Base cristológica da Doutrina Social da Igreja na Catequese – parte 4

Imagem: PxHere

Por Dom Antonio de Assis Ribeiro, SDB
Bispo Auxiliar da Arquidiocese de Belém

 

Introdução

A relação entre a Catequese e a Doutrina Social da Igreja se fundamenta nas palavras e no agir de Jesus Cristo, o Libertador-Salvador da humanidade. A sensibilidade pedagógica do catequista e a base do seu conteúdo encontra na pessoa do Filho de Deus a sua fonte essencial.

É importante considerar que Jesus não se fixou na “salvação das almas”, mas se ocupou com as pessoas promovendo a Salvação integral delas. Por isso, Jesus se interessou pela saúde, liderança, fome, sede etc. Ou seja, vamos encontrar no agir de Jesus um profundo interesse por todas as pessoas e pela totalidade da vida delas, e não simplesmente com a dimensão espiritual e religiosa.

  1. A missão de Jesus

Toda a vida de Jesus Cristo foi dedicada à salvação integral da pessoa humana. Ele mesmo ao anunciar a sua missão, declarou a convicção do seu cuidado para com as pessoas na sua integridade; Ele se interessou tanto pelo indivíduo, quanto pelas multidões e múltiplas realidades sociais.

O evangelista Lucas documentou a declaração missionária de Jesus quando disse na Sinagoga de Nazaré: «O Espírito do Senhor está sobre mim, porque ele me consagrou com a unção, para anunciar a Boa Notícia aos pobres; enviou-me para proclamar a libertação aos presos e aos cegos a recuperação da vista; para libertar os oprimidos, e para proclamar um ano de graça do Senhor» (Lc 4,18).

Outra síntese dessa totalidade está na declaração do Evangelista João falando do Filho de Deus: “E o Verbo se fez carne e habitou entre nós” (Jo 1,14). O Verbo é a realidade divina invisível, Sabedoria eterna, Palavra Criadora (cf. Salmo 33,6; Jo 1,3), que assume a humanidade na sua totalidade de dimensões. Por isso, seguidora do Senhor, a Igreja deve também encarnar-se em todas as realidades da vida humana.

Aquele que disse “Eu sou a luz do mundo” (Jo 8,12), declarou a seus discípulos: “Vocês são o sal da terra. Ora, se o sal perde o gosto, com que poderemos salgá-lo? Não serve para mais nada; serve só para ser jogado fora e ser pisado pelos homens. Vocês são a luz do mundo. Não pode ficar escondida uma cidade construída sobre um monte. Ninguém acende uma lâmpada para colocá-la debaixo de uma vasilha, e sim para colocá-la no candeeiro, onde ela brilha para todos os que estão em casa. Assim também: que a luz de vocês brilhe diante dos homens, para que eles vejam as boas obras que vocês fazem, e louvem o Pai de vocês que está no céu.» Eis aí a insistente declaração de Jesus sobre a necessidade do testemunho de vida dos seus discípulos capaz de causar impacto social.

  1. Jesus Cristo e a promoção do Reino de Deus

Apresentando um novo estilo de liderança, Jesus se apresentou como o Bom Pastor e afirmou: “Eu vim para que todos tenham vida e a tenham em abundância!” (Jo 10,10). De fato, Ele com suas palavras, gestos, atitudes e iniciativas se interessou pela totalidade da vida de todas as categorias de pessoas.

A missão de Jesus, o Messias, foi aquela da promoção do Reino de Deus na vida das pessoas e nas mais variadas realidades humanas: na família, nas relações interpessoais, nas comunidades, na política, na economia, nas ciências, na religião, no mundo do trabalho etc. Na promoção do Reinado de Deus Jesus dá prioridade aqueles que viviam em dramática situação existencial: os pobres, doentes, cegos, coxos, aleijados, surdos, aprisionados, famintos, mudos, deprimidos, angustiados, leprosos, paralíticos, possuídos pelo demônio (pessoas psiquicamente transtornadas!…), estrangeiros, as vítimas do legalismo religioso, aqueles que não tinham voz e nem vez como as crianças, mulheres, pagãos, leprosos. Uma nova era chegava para eles; assim Jesus mandou dizer a João Batista para confirmar o início do Reino de Deus: “vão e digam a João o que vocês estão ouvindo e vendo: os cegos enxergam, os mancos caminham, os leprosos são purificados, os surdos ouvem, os mortos são ressuscitados, e as Boas Novas estão sendo pregadas aos pobres” (Mt 11,4-5).

