A Igreja em saída de Paulo

Audiência Geral no Pátio São Dâmaso (Vatican Media)

Reflexão do padre Luigi Maria Epicoco, publicada no jornal L’Osservatore Romano, sobre as palavras do Papa na Audiência Geral da quarta-feira (23). Catequese centrada na Carta aos Gálatas

 

Por Luigi Maria Epicoco

O Papa Francisco inaugurou hoje um novo ciclo de catequeses dedicado à Carta aos Gálatas. São Paulo encarna plenamente esse ideal da Igreja em saída que o Papa recorda com frequência a toda a Igreja para nunca perder de vista a sua primordial e essencial obra missionária que é sempre uma missão de “atração”, segundo a eficaz expressão do Papa Emérito Bento XVI, “a Igreja cresce não pelo proselitismo, mas pela atração”. Esta missão/atração significa que o evento cristão é sempre um evento mesclado com a biografia pessoal de cada discípulo e anunciador do Evangelho.

A credibilidade, ou melhor, a autoridade de uma proclamação, passa sempre pela concretização da experiência. A palavra da testemunha tem uma unção maior do que a simples palavra do mero competente. O Papa Francisco destacou em sua catequese, como o texto da Carta aos Gálatas é uma “Carta muito importante, diria até decisiva”, disse o Pontífice, “não só para conhecer melhor o Apóstolo, mas sobretudo para considerar alguns dos temas que ele aborda em profundidade, mostrando a beleza do Evangelho”. “Nesta Carta”, continuou o Papa, “Paulo faz muitas referências biográficas que nos permitem conhecer sua conversão e a decisão de dedicar a vida ao serviço de Jesus Cristo”. A experiência da fundação da Igreja da Galácia é um unicum significativo porque, pela própria admissão de Paulo, sua estada naquela região foi por causa da doença (cf. Gal 4,13). “A evangelização”, acrescentou o Papa, “nem sempre depende da nossa vontade e dos nossos projetos, mas requer a disponibilidade a deixar-nos plasmar e seguir outros caminhos que não estavam previstos”.

Outro elemento fundamental que o Papa sublinhou é a força que vem das “pequenas comunidades” que são mais eficazes do que o desejo de encontrar imediatamente experiências grandes e visíveis: “Paulo, quando chegava a uma cidade, a uma região – acrescentou o Papa – não construía imediatamente uma grande catedral, não. Estabelecia as pequenas comunidades que são o fermento da nossa cultura cristã de hoje. Começava com as pequenas comunidades. E estas pequenas comunidades cresciam, cresciam e iam em frente. Também hoje este método pastoral é realizado em cada região missionária”.

A realidade, com tudo o que vai além de nossos esquemas e cálculos, torna-se o verdadeiro lugar onde podemos escutar a vontade de Deus. E a realidade não está livre de áreas sombrias e contradições. A comunidade dos Gálatas também experimenta desafios e riscos: “De fato, alguns cristãos vindos do judaísmo tinham-se infiltrado nestas igrejas e astutamente começaram a semear teorias contrárias aos ensinamentos do Apóstolo, chegando ao ponto de o difamar”. A resistência para entrar em uma nova lógica faz sobressair toda a força do Apóstolo que parte justamente desta fadiga e perplexidade para afirmar claramente que a liberdade que Cristo obteve para nós não tem necessidade de nostalgias reconfortantes do passado, nem de fugas ideológicas para o futuro, mas a capacidade de ver na mudança a verdadeira fidelidade à tradição: “Ainda hoje, não faltam pregadores que, especialmente através dos novos meios de comunicação, podem perturbar as comunidades. Apresentam-se não para anunciar o Evangelho de Deus que ama o homem em Jesus Crucificado e Ressuscitado, mas para reiterar com insistência, como verdadeiros ‘guardiães da verdade’ – assim se consideram – qual é a melhor maneira de ser cristão”. Eis o motivo da escolha do Pontífice de aprofundar o texto da Carta aos Gálatas que “nos ajudará a compreender qual caminho seguir”.

O caminho que o Apóstolo indicou é aquele libertador e sempre novo de Jesus Crucificado e Ressuscitado; é o caminho do anúncio, que se realiza através da humildade e da fraternidade, os novos pregadores não sabem o que é humildade nem fraternidade; é o caminho da confiança mansa e obediente, os novos pregadores não conhecem a mansidão nem a obediência. E este caminho manso e obediente vai em frente, na certeza de que o Espírito Santo age em cada época da Igreja. Em última instância, a fé no Espírito Santo presente na Igreja, leva-nos em frente e nos salvará.

Fonte: Vatican News

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