Por Dom Antônio de Assis Ribeiro, SDB
Bispo Auxiliar da Arquidiocese de Belém (PA)
No dia 20 de abril foi divulgado que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva sancionou a Lei 14.552, que colocou o nome da Dra. Zilda Arns Neumann, médica pediatra, sanitarista e fundadora da Pastoral da Criança, no Livro dos Heróis e Heroínas da Pátria. A lei foi publicada no Diário Oficial da União (DOU) no dia 24 de abril deste ano. O projeto de lei (PL) 1.937/2019, foi de autoria da ex-deputada federal Tereza Nelma, do Estado de Alagoas e aprovado no Senado em março de 2023.
A Dra. Zilda Arns nasceu no município de Forquilhinha, em Santa Catarina, no dia 25 de agosto de 1934; era irmã de Dom Paulo Evaristo Arns, que foi Cardeal e arcebispo de São Paulo. Ela foi portadora de uma fé comprometida, rica de sensibilidade humana e cheia de compaixão. Sensível ao problema da desnutrição infantil no Brasil, articulou a partir do seu ambiente de vida, uma rede de iniciativas em prol da saúde infantil que, mais tarde, se expandiu para todo o Brasil. Era a Pastoral da Criança! Hoje é uma das mais fortes redes de promoção do trabalho voluntário no Brasil em prol da maternidade e da infância. Além do Brasil a fecundidade da Pastoral da Criança, chegou em muitos países de toda a América Latina, Ásia e África.
A fecundidade da Pastoral da Criança fundada pela Dra. Zilda Arns, em total comunhão com o seu bispo Dom Geraldo Majela Agnello, Cardeal Arcebispo Primaz de São Salvador da Bahia, que era Arcebispo de Londrina, motivou a CNBB (Conferência dos Bispos do Brasil) a confiar-lhe a fundação, organização e coordenação da Pastoral da Pessoa Idosa. Hoje plenamente consolidada na Igreja Católica no Brasil.
A Dra. Zilda Arns morreu em pleno trabalho no dia 12 de janeiro de 2010 em Porto Príncipe (Haiti), vítima de um forte terremoto naquela cidade. As lições deixadas pela Dra. Zilda Arns são muitas. Para quem crê em Deus a Dra. Zilda ensina que “a fé sem obras é morta” (Tg 2,17); que a fé intimista e acomodada é vazia. Se Deus é amor, misericórdia, justiça… não podemos dizer que temos fé se não temos espírito de iniciativa em prol dos outros.
Para os fiéis católicos a vida da Dra. Zilda ensina que não basta participar das celebrações, cultos, missas, adoração, ter devoção, é necessário amar a Igreja e estar engajado, comprometido de qualquer forma promovendo o Reino de Deus.
Para médicos e profissionais da saúde a vida da Dra. Zilda é referência de amor à vida, de paixão pela dignidade humana, de cuidado preventivo; nela temos a competência profissional que transborda e se faz voluntariado. Como o mundo seria bem diferente se todo profissional fizesse a experiência do transbordamento dos seus saberes e habilidades e os colocassem a serviço dos mais pobres, doentes, carentes, sofredores. A felicidade profissional não vem do sucesso técnico, mas da experiência da ética que promove a vida com gratuidade e generosidade.
Para as mães ela é exemplo de cuidado materno, de sensibilidade preventiva, de solidariedade para com quem precisa e que estimula a promoção da rede de solidariedade. Isso é santidade! Para os jovens sua história é exemplo de uma vida carregada de sentido, de amor ao próximo, de luta pela justiça. Num mundo profundamente carente de modelos, a figura da Dra. Zilda colocada como Heroína, torna-se modelo a ser admirado e seguido. Em meios a tantos malfeitores, exultemos de alegria e ação de graças por nossos heróis e heroínas. Uma sociedade sem modelos, vive sem referências. Os jovens precisam de referências biográficas. Aliás, todos nós!
Fonte: CNBB Norte 2