A jornada do Ressuscitado

Por Dom Lindomar Rocha Mota
Bispo de São Luís de Montes Belos (GO)

 

De início foi apenas um murmúrio, mas algumas irmãs que correram ao Túmulo de Jesus o encontraram vazio. Estupor e tormenta perturbaram seus corações, mas alguém as recomendou de contar este fato a Simão Pedro e aos outros, dizendo-lhes que Ele havia Ressuscitado. 

Elas voltaram e deram esta notícia. Encontraram somente Simão Pedro e João despertos. Os dois correram pelas ruas de Jerusalém para verem com os próprios olhos se de fato Jesus não estava lá. Correram juntos, mas João, o mais amado, chegou primeiro. Aliás, é próprio do amor chegar antes. O amor corre sem empecilho ou desvio, ele apenas contempla o objeto amado, por isso João chegou primeiro.  

É verdade, porém, que o amor é paciente. Não se envaidece nem é orgulhoso. Por isso parou na entrada do túmulo e esperou Simão Pedro chegar. Foi a Simão que Jesus mandou dar a notícia por primeira (Mc 16,7). Primeiro a ele, depois aos outros. Uma verdade candente em nosso tempo, quando muitos, movidos por carismas ou condições favoráveis, alardeiam-se a entrarem primeiro no túmulo. Expondo “verdades” que a Igreja ainda não atestou e levando muitos ao perigo do engano e da falsidade. 

A pressa e a imprudência não são características do amor. Ele chega antes, é bem verdade, mas sabe sentar-se no pórtico e esperar quem é de direito para atestar a revelação. João chegou antes porque era o discípulo que Jesus amava e o amava igualmente de volta. Maria Madalena chegou primeiro porque muito amava. Em ambos os casos, nenhum arrogou para si a missão que não lhe pertencia. 

O murmúrio virou fato, e as mulheres o viram vivo (Mt 28,9). Uma nova recomendação lhes foi dada. Jesus mandou que se alegrassem e espalhasse essa boa notícia aos discípulos e ao mundo. 

Até os que já haviam esmorecido e estavam saindo de Jerusalém, retornaram (Lc 24,13). O Senhor foi ao encontro deles e, vivo de novo, deu-lhes coragem para retornarem ao caminho da missão. Alegria e paz começam a fecundar o mundo, e o medo da morte começa a se esvair. 

Os mesmos homens que disseram antes, “A ele, porém, ninguém o viu”, abriram os olhos e reconheceram Jesus no caminho para Emaús. 

É o Senhor! Parece não haver mais dúvidas, Ele está vivo e caminha novamente no meio de nós. 

Essa história estava crescendo. Contaram muitas coisas sobre como Ele Ressuscitado repartiu e pão e se deu a conhecer. Estavam falando e se admirando com o pode de Deus, que abre os corações e desanuvia os olhos. Jesus, então, apareceu a todos os nossos irmãos mais de uma vez (Lc 24,36). 

O Ressuscitado, agora, traz uma nova saudação: Pax vobis! A paz esteja convosco, é a paz que herdamos ainda hoje. É com ela que recuperamos o ânimo de viver neste mundo sem temer a mais nada. 

A sua Ressurreição nos acalma e tranquiliza. Nenhuma missão é demasiadamente grande ou impossível, porque Ele caminha conosco. Esta experiência foi partilhada desde aqueles primeiros dias, quando retirados para pescar e sem conquistar o êxito esperado, os discípulos ouviram o que lhes ordenou Jesus Ressuscitado e lançaram a rede mais uma vez, ficando espantados e maravilhados. Desde o dia em que o discípulo a quem Jesus amava disse a Pedro: “É o Senhor!” (Jo 21,7), que nossa coragem foi elevada a outro patamar. Saímos das penumbras da fragilidade humana e com a alegria e paz resistimos até hoje naquele que foi o seu último mandamento para nós: “Ide pelo mundo inteiro e anunciai o Evangelho a toda criatura!” (Mc 16,15). 

Fonte: CNBB

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