Atitudes a cultivar para promover a união

Imagem de Barbara Bonanno por Pixabay

Por Dom Antônio de Assis Ribeiro, SDB
Bispo Auxiliar de Belém – PA e Secretário Regional da CNBB Norte 2

 

Introdução 

No texto anterior refletimos sobre algumas das nossas fragilidades que geram obstáculo e até nos impedem de sermos sujeitos promotores da experiência da comunhão. Os pecados capitais se opõem ao dinamismo da caridade e por isso naturalmente constituem uma barreira para promoção da comunhão.

A experiência de fé nos desafia a percorrer continuamente um processo de crescimento no amor combatendo em nós tudo aquilo que é anticomunitário. Por isso somos chamados a refletir sobre atitudes que podemos cultivar e revelem o nosso compromisso com a promoção da comunhão eclesial.

As múltiplas atitudes causadoras de divisão na Igreja são sempre consequência do apego às próprias ideias e interesses pessoais, prescindindo da harmonia com a totalidade do corpo eclesial. Nesse sentido, é sinal de profunda maturidade humana e espiritual a atitude do apóstolo Paulo quando afirma: «Tudo é permitido. Mas nem tudo convém. Tudo é permitido. Mas nem tudo edifica. Ninguém procure satisfazer aos seus próprios interesses, mas os do próximo” (1Cor 10,23-24); “façam tudo para a glória de Deus… como eu, que me esforço para agradar a todos em todas as coisas, não procurando os meus interesses pessoais, mas o interesse do maior número de pessoas, a fim de que sejam salvas”  (1Cor 10,33).

Toda ruptura eclesial é sempre fruto do egoísmo. Mas, como bem diz São Paulo, se houver a consciência da dimensão comunitária e se tudo for feito para a maior glória de Deus certamente não haverá reivindicações pessoais ou grupais capazes de gerar a ofensa a comunhão com o todo.

  1. Perfeição não, esforço sim!

Uma vez que a comunhão requer a colaboração humana, isso significa que a mesma deverá ser continuamente desejada, refletida, aprofundada, buscada. Apesar dos Atos dos Apóstolos afirmarem, idealisticamente, que “a multidão dos fieis era um só coração e uma só alma, onde ninguém considerava como próprias as coisas que possuía, mas tudo entre eles era posto em comum” (At 4,42), isso não significa que eram perfeitos e nem que tudo era gratuito. Na verdade, não havia perfeição, mas esforço de cada um!

Bem sabemos que também as primeiras comunidades cristãs tinham suas fragilidades humanas, mas certamente prevalecia o testemunho de fé, a perseverança nos esforços, a luta pela aquisição de virtudes, a boa vontade, a abertura para o crescimento. Por isso vale a pena refletirmos sobre alguns importantes compromissos para crescermos no senso de comunhão.

