Por Pe. Juan Javier Flores Arcas, OSB
Reitor do Pontifício Instituto Litúrgico de Santo Anselmo – Roma
O ontem messiânico, o presente atual e esperançoso, o futuro profético
A vinda de Cristo é antiga e é nova.
É um fato passado que se atualiza na celebração litúrgica. A Igreja é antes de tudo a esposa de Cristo, único sumo sacerdote. Neste sentido, é a receptora dos sacramentos, mas não a produtora nem a criadora. A Igreja reelabora os sacramentos como colaboradora do esposo de quem recebe a vida e tudo para poder atuar.
Por isso o sentido e fim da celebração litúrgica é precisamente o de fazer participar a todas as gerações ativamente na obra da salvação de Cristo. No tempo de Advento a obra de salvação se expressa de maneira escatológica. Trata-se do Cristo Juiz, Senhor, Rei, que virá no final dos tempos. É o Cristo em Majestade dos grandes mosaicos das catedrais.
O mistério do culto litúrgico faz possível que a eternidade irrompa no tempo para que o mistério originário chegue a celebrar-se, e a salvação contida na ação salvífica passada alcance a cada geração.
Portanto a Escritura, a Liturgia e os Padres anunciam sempre a morte do Senhor, certamente como morte salvífica, como núcleo central do mistério do culto: «mortis Dominicae mysteria». A morte tem como consequência a vida de Cristo. Dirá o liturgista Odo Casel que à Jesus Cristo, chegamos através do Jesus histórico, assim também à Ressurreição chegamos pela morte.
A ação salvífica de Cristo nos conduz à sua Páscoa e nos faz, por seu Espírito, participar dela e ser transformados pela própria Páscoa de Cristo morto e ressuscitado, para passar assim à vida e à vida eterna. «Cristo atua verdadeiramente nos sacramentos como o sumo sacerdote de sua Igreja, que a liberta através de sua ação salvadora e a conduz à vida», dizia Odo Casel.
O tempo do Advento conduz a Igreja ao limiar de sua existência, daí que a grande característica do Advento deverá ser a esperança. Escutamo-lo neste primeiro domingo: «Deus vos chamou a participar na vida de seu Filho, Jesus Cristo, Senhor nosso». Somos chamados a realizar plenamente o plano de Deus sobre todos e cada um de nós. Recorda-nos o Advento que, no presente se nos apresenta o futuro.
O Advento é um tempo real e atual. Enquanto escutamos as profecias ainda não realizadas, vemos passar o mundo ante nossos olhos e ansiamos por esse mundo que virá e que já começamos a viver e a preparar no presente.
Enquanto esperamos o amanhã, feliz e desejado, trabalhamos no presente, atual e esperançoso e olhamos o passado (vindo na carne mortal de Cristo) e nos lembramos de ter tido o Messias entre nós, e tomamos força em nossa carne que foi a sua e que, portanto, está cheia da força salvífica que ele infundiu.
O Advento é um tempo real e presente que, ao ver o ontem messiânico, nos lança para o futuro profético. Em todo o processo está a Trindade Santa: o Pai que cria, o Filho que vem a este mundo a recriá-lo e o Espírito Santo que o santifica e o une no amor.
Fonte: Franciscanos