A Amizade no magistério do Papa Francisco (parte 4)

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Por Dom Antônio de Assis Ribeiro
Bispo Auxiliar da Arquidiocese de Belém (PA)

 

  1. No seu primeiro documento, a Carta Encíclica Lumen Fidei (2013) sobre a Fé, o Papa Francisco nos recorda que a experiência de compromissos comuns, de amizade e de partilha da mesma sorte, são questões que evidenciam a unidade e a integridade da nossa fé; “a experiência do amor diz-nos que é possível termos uma visão comum precisamente no amor: neste, aprendemos a ver a realidade com os olhos do outro e isto, longe de nos empobrecer, enriquece o nosso olhar. O amor verdadeiro, à medida do amor divino, exige a verdade e, no olhar comum da verdade que é Jesus Cristo, torna-se firme e profundo. Esta é também a alegria da fé: a unidade de visão num só corpo e num só espírito” (cf. LF, 47).
  2. Na Exortação Apostólica Evangelii Gaudium (2013), o Papa Francisco pela primeira vez usa o termo “amizade social”; antes nos fala da experiência de fé com encontro com o Amor de Deus, pelo qual “somos resgatados da nossa consciência isolada e da autorreferencialidade. Chegamos a ser plenamente humanos, quando somos mais do que humanos, quando permitimos a Deus que nos conduza para além de nós mesmos a fim de alcançarmos o nosso ser mais verdadeiro” (EG, 8). O sonho de uma decidida opção missionária estimula a Igreja a sair da “autopreservação” a reformar suas estruturas em vista da conversão pastoral; isso lhe possibilita estar em constante saída para oferecer a todos a pessoa de Jesus Cristo e sua amizade (cf. EG, 27). Por isso, conclui Francisco: “Saiamos, saiamos para oferecer a todos a vida de Jesus Cristo!… Prefiro uma Igreja acidentada, ferida e enlameada por ter saído pelas estradas, a uma Igreja enferma pelo fechamento e a comodidade de se agarrar às próprias seguranças… Mais do que o temor de falhar, espero que nos mova o medo de nos encerrarmos nas estruturas que nos dão uma falsa proteção, nas normas que nos transformam em juízes implacáveis, nos hábitos em que nos sentimos tranquilos, enquanto lá fora há uma multidão faminta…” (EG 49). Está claro para o Papa Francisco que a amizade com Cristo não deve ser intimista e estéril, mas aberta e missionária. Diante do desafio da manutenção da comunhão nas diferenças, afirma Francisco “é necessário postular um princípio que é indispensável para construir a amizade social: a unidade é superior ao conflito” (EG, 228).
  3. O Papa Francisco na Encíclica Laudato si’ (2015) nos convida a promover a ecologia integral capaz de impregnar o amor em todos os níveis de relações. “Se tudo está relacionado, também o estado de saúde das instituições duma sociedade tem consequências no ambiente e na qualidade de vida humana: «toda a lesão da solidariedade e da amizade cívica provoca danos ambientais» (LS, 142; Bento XVI, CV, 51). O Amor civil promove o cuidado da natureza que faz parte dum estilo de vida que implica capacidade de viver juntos, em comunhão, gratuitamente. Assim podemos falar duma fraternidade universal (cf. LS, 228). “É necessário voltar a sentir que precisamos uns dos outros, que temos uma responsabilidade para com os outros e o mundo, que vale a pena ser bons e honestos” (LS, 229). A ecologia integral pressupõe atenção aos pequenos gestos do cotidiano que semeiem paz e amizade pelos quais quebramos a lógica da violência, da exploração, do egoísmo (cf. LS, 230). A Igreja propõe ao mundo o ideal da «civilização do amor» que é a chave para um desenvolvimento autêntico; para que tenhamos uma sociedade mais humana, mais digna da pessoa, é necessário revalorizar o amor na vida social (cf. LS, 231).
  4. Na Bula de Proclamação do Jubileu Extraordinário da Misericórdia (50 anos do Concílio Vaticano II), Misericordiae Vultus (2015), o Papa Francisco afirma que o Ano Santo é tempo oportuno para fazer a experiência de abrir o coração àqueles que vivem nas mais variadas periferias existenciais, sair da indiferença que anestesia o espírito e do cinismo que destrói; é oportunidade para abrir os nossos olhos para ver as misérias do mundo, as feridas de tantos irmãos e irmãs… “As nossas mãos apertem as suas mãos e estreitemo-los a nós para que sintam o calor da nossa presença, da amizade e da fraternidade” (MV,15).
  5. A Exortação Apostólica sobre o Amor na Família (Amoris Laetitia, 2016), afirma que entre os diversos bens do matrimônio estão a unidade, a abertura à vida, a fidelidade, a indissolubilidade e também a ajuda mútua no caminho que leva a uma amizade mais plena com o Senhor (cf. AL,77). “Depois do amor que nos une a Deus, o amor conjugal é a «amizade maior». É uma união que tem todas as características duma boa amizade: busca do bem do outro, reciprocidade, intimidade, ternura, estabilidade e uma semelhança entre os amigos que se vai construindo com a vida partilhada” (AL,123). “O matrimónio é uma amizade que inclui as características próprias da paixão, mas sempre orientada para uma união cada vez mais firme e intensa…. Esta amizade peculiar entre um homem e uma mulher adquire um caráter totalizante, que só se verifica na união conjugal. E precisamente por ser totalizante, esta união também é exclusiva, fiel e aberta à geração” (AL,125). “O amor de amizade unifica todos os aspectos da vida matrimonial e ajuda os membros da família a avançarem em todas as suas fases. Por isso, os gestos que exprimem este amor devem ser constantemente cultivados, sem mesquinhez, cheios de palavras generosas” (AL,133). “As famílias magnânimas e solidárias abrem espaço aos pobres, são capazes de tecer uma amizade com aqueles que estão a viver pior do que elas” (AL,183). As comunidades cristãs são chamadas a acompanhar os noivos para que possam crescer na experiência da Amizade e da Fraternidade dentro da comunidade da qual fazem parte (cf. AL, 207).
  6. Na Exortação Apostólica Gaudete et Exsultate (2018) sobre a santidade no mundo atual, o Papa Francisco falando da gratuidade do Amor de Deus afirma que “sua amizade nos supera infinitamente, não pode ser comprada por nós com as nossas obras e só pode ser um dom da sua iniciativa de amor. Isto convida-nos a viver com jubilosa gratidão por este dom que nunca mereceremos, uma vez que, «depois duma pessoa já possuir a graça, não pode a graça já recebida cair sob a alçada do mérito» (cf. GetE, 54.55). Os pacíficos são fonte de paz, constroem paz e amizade social. Aqueles que semeiam a paz por toda parte o “serão chamados filhos de Deus” (Mt 5,9) (cf. GetE,88).
  7. Na Exortação Apostólica pós-sinodal, Querida Amazônia (2020), no quinto capítulo quando se fala de um sonho eclesial, afirma-se que a Igreja, chamada a caminhar com os povos da Amazônia, não dá respostas sozinha às suas necessidades e angústias; age em parceria com muitas outras organizações sociais, contudo, em fidelidade a Jesus Cristo. Pois aqueles que já o encontraram e vivem na sua amizade, se identificam com a sua mensagem (cf. QA, 62).

PARA A REFLEXÃO PESSOAL:

  1. Por que a experiência da “amizade social” nos liberta da autorreferencialidade?
  2. Qual é a relação entre a amizade e o sonho da civilização do amor?
  3. Por que a amizade é importante para a vida de família?

Fonte: CNBB Norte2

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