  1. Atitudes a cultivar
  • Visão da totalidade: a Igreja é um corpo, isso significa que a comunhão pressupõe a visão e a acolhida da totalidade dos aspectos e das dimensões da vida eclesial. Toda e qualquer forma de visão fragmentada sobre a Igreja, causa sempre prejuízo à promoção da comunhão. Há muitas formas de reducionismos que geram conflitos ao interior da Igreja, sejam eles teológicos, litúrgicos, pastorais, doutrinais, morais e assim por diante; a Igreja é um corpo, uma totalidade unificada.
  • Diversidade e comunhão: trata-se do reconhecimento da diversidade de vocações, serviços, carismas, sensibilidade teológica, sujeitos eclesiais… Não há comunhão onde não se respeita a diversidade. A visão de corpo nos leva a acolher e a respeitar a diversidade interna da Igreja; todavia, isso não significa adversidade.
  • Sentido de pertença: a qualidade da comunhão eclesial depende do sentido de pertença que brota da consciência batismal de cada fiel; o batismo gera nos fieis um natural vínculo fraterno com os demais batizados. O sentido de pertença leva cada fiel a cultivar o reconhecimento de que a Igreja é sua mãe espiritual. Desse sentido de pertença, brota o dever da colaboração, do envolvimento, da participação na vida da Igreja, da solidariedade, da corresponsabilidade em todas as dimensões.
  • Atitude proativa: o sentido de pertença promove a comunhão eclesial e gera em cada fiel também o desejo de crescimento no espírito de iniciativa em favor da Igreja; essa atitude torna-se cuidado, zelo, serviço, sinergia. Não tem senso de comunhão quem, em vez de apoiar e somar vive criticando e assumindo uma atitude isolada, passiva, agressiva ou indiferente.
  • Senso de respeito e obediência: a beleza da comunhão eclesial tem como sua fonte primária as exigências que brotam da fé porque esta gera obediência, portanto, a comunhão pressupõe senso de humildade; onde não há obediência, também não há espaço para a comunhão. A comunhão eclesial não se confunde com a harmonia democrática. O nosso modelo é Jesus Cristo que, se fez obediente ao Pai até a morte e morte de Cruz (cf. Fl 2,5-8). Quem na Igreja sempre apela para a democracia, não é capaz de obediência e nem de comunhão.
  • Consciência de hierarquia: outra atitude muito significativa de comunhão na vida eclesial é a consciência de hierarquia das verdades da fé. Nem tudo na Igreja tem o mesmo peso e a mesma medida. A Igreja não pode desfazer aquilo que Cristo estabeleceu, bem como não pode contrariar as exigências do Evangelho. Não há somente hierarquia do ponto de vista teológico, mas também organizacional, moral, pastoral, etc. No que diz respeito à polêmicas e conflitos vale o que declarou Santo Agostinho: “No essencial, unidade; no não essencial, liberdade; mas em tudo, Caridade”. A Caridade é a plenitude das exigências da fé (cf. Rm 13,10).
  • Tudo está interligado: a comunhão autêntica pressupõe que cada fiel tenha consciência de que há uma íntima interdependência entre as dimensões da vida eclesial. Por exemplo, há uma relação íntima entre a dimensão bíblica, teológica, moral, pastoral, etc. Nenhuma dimensão é avulsa, estanque, independente. Isso significa que nenhuma dimensão pode avançar isoladamente sem causar impacto negativo sobre o corpo eclesial. As dimensões eclesiais são todas interdependentes e comunicantes entre si.
  • Discernimento colegiado: a Igreja é chamada continuamente a crescer na sua dinâmica sinodal, ou seja, no treinamento do “caminhar juntos”; o discernimento colegiado é uma das mais brilhantes consequências da comunhão fraterna e da união; por isso não há espaço na Igreja para aqueles que têm uma mentalidade centralizadora e autocrática. O discernimento comunitário faz parte da dinâmica do ser Igreja que se faz presente em todos os níveis eclesiais: comunitário, paroquial, diocesano; nas conferências episcopais e na Cúria Romana. A colegialidade tem como função consolidar a fidelidade da Igreja a Jesus Cristo, à dinâmica do Reino de Deus e aos tempos.
  • A solidariedade missionária: o espírito de comunhão eclesial estimula cada fiel a dar a sua contribuição para o desenvolvimento da sua missão que é evangelizar. São Paulo estimulou as comunidades do seu tempo a crescerem na experiência da solidariedade missionária. Isso corresponde à atenção para com as necessidades da evangelização, em vista da promoção do Reino de Deus. “Saibam de uma coisa: quem semeia com mesquinhez, com mesquinhez há de colher; quem semeia com generosidade, com generosidade há de colher. Cada um dê conforme decidir em seu coração, sem pena ou constrangimento, porque Deus ama quem dá com alegria…” (2Cor 9,6-8).
  • A oração pela unidade da Igreja: Jesus orou pelo testemunho de unidade dos seus discípulos (cf. Jo 17). Dessa forma ele acentuou o fato de que a comunhão da Igreja não é puramente consequência dos esforços humanos, mas é Dom de Deus. Amar a Igreja significa rezar por ela para que brilhe no mundo como sinal permanente de unidade, comunhão fraterna e testemunhe que se nutre do dinamismo da Santíssima Trindade.

PARA REFLEXÃO PESSOAL:

  1. Por que as dimensões eclesiais são interdependentes entre si?
  2. Porque a comunhão exige esforço?
  3. Qual das atitudes a cultivar é a mais exigente e o que mais você acrescentaria?

Fonte: CNBB/ Norte2

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