Dom Evaristo: a Igreja cobra do Estado uma apuração séria dos assassinatos

Dom Evaristo Spengler - bispo da Prelazia do Marajó e presidente da REPAM-Brasil - foto/reprodução Vatican News

“Muitos defensores dos direitos dos povos, dos territórios, e das florestas são constantemente assassinados, isso já encarado como um fato normal”: declaração de dom Evaristo e da prof. Marcia Maria de Oliveira – Assessora REPAM.

 

Silvonei José

A Rede Eclesial Pan-Amazônica (REPAM-Brasil), por meio da sua presidência, composta pelo bispo da Prelazia de Marajó (PA), Dom Evaristo Pascoal Spengler, OFM, (presidente), o arcebispo de Palmas (TO), Dom Pedro Brito Guimarães (vice-presidente) e o bispo da Prelazia de Itacoatiara (AM), Dom José Ionilton Lisboa de Oliveira, sdv, (secretário), divulgou na tarde da última quarta-feira uma nota na qual exige providências urgentes do governo frente às mortes e degradação no território amazônico. “É indispensável o desenvolvimento de ações rápidas do Estado brasileiro, por meio do Governo Federal, Congresso Nacional e Ministério Público, para conter o avanço destruidor sobre a Amazônia. É necessário não só prestar esclarecimentos sobre o desaparecimento de Bruno e Dominic, mas agilidade nas apurações, e punição dos responsáveis por tantas mortes e tanta dor que pesam sobre a Amazônia, seus povos e seus defensores”, diz trecho da nota.

O presidente da REPAM-Brasil, Dom Evaristo Pascal Spengler conversou com a Rádio Vaticano – Vatican News:

A morte do jornalista Dom Philips e do indigenista Bruno Araújo Pereira, traz à tona a insegurança e as ameaças em que há décadas vivem os Defensores dos direitos dos povos da Amazônia e de seus territórios como os indígenas, os quilombolas e os ribeirinhos. Essa situação persiste por que na Amazônia impera a ilegalidade em vários setores, principalmente na pesca predatória, na mineração, e na extração de madeira. Constantemente esses setores ilegais aliam-se ao tráfico de drogas, ao tráfico de armas, e ao tráfico de pessoas. É conhecida a dificuldade logística na região Amazônica, e o Estado brasileiro é ausente, inerte, omisso em muitas partes da Amazônia.

O Vale do Javari onde ocorreram as mortes recentes é um retrato fiel dessa realidade. É imperativo na Amazônia uma presença firme do Estado para curar não só as mortes do Dom Philips e do Bruno, talvez esse fato repercutiu, porque envolveu um estrangeiro.

Muitos defensores dos direitos dos povos, dos territórios, e das florestas são constantemente assassinados, isso já encarado como um fato normal, quem apurou as suas mortes? A Igreja cobra do Estado brasileiro uma apuração séria dos que foram assassinados por defenderem os povos e o bioma amazônico, e pede proteção a todos aqueles que se encontram ameaçados na Amazônia.

A Rádio Vaticano – Vatican News também ouviu a prof. Márcia Maria de Oliveira _ Universidade Federal de Roraima – UFRR, Assessora da REPAM:

O posicionamento da nota emitida pela rede eclesial pan-amazônica – REPAM com muita coragem exigindo que se faça investigação séria, que se faça justiça no caso do assassinato covarde do indigenista Bruno Pereira e do jornalista Dom Philips é uma mensagem de muita esperança no contexto em que todos os dias defensores e defensoras da Amazônia estão sendo ameaçados, torturados e assassinados. O caso desses dois companheiros nesta semana não são casos isolados, todos os dias ocorrem assassinatos em toda a região pan-amazônica.

Somente de 2019 para cá foram seis indígenas, lideranças do Movimento em defesa da Amazônia que foram assassinados. Famílias inteiras, como o que vem ocorrendo também com os camponeses que se posicionam em defesa da Amazônia.

Então, os defensores e defensoras da floresta correm risco de vida o tempo todo por defenderem a criação, por defenderem a casa comum e se posicionarem firmemente com os valores da ecologia integral exigindo que os bens que aqui estão, sejam bens compartilhados entre os que vivem nessa região e não levados, de forma comercializada, por aqueles que não vivem e não cuidam da região. Por aqueles que só querem extrair de forma predatória os recursos que alimentam, que garantem a vida dos povos que vivem na Amazônia.

É uma questão de justiça, é uma questão de cuidar da Casa Comum, de se posicionar firmemente frente à obra da criação, mas que tem custado muitas vidas. Então, todo apoio, toda a pressão internacional que nós conseguirmos neste momento será muito importante para fazer justiça no caso de Bruno e Dom mas também nas diversas situações de morte que nós tivemos nos últimos anos na Amazônia. De modo especial por conta de um posicionamento do governo que realmente assumiu extrair da região todas as suas riquezas, todos os seus recursos, por grupos que não tem nenhum compromisso com a Amazônia, não tem nenhuma vivência nenhuma relação com a Amazônia.

Fonte: Vatican News

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