Por Frei Almir Guimarães
Jesus, Jesus Cristo! Quanto se fala dele! Quantas vezes pronunciamos esse nome!!! Sua cruz está suspensa em paredes, suas imagens presentes em muitos espaços, suas palavras ainda repetidas. Mas quem é ele, de fato, para cada um de nós e para esse mundo do século XXI? Muitos ficam com ele, mas não querem a religião. Lá se foi uma cristandade, um tempo em que estava sempre presente, nem sempre corretamente presente. Talvez muitos tenhamo-nos acostumado com ele, ele que não admite “acostumações”. Jesus tem como marca registrada inquietar os que dele se aproximam. Pode ser que ao longo dos tempos e dos séculos fomos nos construindo caricaturas do Cristo. Impossível pintar seu retrato numa tela. Faltam-nos as melhores cores. Talvez não tenhamos acertado a receita para o encontro com ele. Quem é ele, afinal de contas?
♦ Antes de tudo devemos dizer que Ele vive. Não mais esse gênero de existência que vivemos. Esse que veio o Mistério da Trindade, da comunhão eterna de amor entre o Pai, o Verbo e o Sopro, esse que ganhou corpo, braços, pernas, voz, olhos, veio até nós revestido da fragilidade e das promessas de menininho deitado nas palhas. Terminou seus dias morrendo de amor no alto do madeiro. Veio do Mistério, falou-nos do Mistério. Morreu. Ressuscitou. Vive. Faz-se presente na história da humanidade. Cremos que ele vive.
♦ A primeira e basilar afirmação é esta: Ele vive, de uma vida nova, ele mesmo com seu corpo, diferente é verdade, junto do Pai e perto de nós com sua insinuante presença na Palavra, nos símbolos dos sacramentos e seus segredos, nos espaço de amor sem limites e no rosto dos mais sofridos.
♦ Ele veio como Mestre. Quer discípulos. Convocou ontem e convoca hoje pessoas para seu seguimento. Pessoas que vão, aos poucos, configurando seu semblante com os traços de um Mestre que buscam e amam. Vive a nos dizer: “Vinde e vede”.
♦ Insinua-se me nossas vidas de várias maneiras e modos: uma parábola que mexe com nossas entranhas, nas cruzes que podem se elevar diante de nós, no convite a que sejamos construtores de um mundo diferente, mundo de justiça de atenção para o que frágil, que tentemos custe o custar não deixar as pessoas jogadas à beira do caminho.
♦ Ele é pão, luz, pastor, caminho, verdade e nos leva ao modo diferente de viver que se chama conversão: o amargo pode ser doce. Quer que nos desvencilhemos de nós mesmos. Ele nos convoca, nos chama. Quer que adotemos um certo estilo de viver:
♦ “Para entrar pelo caminho aberto por Jesus é necessário entender muito bem que os evangelhos são relatos de conversão. Foram escritos para produzir fé em Jesus Cristo, para suscitar discípulos e seguidores. São relatos que convidam a entrar num processo de mutação, de mudança de identidade, de seguimento de Jesus, de identificação com sua causa, de colaboração com seu projeto do reino de Deus. Nesta atitude de conversão é que os evangelhos devem ser lidos, meditados, compartilhados, acolhidos e transmitido nos grupos. A primeira coisa que se aprende de Jesus nos evangelhos não é uma doutrina, mas um estilo de vida: uma maneira de estar na vida, uma forma de habitar o mundo, de interpreta-lo, de construí-lo; uma maneira de tornar a vida mais humana. O característico deste estilo de viver é que ele se inspira em Jesus. Nasce da relação com ele. É-nos transmitido seu Espirito. Aprendemos sua maneira de pensar, sentir, amar, orar, sofrer, criar, confiar e morrer. Pouco a pouco vamos convertendo-nos em discípulos e discípulas de Jesus” (Pagola, Voltar a Jesus, Vozes, p. 65).
Oração
Senhor, Tu és nossa luz.
Senhor, Tu és a verdade.
Senhor, Tu és a nossa paz.
Querendo acompanhar-nos te fizeste peregrino;
compartilhas nossa vida, nos mostras o caminho.
Não basta rezar a ti,
dizendo que te amamos;
devemos imitar-te,
amar-te nos irmãos.
Tu pedes que tenhamos humilde confiança;
Teu amor saberá encher-nos de vida e esperança.
Fonte: Franciscanos
FREI ALMIR GUIMARÃES, OFM, ingressou na Ordem Franciscana em 1958. Estudou catequese e pastoral no Institut Catholique de Paris, a partir de 1966, período em que fez licenciatura em Teologia. Em 1974, voltou a Paris para se doutorar em Teologia. Tem diversas obras sobre espiritualidade, sobretudo na área da Pastoral familiar. É o editor da Revista “Grande Sinal”.