Quaresma é um tempo de penitência pré-pascal, período de quarenta dias que antecede o Tríduo Pascal, destinado à preparação dos fiéis, especialmente dos candidatos ao Batismo, para a celebração da Páscoa. Este tempo litúrgico existe na Igreja desde o século II, quando os cristãos se preparavam para a celebração da noite de Páscoa mediante um jejum penitencial de dois dias. No século III este jejum já foi estendido a uma semana de duração. A caracterização desses 40 dias quanto ao seu conteúdo foi determinada essencialmente pelas instituições do catecumenato e da penitência eclesiástica.
As comunidades se associavam solidariamente aos preparativos dos candidatos ao batismo e dos penitentes. Tendo em vista a assembleia pascal decisiva em torno da mesa do Senhor, todo ódio e toda contenda deveriam ter sido afastados e os membros da comunidade unir-se no amor fraternal renovado. Era essa a finalidade do jejum como possibilitador de esmolas, da multiplicação de celebrações e de catequeses.
O Concilio Vaticano II sintetizou toda a rica história da Quaresma em algumas orientações valiosas: “Destaquem-se tanto na Liturgia como na catequese litúrgica, os dois aspectos característicos do tempo quaresmal, que pretende, sobretudo através da recordação ou preparação do Batismo e pela Penitência, preparar os fiéis, que devem ouvir com mais frequência a Palavra de Deus e dar-se à oração com mais insistência, para a celebração do mistério pascal” (SC 109).
Sugere ainda utilizar com “abundância os elementos batismais”. O mesmo se diga dos elementos penitenciais. Quanto à catequese “ensine-se as consequências sociais do pecado; a natureza própria da penitência, que é a ojeriza ao pecado por ser ofensa a Deus; nem se deve esquecer a parte da Igreja na prática penitencial, nem deixar de recomendar a oração pelos pecadores” (SC 109). Além do mais, ensina que “a penitência quaresmal deve ser também externa e social, que não só interna e individual” (SC 110).
Com estas orientações chegamos ao nosso tempo. Atualmente procura-se valorizar muito na Quaresma a pregação da Palavra de Deus, a oração, a religiosidade popular, a caridade, pois ela apaga uma multidão de pecados. Foi neste “caldo cultural” que nasceu a Campanha da Fraternidade. Esta procura ser uma forte sugestão de conversão interior, pessoal e social. Aponta para questões urgentes na sociedade apontando para a Vida e Vida em plenitude (Jo, 10,10).
Poderíamos recordar de muitos temas e do modo vigoroso como a Campanha da Fraternidade se desenvolveu e muitos frutos que produziu em várias décadas de história. Em 2021 a CF Ecumênica com o tema: Fraternidade e diálogo: compromisso de Amor. O Lema: Cristo é a nossa paz: do que era dividido, faz uma unidade (Ef 2,14). Além das sugestões de vivência da Quaresma que já estão no texto, acrescento, por conta da CF 2021-Ecumênica: Promoção do Diálogo Ecumênico – Semana de Oração pela Unidade Cristã; convivência inter-religiosa; esforçar-se por superar a violência; superação da violência contra as mulheres; incentivar o cuidado com a Casa Comum.
Que todos possam aproveitar este momento histórico “refletindo sobre possíveis caminhos de diálogo e a construção de pontes de amor e paz em lugar dos muros de ódio para explicitar os sinais da ‘nova humanidade nascida em Cristo’ que está presente entre nós” (Texto Base, 2).
Dom Geremias Steinmetz
Arcebispo de Londrina
*Artigo publicado na Revista Comunidade – Edição Fevereiro 2021