Marcos descreveu essa situação apresentando Jesus sempre em meio à miséria humana com muita clareza, sobretudo, nos primeiros capítulos do seu EvangelhoOs pobres não são destinatários passivos da pregação de Jesus; mas são tratados por Jesus como sujeitos e desafiados. Jesus os desafiou à mudança de vida, a tomarem decisões sérias e a serem seus discípulos seguindo seus passos. Jesus descobriu em meio aos pobres grandes talentos; Ele valorizou as pessoas, deu visibilidade a elas, as promoveu e transformou em seus verdadeiros parceiros corresponsáveis pela mesma missão: «Sigam-me, e eu farei vocês se tornarem pescadores de homens» (Mc 1,18).

O Evangelista Mateus narra que certa vez, Jesus andando pela pobre região da Galileia encontrou uma multidão de pobres e sofredores: “vieram até ele numerosas multidões trazendo coxos, cegos, aleijados, mudos e muitos outros, e os puseram aos seus pés e ele os curou, de sorte que as multidões ficaram espantadas ao ver os mudos falando, os aleijados sãos, os coxos andando e os cegos a ver. E renderam glória ao Deus de Israel” (Mt 15,29-30); conversando com os seus discípulos comentava: “Tenho compaixão da multidão” (Mt 15,32).

A gestão da pastoral catequética não pode esquecer a sensibilidade social de Jesus. Por outro lado, deve ser refletida e confrontada com a sensibilidade pessoal, comunitária e paroquial. Não seremos autênticos seguidores de Jesus se formos frios diante dos pobres e sofredores de hoje. A catequese tem uma séria responsabilidade socioeclesial.

A reflexão sobre a sensibilidade social de Jesus na promoção do Reino de Deus, provocando a transformação social, deve ser objeto não somente de reflexão pela pastoral catequética, mas sobretudo deve traduzir-se me atividades concretas com os catequizandos. De nada adianta falar dos problemas humanos e dos dramas sociais se ficarmos, na prática, distantes deles. Por isso, ao final desta série de reflexões pretendo sugerir aos catequistas uma lista de atividades possíveis a serem promovidas com os catequizandos. A Catequese não deve reduzir-se ao estudo, pois a Iniciação à Vida Cristã requer a experiência do engajamento socioeclesial. Iniciação à Vida Cristã é imersão no Mistério da caridade, da compaixão, da misericórdia.

  1. Gestos e atitudes de Jesus

Promovendo o Reino de Deus, Jesus não se fechou no templo e nem ficou somente rezando ou pregando nas sinagogas, mas andava por todos os lugares, ensinando e curando todo tipo de doença e enfermidade do povo (cf. Mt 4,18-23; Lc 8,1). Nessas andanças ia formando os seus discípulos. A formação do verdadeiro discípulo de Jesus deve, hoje, acontecer da mesma forma, através de múltiplas experiências: do estudo, oração, liturgia, engajamento comunitário, prática missionária, serviço da caridade etc.

Jesus promoveu a dignidade humana curando cegos, aleijados e surdos; restaurando a saúde das pessoas, ressuscitando mortos (cf. Mt 4,24; 8,16-17; Jo 11,1-44) e essa missão foi confiada aos apóstolos (cf. Lc 10,9; Mt 10,1-8); Jesus lutou contra a ignorância (cf. Mt 9,35) e a opressão (cf. Mt 11,28-30; Mt 23). Jesus se opôs ao acúmulo da riqueza e ao materialismo (cf. Mc 10,25; Lc 18,24-27; Lc 16,19-31). Na política, Jesus reconheceu a autêntica autoridade civil, mas alertou para a necessidade da não confusão, propondo o princípio do “dar a César o que é de César e a Deus o que é de Deus” (Mt 12,17; 22,21); e a autoridade, deve ser serviço, contestando e criticando o exercício do poder tirano na sociedade (cf. Jo 13,14-15; Mt 23,11; 18,1-4) e até chama Herodes de raposa (cf. Lc 13,32).

PARA A REFLEXÃO PESSOAL:

  1. Como a catequese, através da Iniciação à Vida Cristã, pode estimular nos catequizandos o conhecimento e a assimilação da sensibilidade social de Jesus?
  2. Há alguma relação entre a ignorância sobre Jesus Cristo e o intimismo religioso?
  3. Por que a sensibilidade social de Jesus nos inquieta e o que nos provoca?

Fonte: CNBB Norte2

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