Associacionismo juvenil e suas estruturas necessárias

Imagem de Rita Laura em Cathopic

Por Dom Antônio de Assis Ribeiro
Bispo auxiliar da Arquidiocese de Belém/PA

 

Introdução

Para que a experiência do associacionismo juvenil, a promoção de grupos, seja exitosa e cumpra sua finalidade educativo-pastoral, é necessário que sejam asseguradas as condições necessárias para tal. A experiência pedagógica de São João Bosco com os jovens de Turim no século XIX, apesar dos contextos tão diferentes daqueles de hoje, tem muito a nos oferecer.

Dom Bosco nos estimula a pensar e a promover estruturas socioeducativas e pastorais para que a educação e a evangelização dos jovens possam, de fato acontecer. Com sua experiência de pastoral juvenil nos apresenta uma série de importantes ingredientes necessários para que os grupos juvenis tenham longevidade, solidez, conteúdo, significatividade educativo-pastoral.

Sendo assim, os grupos ou Companhias fundadas e promovidas por Dom Bosco tinham, todas elas, as seguintes estruturas auxiliares: uma justificativa fundacional, objetivos específicos (o que deviam fazer), regulamento (com detalhes que até definiam os critérios de entrada, saída do grupo, disciplina etc), reuniões periódicas, agenda, momentos de formação, retiros espirituais, passeios, liderança (coordenação), reza do terço, confissão, acompanhamento, tempos de lazer, participação nas eucaristias, atividades sociais, momento de adoração ao santíssimo, uma solenidade de destaque ao longo do ano de acordo com a Companhia, novenas, programação especial para os tempos litúrgicos especiais como quaresma, páscoa etc. Com toda essa estrutura comum a todos os grupos, era natural que tivessem vida longa e fossem profundamente significativos no meio da massa. Reflitamos sobre alguma dessas importantes condições.

  1. A necessidade de um projeto

Sem um projeto concreto e claro qualquer grupo fica sem identidade definida. A ausência de identidade promove o “genericismo associativo” que tem como consequência a falta do sentido de pertença. Cada grupo deve congregar participantes a partir do seu projeto específico porque gera sentimento de atração pelas qualidades do grupo com sua missão, seus valores, suas metas, seus distintivos específicos.

O projeto do grupo com tudo aquilo que lhe é próprio e lhe distingue dos outros, estimula nos seus participantes um estilo específico. Um grupo sem projeto fica à deriva das circunstâncias os dos seus líderes. Não basta uma camisa como distintivo, é preciso que haja definição de missão, valores, estilo de vida, sensibilidade, atividades específicas. Isso é muito importante também pela necessidade de se evitar conflitos.

A identidade de cada grupo é evidenciada pelo seu carisma próprio. Isso significa que quem deve entrar num referido grupo, fará parte dele por causa puramente de amigos, mas porque se identifica com uma causa. A identidade carismática do grupo é a primeira fonte de formação dos componentes do mesmo.

  1. A importância da liderança

Não deve haver grupo sem uma coordenação definida. Mas o perfil das lideranças internas deve naturalmente depender da assimilação do carisma e da missão do grupo dentro da comunidade. Quando um líder, que não assimilou o carisma, assume a liderança do grupo, tende a promover desvios da razão de ser do grupo.

A identidade do grupo é preservada quando já está definida num regulamento, projeto ou estatuto escrito. Quando num grupo não há referências orientativas objetivas, facilmente o grupo entra em crise por causa dos conflitos internos e interesses pessoais. Não basta ser líder para coordenar um grupo; é preciso que o projeto do grupo seja conhecido, assimilado, respeitado, aprofundado.

Uma das funções mais significativas do serviço de coordenação de um grupo (coordenador, vice-coordenador, secretário…) é aquela de juntos e corresponsavelmente, e por tempo determinado, promoverem o cumprimento da missão do grupo numa dinâmica fidelidade criativa, propositiva, inovadora. Outro fator importante da liderança é a dinâmica da colegialidade no serviço de coordenação do grupo, ou seja, é necessário que ninguém fique isolado no serviço de animação de um grupo. Muitas vezes, isso gera o personalismo que acaba contribuindo para inibir o surgimento de novos líderes.

  1. A promoção do protagonismo juvenil

A promoção do associacionismo é uma maravilhosa estratégia de promoção do protagonismo juvenil. A experiência de grupo estimula o despertar e o desenvolvimento de talentos, bem como o desejo de juntos darem respostas para os problemas da comunidade em cada contexto, a partir da identidade e carisma do grupo.

O protagonismo juvenil se desenvolve e se consolida nos jovens lá onde há espaço de confiança, margem de liberdade, incentivo educativo, abertura para a assunção de responsabilidades. O protagonismo acontece quando os jovens superam a infantilidade da mera dependência passiva que os leva a reclamar de tudo, para serem promotores de ideias, projetos, iniciativas concretas. O protagonismo é sinal de maturidade humana.

  1. A formação integral

Outro ítem de fundamental importância para o associacionismo juvenil é a formação dos membros dos grupos. O grupo deve ser concebido como uma estratégia formativa. Não basta que os adolescentes e jovens estejam juntos, é necessário que haja e se promova o acompanhamento formativo. Visto que nem sempre é positivo o condicionamento do grupo sobre o indivíduo, é importante a reflexão de conteúdos que esclareçam ideias, estimule a prática de virtudes, aponte horizontes a serem buscados.

A formação deve ser integral, capaz de considerar o maior número possível de dimensões, sobretudo, a formação humana, moral, doutrinal, espiritual. Quando a formação de um grupo é levada a sério seus líderes, bem assessorados, organizam um plano de formação específico para cada ano.

Muitas podem ser as atividades formativas a serem cuidadosamente programadas ao longo do ano, como por exemplo, retiros, palestras, passeios, rodas de conversas, debates, leitura orante da Bíblia, atividades culturais etc. A formação evita que o grupo caia no mal da rotina tarefeira e ativista. Trata-se de uma lamentável realidade que leva muitos grupos, associações e instituições ao esvaziamento e ao estresse. 

  1. Planejamento e agenda

O dinamismo da vida dos grupos deve entrar num planejamento dentro da paróquia ou da instituição em que o grupo está inserido. Sem planejamento acontecem conflitos, desencontros de expectativas, ações paralelas, choques de atividades, frustrações, disputas por espaço, desvio de atividades.

Quando isso acontece, o grupo deixa de ser um instrumento promotor da vida da instituição e, por outro lado, contribui para a desarmonia do todo. A função de um planejamento bem articulado é assegurar que a contribuição de cada “força viva”, grupo, pastoral, associação ou movimento, contribua para a promoção da missão comum, que é aquela de evangelizar. Todas as formas associativas na Igreja tem como missão a evangelização dos seus membros e dos outros.

Não basta que cada grupo faça a sua agenda; é preciso que se promova a articulação harmoniosa de todos os sujeitos. A questão da sinodalidade que envolve todas as forças vivas de uma paróquia, só é possível se houver liderança disciplinada, convergência de mentalidade, diálogo permanente, reconhecimento dos diversos níveis de importância de atividades.

PARA A REFLEXÃO PESSOAL:

  1. Por que muitos grupos paroquiais têm vida curta?
  2. O que mais contribui para o fortalecimento de um grupo?
  3. Por que a identidade de um grupo é tão importante? O que é o “genericismo associativo”?

Fonte: CNBB Norte2

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