A Páscoa e o essencial da fé cristã

Dom Jaime Spengler
Arcebispode Porto Alegre (RS)

 

Conta a lenda que “uma abadia atravessava uma crise. No passado, albergou muitos monges jovens. Agora estava deserta. Só alguns velhos monges perambulavam pelos corredores e louvavam a Deus com o coração pesado.

Na mata vizinha, um rabino construiu para si uma cabana. De vez em quando, vinha ali para orar e jejuar. Nunca ninguém lhe dirigiu a palavra, mas cada vez que voltava à sua cabana, a notícia circulava entre os monges: ‘O rabino passeia debaixo das árvores’. E enquanto ele ali permanecia, os velhos monges sentiam-se rejuvenescer pelo seu exemplo.

Um dia, o abade decidiu visitá-lo. Depois da missa da manhã, dirigiu-se ao bosque. Aproximando-se, viu o rabino junto da entrada, de braços estendidos em sinal de boas-vindas. Os dois homens abraçaram-se como irmãos que estavam há tempos separados e que agora se encontravam. Depois permaneceram um em face do outro e sorriram demoradamente.

O rabino convidou o abade a entrar na cabana. No meio, havia uma mesa de madeira, sobre a qual estava a Bíblia aberta. Sentaram-se na presença do livro.

De repente o rabino começou a soluçar. Contagiado, o abade não pode resistir e, cobrindo a face com as mãos, pôs-se a chorar também. Pela primeira vez na sua vida ele esvaziava o seu coração.

Quando a fonte estancou, o rabino disse: vocês servem a Deus com um coração pesado. Vieste buscar a luz perto de mim. Vou dizer-te um segredo que vós podereis repetir só uma vez.

O rabino olhou o abade nos olhos e disse-lhe: o Messias encontra-se entre vós. Fez-se silêncio. Depois, disse: agora é melhor que te vás. O abade partiu sem dizer uma palavra.

Na manhã seguinte, reuniu os monges. Disse-lhes do segredo recebido, e que nunca mais deveria ser repetido. Olhando seus irmãos nos olhos, disse: o rabino disse que um de nós é o Messias. Os monges ficaram estupefatos. O que significa?, perguntaram. Frei João é o Messias ou Frei Mateus ou Frei Tomás? Que significa isto? Estavam perturbados com o segredo do rabino, mas ninguém mais falou nele.

À medida que o tempo passava, os monges começaram a tratar-se uns aos outros com delicadeza e atenção. Reinava entre eles uma cordialidade e uma qualidade de relações que todo mundo podia notar. Conviviam como se tivessem descoberto algo, e todos rezavam e estudavam a Escritura como homens que procuravam algo.

Os hóspedes que passavam por ali ficavam impressionados pela maneira de orar daqueles homens e pela qualidade do seu acolhimento. Fiéis vieram de todos os lados para se alimentar da vida de oração dos monges”.

Caminho privilegiado para a graça do encontro com o Ressuscitado é o exercício do encontro com a Palavra, os Sacramentos e os irmãos e irmãs.

As celebrações da Páscoa são oportunidade para reencontrar o essencial da fé cristã: a Palavra, os Sacramentos e a vida em comunidade dos irmãos e irmãs.

CNBB

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