A Senhora da Glória

Por Frei Almir Guimarães

 

Hoje, a Virgem Maria, Mãe de Deus,
foi elevada à glória do céu.
Aurora e esplendor da Igreja triunfante,
ela é consolo e esperança para o povo
ainda em caminho,
pois preservaste da corrupção da morte,
aquela que gerou de modo inefável,
vosso próprio Filho feito homem,
autor de toda a vida.
Prefácio da solenidade da Assunção

Nossa viagem no tempo

Nossa vida pode se comparar a uma viagem através do tempo. Entre o nascer e o morrer atravessamos planícies, escalamos montanhas, andamos com facilidade ou precisamos de apoios. Vamos colocando gestos, pensamentos e ações. E tudo passa. Não conseguimos reter essa sucessão de coisas, de estados interiores, esse incessante fluir.

Vamos modelando nosso rosto interior ao longo do tempo que passa. Não somos seus proprietários. O Senhor é o dono do tempo. Tudo passa. Há tempo para tudo, como diz o Eclesiastes: tempo para rir e para chorar, para trabalhar e descansar, tempo para viver e morrer.

A impressão que temos é que há tempos fortes e vigorosos que, de alguma forma, deixam marcas para sempre. Pensamos nas boas ações feitas no tempo. Há, de outro lado, o tempo das coisas mortas. Fica, de alguma forma, o bem que foi feito. Terrível pensar nesses tempos vazios, tempos em que nos ocupamos demais de nós mesmos, esquecemos o Senhor, tempos marcado pelo pecado.

Uma existência sem tempos mortos

Hoje, solenidade da Assunção de Maria, a cheia de graça, o tabernáculo do Senhor, a mãe da divina graça comemoramos o tempo de Maria que se transformou em eternidade. Vivera ela também sob o signo do efêmero e o transitório. Vicissitudes, vida de menina moça, a promessa de casamento, o anúncio da chegada do Menino, sua trajetória. Nasce num cantinho da Palestina: cuidado com o pão cotidiano, ramalhete de preocupações e de sofrimentos, buquê de alegrias, horas cinzentas e momentos doloridos como todos vivemos.

Nesse caminhar, por graça de Deus, Maria não conheceu a tragédia do pecado, dessa fissura interior, desse desejo de fazer o bem e, na realidade, fazer o mal. Nada teve Maria de que se arrepender, de renegar qualquer coisa de seu passado. Quando terminou sua carreira estava pronta para entrar na glória. Não conheceu tempos mortos.

Fixando nosso olhar nessa mulher agraciada vemos aquela na qual o Senhor opera maravilhas, uma fiel serva do Senhor que levava para o fundo do coração, aquela que uniu sua história com a história de Jesus no alto do monte do Gólgota. A Igreja nos ensinou que, ao entrar no mundo, ela não conheceu a desgraça do pecado. Pura em todo o seu ser por privilégio. Elevada à glória depois da caminhada. Imaculada em sua conceição. Maria é a porteira da glória. Está nos espaços espirituais que chamamos de céu, de glória, por isso seu nome é Maria da Glória, Maria do face a face eterno. Nós que não fomos privados do pecado, mas resgatados pela paixão, morte e ressurreição de Jesus também nos destinamos à pátria… Por graça de Deus nosso tempo vai ganhando características de para sempre.

Na Constituição Apostólica que declarou o dogma da Assunção de Maria (1° de novembro de 1950), o então Papa Pio XII cita São João Damasceno: “Convinha que aquela que guardara ilesa a virgindade no parto, conservasse seu corpo, mesmo depois da morte, imune de toda corrupção. Convinha que aquela que trouxera no seio o Criador como criancinha fosse morar nos tabernáculos divino dos céus. Convinha que, tendo demorado o olhar em seu Filho na cruz e recebido no peito a espada da dor, ausente no parto, o contemplasse assentado junto do Pai. Convinha que a Mãe de Deus possuísse tudo o que pertence ao Filho e fosse venerada como mãe e serva de Deus”.

Nesse mesmo documento o Papa Pio XII: “Por conseguinte, desde toda a eternidade unida misteriosamente a Jesus Cristo, pelo mesmo desígnio de predestinação, a augusta Mãe de Deus, imaculada na concepção, virgem inteiramente intacta na divina maternidade, generosa companheira do divino Redentor, que obteve pleno triunfo sobre o pecado e suas consequências, ela alcançou ser guarda imune da corrupção do sepulcro, como suprema coroa dos seus privilégios. Semelhantemente a seu Filho, uma vez vencida a morte, foi levada em corpo e alma à pátria celeste, onde, rainha, refulge à direita de seu Filho o imortal rei dos séculos”.


Texto para oração

Maria, no coração do mundo,
no começo dos tempos,
na aurora de nossas vidas.

Maria, na noite de Belém
que dá a terra a Deus.

Maria, ternura e fidelidade,
tendo a Vida em nossas mãos.

Maria, doce e frágil,
a força e a luz,
pobre e humilde,
a glória e a riqueza.

Maria, ao pé da cruz,
mãe e filha, só,
traspassada e radiante,
humana em teu sofrimento,
divina em teu semblante.

Maria, mãe de nosso salvador,
salvadora tu mesma para nosso mundo perdido, sem rota.

Maria, filha e mãe de nossa humanidade,
ao pé da cruz.

Maria, nossa força e nossa luz,
nossa glória e nossa riqueza.

Maria, na manhã de Páscoa
discreta e quase ausente,
Maria do dias de alegria,
feliz e esquecida.

Maria, nossa alegria e nosso sorriso,
mão estendida ao pecador,
socorro dos aflitos,
Maria – perdão.

Maria, em Pentecostes,
fortaleza dos apóstolos,
sustentáculo nosso na tormenta de nossas incertezas.

Maria, nossa esperança,
que a cada dia dás ao mundo
nosso Deus.

Fonte: franciscanos.org.br


FREI ALMIR GUIMARÃES, OFMingressou na Ordem Franciscana em 1958. Estudou catequese e pastoral no Institut Catholique de Paris, a partir de 1966, período em que fez licenciatura em Teologia. Em 1974, voltou a Paris para se doutorar em Teologia. Tem diversas obras sobre espiritualidade, sobretudo na área da Pastoral familiar. É o editor da Revista “Grande Sinal”.

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