Por Dom Antonio de Assis Ribeiro
Bispo auxiliar de Belém (PA)
Os tristes fatos de ameaças e ataques nas escolas que, atualmente vem acontecendo pelo país afora, são graves sinais de alerta acusando um profundo mal-estar social, que evidencia certo adoecimento socioafetivo e mental da sociedade. Somos chamados todos a refletir seriamente sobre essa sintomática realidade.
A atual exacerbada agressividade de crianças e adolescentes que explode em escolas e outros ambientes, como nos lares, ruas, clubes e praças, não é normal. É sinal de que está havendo um sério déficit de bons conteúdos que não lhes estão sendo oferecidos para serem assimilados no processo de desenvolvimento integral deles. Eles não podem ser, sumariamente, culpados. Essa questão é complexa e merece uma visão e aprofundamento multilateral e interdisciplinar. Nascemos em estado bruto, movidos simplesmente pelos nossos instintos; é o processo educativo que nos humaniza.
O desenvolvimento humano começa na família, mas está inserido na sociedade que, por sua vez precisa de instituições que são orientadas e ou geridas pelo Estado ou outras entidades. Contudo, estão todas dentro da cultura. Essa delicada questão que atualmente vivem as escolas envolve diretamente no mínimo cinco grupo de sujeitos: a família, a sociedade, a escola, os governos e a cultura em geral.
Vivemos numa cultura marcada por muitas formas de violências atingindo todas as áreas da sociedade e categorias de pessoas. A violência está disseminada na família, nas relações interpessoais, na criminalidade organizada, nas instituições, na política, na economia, nas religiões, nos esportes, nas redes sociais, no trânsito, no meio ambiente, na cultura da egolatria etc.
É dentro dessa moldura de violências, que nascem, crescem, estudam, convivem e respiram nossas crianças. Até mesmo o mundo do lazer infanto-juvenil está recheado de violência, como os jogos de vídeo games, seriados, filmes, “desafios”.
O princípio de subsidiariedade, que propõe a colaboração e corresponsabilidade entre todos os sujeitos da sociedade em vista da promoção do Bem Comum, convoca a família, a escola, governos, instituições de controle social, religiões, organizações de classe e a toda a sociedade para a renovação de um pacto pela educação. Ao centro desse mutirão deve estar a família, hoje, enfraquecida pela fragmentação, imaturidade dos pais, insegurança, materialismo, carência de formação moral.
A sagrada e renunciável missão de educar os filhos continua sendo dever em primeiro lugar da família. Quando ela não cumpre a sua função, tudo vai pesar sobre a escola e a sociedade. Não se pode exigir da escola aquilo que é natural dos deveres da paternidade e da maternidade responsáveis.
Se a educação não começa na família, certo será o caos na escola e nas ruas. Pais imaturos não tem consciência de responsabilidade diante da prole. Não se educa os filhos dando as coisas (como “cala boca”), mas capacitando-os para a vida, estimulando-lhes ideais, treinando-os nas virtudes da disciplina, do senso ético, do respeito para com os outros, na obediência; a educação que vem dos pais e responsáveis requer firme e honesto acompanhamento, assimilação da consciência de hierarquia, capacidade de renúncia, sacrifício e serena aceitação de frustrações.
Filhos que na infância não foram educados eticamente dentro de casa, precocemente, tornam-se homens e mulheres prepotentes, arrogantes, intolerantes, birrentos, frios, calculistas, desonestos, violentos. A família não deve delegar à escola a sua missão educativa!
Fonte: CNBB