa Sé, como sempre trabalhou Dom Eugênio Sales, e com a ajuda dos leigos.
A primeira Campanha da Fraternidade ficou restrita à Arquidiocese de Natal, em 1962. A coleta rendeu um milhão de cruzeiros importância que corresponde, hoje, em torno de R$ 47.700,00. A segunda, na Quaresma de 1963, abrangeu 25 dioceses do Nordeste. O aviso da Cúria nº 5/1963, sobre o assunto na Arquidiocese de Natal, trazia elementos valiosos: “Em todas as matrizes, igrejas, capelas, escolas e também no comércio, far-se-á uma grande coleta em favor das obras apostólicas e sociais da Arquidiocese”. Referia-se ao costume, iniciado nos Estados Unidos e países europeus, de designar um dia para angariar donativos destinados à Igreja e ao mundo subdesenvolvido. E continuava: “Entre nós, iniciamos no ano passado essa Campanha, que encontrou muita receptividade em nossas comunidades paroquiais. Ela é feita neste tempo para significar o sacrifício de toda a comunidade diocesana na Quaresma, em favor de seus irmãos”. Assina-o, o Vigário Geral. O Secretário da Cúria dá outras indicações e providências em documento também publicado no jornal diocesano, “A Ordem”, de 9 de março de 1963.”
Assessoria de Comunicação