Por Frei Almir Guimarães
Sempre, às primeiras sextas-feiras de cada mês, temos o costume de nos deter diante da totalidade da entrega de Jesus em sua morte. Fim de uma caminhada. Sem nada. Nu no alto da cruz. Despojamento. Livre de todas as amarras. Verdade na pobreza. Sem títulos. Despojamento. E assim ele, situa-se a um passo da glória e pede ainda uma vez nossa atenção. “Adão, onde estás? Ele não desiste do homem. Comprova-o seu peito aberto.
Convido a todos lerem está página de José Tolentino Mendonça: “Deus toma a iniciativa da libertação: ele vê, ele ouve a situação do homem, ele vem ao nosso encontro para nos libertar. Para nos arrancar da terra do exílio, de uma vida que não é vida, sequestrada pela escravidão. Deus se compadece de nossa realidade. Deus liberta e salva pessoas concretas que ousam assumir a concretude de sua vida tal como ela é, no seu mal, nos seus embaraços, nos limites que nos tornam joguete de incontáveis escravidões. Deus não salva o que parecemos ser, o que fingimos ser: Deus salva aquilo que somos, porque é nisso que ele acredita, porque é isso que ele ama. Essa libertação profunda que Deus opera com o perdão é, assim, uma verdadeira recriação, um infatigável chamamento à vida. Uma vez vi grafitada, num muro, uma pergunta: “Acreditam na vida antes da morte?” Foi um baque. Claro que alarga infinitamente o horizonte acreditar que há vida depois da morte. Contudo, se eu, por algum motivo, desistir de confiar que existe vida (isto é, possibilidade de vida verdadeira) antes de minha morte, tudo fica estranho, escuro perdido. Deus não desiste do homem” (José Tolentino Mendonça, Pai nosso que estais na terra, Paulinas, p 103).
Viver, amar a vida, promover a vida em nós e à nossa volta. Deixar de viver minguadamente, uma vida que não é vida. Escutar o Senhor a dizer: “Não existe maior amor do que dar a vida pelos seus”. É sempre assim que às primeiras sextas-feiras de cada mês deixamos que janela do peito do Senhor nos ilumine com sua luz. Precisamos de alguém que nos olhe em nossa verdade. As aparências de “sucesso” podem enganar.
DEUS NÃO DESISTE DO HOMEM