Duas atitudes muito típicas de Jesus

Cristo e Uma Criança - obra de Carl Bloch / 1873 - em Wikiart

Por José Antonio Pagola

 

O grupo de Jesus atravessa a Galileia a caminho de Jerusalém. Fazem-no de maneira discreta, sem ninguém tomar conhecimento. Jesus quer dedicar-se inteiramente a instruir seus discípulos. É muito importante o que ele quer gravar em seus corações: seu caminho não é um caminho de glória, êxito e poder. É o contrário: leva à crucificação e à rejeição, embora termine em ressurreição.

Não entra na cabeça dos discípulos o que Jesus lhes diz. Eles não querem pensar na crucificação. Esta não entra em seus planos nem em suas expectativas. Enquanto Jesus lhes fala de entrega e de cruz, eles falam de suas ambições: Quem será o mais importante no grupo? Quem ocupará o posto mais elevado? Quem receberá mais honras? Jesus “se senta”. Quer ensinar-lhes algo que eles nunca deverão esquecer. Chama os Doze, os que estão mais estreitamente associados à sua missão, e os convida a se aproximarem, porque os vê muito distanciados. Para seguir seus passos e parecer-se com ele precisarão aprender duas atitudes fundamentais.

Primeira atitude: “Quem quiser ser o primeiro, seja o último de todos e o servo de todos”. O discípulo de Jesus deve renunciar a ambições, dignidades, honras e vaidades. Em seu grupo ninguém deve pretender estar acima dos demais. Pelo contrário, deverá ocupar o último lugar, pôr-se no nível dos que não têm poder nem ostentam dignidade alguma. E, a partir dali, ser como Jesus: “servo de todos”.

A segunda atitude é tão importante que Jesus a ilustra com um gesto simbólico afetuoso. Coloca uma criança no meio dos Doze, no centro do grupo, para que aqueles homens ambiciosos se esqueçam de honras e grandezas e fixem seus olhos nos pequenos, nos fracos, nos mais necessitados de defesa e cuidado.

Depois abraça a criança e lhes diz: “Quem acolhe uma criança como esta em meu nome, é a mim que acolhe”. Quem acolhe um “pequeno” está acolhendo o “grande”, o maior, Jesus. E quem acolhe Jesus está acolhendo o Pai que o enviou. Uma Igreja que acolhe os pequenos e indefesos está ensinando a acolher a Deus. Uma Igreja que olha para os grandes e se associa aos poderosos da terra está pervertendo a Boa Notícia de Deus anunciada por Jesus.

Fonte: franciscanos.org.br


JOSÉ ANTONIO PAGOLA cursou Teologia e Ciências Bíblicas na Pontifícia Universidade Gregoriana, no Pontifício Instituto Bíblico de Roma e na Escola Bíblica e Arqueológica Francesa de Jerusalém. É autor de diversas obras de teologia, pastoral e cristologia. Atualmente é diretor do Instituto de Teologia e Pastoral de São Sebastião. Este comentário é do livro “O Caminho Aberto por Jesus”, da Editora Vozes.

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