Dia 1º de abril, próxima terça, junte-se à Comissão para a Ação Missionária e à ACN e reze por Moçambique

Imagem: ACN (CNBB)  

A Comissão Episcopal para a Ação Missionária e Cooperação Intereclesial da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), une-se à Ajuda à Igreja que Sofre (ACN) na promoção do Dia de Unidade de Oração. Nesta terça-feira, 1º de abril, o convite é para que todas as comunidades façam um dia de oração por Moçambique.

O Dia de Unidade de Oração é uma iniciativa mensal organizada pela ACN, com a renovada parceria da CNBB, fortalecendo essa ação de solidariedade e comunhão. A cada mês, os cristãos serão convidados a se unir em oração por uma nação específica, especialmente aquelas marcadas por conflitos, perseguições religiosas e crises humanitárias.

A parceria entre a CNBB e a ACN fortalece a conexão entre o testemunho cristão e a ação pastoral, convidando todos os fieis a serem agentes de esperança e transformação. Em comunhão com Moçambique, essa iniciativa reafirma o papel da Igreja no cuidado com aqueles que sofrem, promovendo uma cultura de paz, reconciliação e fraternidade, onde o Evangelho possa florescer e dar frutos de justiça e amor.

Missionariedade em Moçambique

A irmã Lourdes Dill, da Congregação das Filhas do Amor Divino da Província Nossa Senhora da Anunciação, do Sul do Brasil, é missionária em Moçambique. Ela e outras três irmãs assumiram uma missão junto à arquidiocese de Nampula, especificamente em Micane, no distrito de Moma, desde o final de setembro de 2023.

Juntas formaram a Comunidade Luz da Aurora e colaboram com a equipe missionária do regional Sul 3 da CNBB, que corresponde ao estado do Rio Grande do Sul. Desde 2024, a missão também conta com uma paróquia coordenada pelo regional Sul 4 da CNBB, que corresponde ao estado de Santa Catarina.

Em Moçambique as irmãs contribuem nos trabalhos de evangelização e desenvolvem alguns projetos próprios da Congregação. Trata-se de uma missão profética que enfrenta diversos desafios, tais como pobreza extrema, ausência de políticas públicas adequadas, precariedade na saúde, educação, emprego, entre outras dificuldades sociais.

Irmã Lourdes conta que, desde outubro de 2024, Moçambique viveu grandes desafios devido à violência, que incluiu mortes, ferimentos, saques a lojas, destruição de casas e conflitos prolongados decorrentes das tensões pós-eleitorais cujos resultados ainda não foram aceitos pela população.

“Tudo isso causou inúmeros danos materiais e um clima generalizado de medo, intensificado por assaltos e destruição de espaços públicos. Além das questões políticas, Moçambique também foi recentemente atingido por vários ciclones, causando mortes e muitos estragos em diversas regiões”, disse.

Neste contexto, os missionários e missionárias, a serviço do Reino de Deus, estão junto a este povo que evangeliza e vive sua fé de maneira comprometida e profética. “Um povo simples, pobre e humilde, que não se queixa, não acumula bens e muitas vezes vive sem o essencial para sua sobrevivência”, completa a irmã.

“Esta experiência missionária é única, profundamente profética e desafiadora. Esta escolha nos impulsiona a olhar o mundo com um coração missionário amplo e autêntico e nos torna, de fato, como indica o tema do Jubileu de 2025, verdadeiros “Peregrinos de Esperança”. Por fim, buscamos vivenciar as sábias palavras do Papa Francisco, que nos exorta dizendo para que não deixemos que nos roubem a esperança, finaliza a irmã Lourdes.

Entenda a realidade de Moçambique

Segundo a ACN, Moçambique está classificado em 147.º lugar entre 180 países do mundo no Índice de Percepção da Corrupção. Além disso, é o 7.º país menos desenvolvido do mundo em termos de Índice de Desenvolvimento Humano, e em declínio constante no Índice de Fragilidade Global desde 2014.

Na província de Cabo Delgado, as estatísticas revelam a situação extremamente precária: 76,4% dos agregados familiares não têm acesso a saneamento básico; 56,1% não têm acesso a fontes de água potável e 21,9% a instalações de saúde; 86,6% das crianças vivem em agregados familiares sem acesso a eletricidade; 45% das crianças com menos de cinco anos sofrem de mal nutrição crônica; e 55,7% da população em idade escolar nunca frequentou a escola.

A taxa de analfabetismo em Cabo Delgado é elevada, 12,5% acima da média nacional (pessoas com 15 anos ou mais: 66,8% mulheres e 36,7% homens), e apenas 30% da população compreende português, a língua oficial do país. Tanto os líderes religiosos cristãos como os muçulmanos alertaram para a “profunda crise humanitária” agravada pela violência terrorista e pelas restrições impostas pela COVID-19.

Em contraste com esta miséria humana, após a descoberta de uma vasta quantidade de gás natural ao longo da costa norte de Moçambique em 2010, Cabo Delgado tornou-se a região com os maiores projetos de investimento para a exploração de GNL (Gás Natural Liquefeito) na África. Os analistas preveem que as empresas transnacionais de energia deverão gastar até 100 mil milhões de dólares. Contudo, os habitantes locais dizem que não têm visto grandes benefícios, uma vez que os empregos criados vão para estrangeiros altamente qualificados e não para eles. Além disso, o desenvolvimento dos projetos implicou a reinstalação forçada de milhares de agricultores e pescadores, empurrando-os cada vez mais para a pobreza.

A opinião prevalecente entre a população local é que se trata de uma estratégia deliberada e bem organizada para os expulsar das suas terras, a fim de tirar partido dos seus ricos recursos, incluindo o gás e a grafite, uma componente essencial para as baterias dos carros elétricos. O Governo provocou um descontentamento mais alargado no início de 2017, quando expulsou, por vezes de forma violenta, milhares de mineiros artesanais que detinham concessões perto de Montepuez.

Foi este contexto social, econômico e político de extrema pobreza, corrupção e frustração entre os jovens que permitiu que os pregadores islâmicos radicalizados, muitas vezes treinados no exterior, expandissem as suas mensagens de ódio e recrutassem jovens em Moçambique. Jihadistas estrangeiros e gangues locais cometeram o seu primeiro ataque em Cabo Delgado em outubro de 2017, quando 30 terroristas do “Ahl Al Sunna Wa-Al Jamâa” (ASWJ), também conhecido como “Ansar al-Sunna” ou “al-Shabaab” (não relacionado com o grupo terrorista somali com o mesmo nome), invadiram uma esquadra da polícia na cidade estratégica de Mocímboa da Praia, matando dois agentes.

 O ASWJ terá jurado fidelidade ao autoproclamado Estado Islâmico já em abril de 2018 e foi reconhecido por este como filiado em agosto de 2019 sob o nome de “Província Centro-Africana do Estado Islâmico” (ISCAP) – um grupo combinado da ASWJ em Moçambique e da ADF na República Democrática do Congo (RDC). O autoproclamado Estado Islâmico começou a referir-se ao IS-Moçambique (IS-Moz ou ISM) separadamente da ISCAP-DRC em maio de 2022.

Materiais

Acesse o relatório de Liberdade Religiosa, produzido pela ACN:  https://www.acn.org.br/mocambique/

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