Vinde Espírito Santo

Por Dom Eurico dos Santos Veloso
Arcebispo Emérito de Juiz de Fora/MG

 

Chegamos a clausura do tempo pascal. O tema da Solenidade de Pentecostes é, evidentemente, o Espírito Santo. Dom de Deus a todos os batizados, o Espírito dá vida, renova, transforma, constrói comunidade e faz nascer o Homem Novo. 

No Domingo de Pentecostes, celebramos o florescer da Igreja na força do Espírito Santo. A Igreja, que  nasceu do lado aberto de Cristo na Cruz, recebe o inefável dom do Espírito Santo, que sela definitivamente o tempo do anúncio da fé no Ressuscitado. Com efeito, os discípulos, até então fechados no medo, tomados de tristeza e paralisados pela insegurança, recebem agora a tarefa de anunciar, aos quatros cantos do mundo que Jesus ressuscitou de modo a suscitarem a fé que alcança o perdão dos pecados. É, pois, o próprio Ressuscitado, que, não estando mais sujeito às limitações impostas pelo tempo e pelo espaço, adentra o recinto fechado com seu corpo glorioso, para lhes comunicar esse admirável dom. Ao soprar sobre eles, Jesus lhes dá a paz e enche seus corações de alegria, concedendo-lhes o hálito da vida. Que a Igreja esteja sempre aberta à ação do Espírito Santo, para que cumpra sua missão de anunciar o Evangelho de maneira alegre e disponível, a fim de que todos creiam que Jesus é o Senhor e, crendo nele, recebam a vida eterna. 

O Evangelho(Jo 20,19-23) apresenta-nos a comunidade cristã, reunida à volta de Jesus ressuscitado. Para João, esta comunidade passa a ser uma comunidade viva, recriada, nova, a partir do dom do Espírito. É o Espírito que permite aos batizados superar o medo e as limitações e dar testemunho no mundo desse amor que Jesus viveu até às últimas consequências. A presença do Ressuscitado provoca alegria nos discípulos, trancados por medo. Eles são convidados a superar o medo e se tornarem mensageiros da paz e da reconciliação para todos os povos. O sopro do Ressuscitado lembra o sopro de Deus no Gênesis(2,7), que cria e recria o ser humano. Com a presença do Espírito divino, nova humanidade surge de todos aqueles que se propõem seguir o projeto de Jesus. 

Na primeira leitura(At 2,1-11), Lucas sugere que o Espírito é a lei nova que orienta a caminhada dos batizados. É Ele que cria a nova comunidade do Povo de Deus, que faz com que os homens sejam capazes de ultrapassar as suas diferenças e comunicar, que une numa mesma comunidade de amor, povos de todas as raças e culturas.  É interessante contrastar esta leitura com aquela do Gênesis, da missa da vigília. Enquanto Gênesis relata confusão e desentendimento, Atos mostra unidade e entendimento. A leitura confirma a promessa do envio do Espírito Santo e o convergir das nações à unidade. O Espírito Santo dá aos seguidores de Jesus a capacidade de proclamar o Evangelho nas línguas e culturas de cada povo. Onde há amor, fraternidade e unidade, todos se entendem e a individualidade de cada pessoa é respeitada. 

Na segunda leitura(1Cor 12,3-7.12-13), São Paulo avisa que o Espírito Santo é a fonte de onde brota a vida da comunidade cristã. É Ele que concede os dons que enriquecem a comunidade e que fomenta a unidade de todos os membros; por isso, esses dons não podem ser usados para benefício pessoal, mas devem ser postos ao serviço de todos. A diversidade de dons é fruto do mesmo Espírito Santo: unidade no Espírito e diversidade de carismas. Os diversos dons e as várias manifestações do Espírito Santo têm o Senhor como única fonte e são concedidos para serem postos a serviço da comunidade. 

Num mundo marcado pela violência, ódios, fake news, em que pessoas arrogantes querem impor as armas, urge que os discípulos de Jesus têm a missão de viver e proclamar a paz. Conforme diz o profeta Isaías, como são belos os pés de quem anuncia a paz. Mais do que nunca, precisamos de pessoas que promovam a paz, a alegria e o otimismo. O cristão é, por natureza, pessoa que transmite esperança em meio aos desafios do mundo atual. 

A Solenidade de Pentecostes lembra, de modo especial, o dom do Espírito Santo, sopro renovador O Espírito impulsionou a missão de Jesus é o fundamento indispensável da comunidade dos seus discípulos missionários. É a força criadora e renovadora de todas as coisas. Sempre vivo em nosso íntimo, é a comunicação que o próprio Deus estabelece conosco. Sem ele, a Igreja e cada seguidor do Mestre não teriam o vigor que os impele à busca de novos horizontes. 

Peçamos as luzes do Divino Espírito Santo e que as suas luzes dissipem as trevas do mundo e iluminem as dúvidas e as incertezas do dia a dia para seguirmos Jesus no caminho para o Pai. 

Fonte: CNBB

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