Vigília Pascal

Imagem de Grant Whitty em Unsplash

Por Cardeal Orani João Tempesta, O. Cist.
Arcebispo Metropolitano de São Sebastião do Rio de Janeiro/RJ

 

Por que estais procurando entre os mortos aquele que está vivo? (Lc 24,5)

No Sábado Santo à noite, celebramos a solene Vigília Pascal, quando proclamamos a Ressurreição do Senhor. Com essa celebração chegamos ao ápice do Tríduo Pascal, iniciado na quinta-feira santa. Essa é a vigília das vigílias, dessa vigília provém todas as outras, é a celebração mais importante do ano, não que as outras não sejam, mas esta vigília traz um significado especial, pois além de proclamarmos a ressurreição do Senhor, renovamos as nossas promessas batismais.

A Vigília Pascal em nossas paróquias normalmente deve acontecer ao anoitecer do sábado e concluir antes do alvorecer do domingo. A Vigília deveria acontecer nesse período, pois foi o momento que Jesus ressuscitou, mas devido à segurança e outros fatores pastorais e para todos poderem participar da celebração, ela, em geral ocorre mais cedo. A celebração da Vigília Pascal é muito rica de sinais, porém, costumar demorar um pouco, pois ela é dividida em vários momentos, em especial com as leituras da vigília que retratam a história da salvação.

A celebração inicia-se fora da Igreja, com a benção do “fogo novo” onde se prepara e se acende o Círio Pascal, que representa a luz de Cristo. Todos os fiéis são convidados a se reunirem em torno da fogueira e, ao entrar na igreja, pouco a pouco, acender as velas no Círio Pascal. Após a benção do fogo novo, os fiéis entram em procissão na Igreja, tendo à frente o Círio Pascal. Depois que todos os fiéis se acomodaram em seus lugares, o diácono ou o sacerdote entra na Igreja com o Círio Pascal, proclamando três vezes: “Eis a luz de Cristo”.

Após entrar na Igreja com o círio pascal, acontece a proclamação da Páscoa, ou seja, nesse momento, proclamamos que o Senhor ressuscitou. Ele venceu a morte e vive eternamente no meio de nós. É uma noite mil vezes feliz, como diz a própria proclamação da Páscoa. Nessa noite santa, o bem venceu o mal e o amor venceu o pecado. Com a ressurreição de Jesus uma nova esperança surgiu, uma esperança de paz e de amor. A ressurreição de Jesus é a luz que vence as trevas e vem para iluminar as nossas trevas.

Permitamos que nessa noite o Senhor ilumine a nossa casa e o nosso coração. Que possamos nessa noite renovar os sentimentos de paz, gratidão e amor. Durante todo o período da quaresma, fomos convidados a nos converter e a mudar de vida, que com essa celebração da Páscoa do Senhor possamos converter o nosso coração para Deus. A partir dessa celebração da Vigília Pascal, o Círio ficará aceso até a celebração de Pentecostes, quando se completam os 50 dias da Páscoa. Depois, apaga-se o Círio Pascal e ele deverá ser aceso nas celebrações de crisma, batismo, primeira Eucaristia e nos funerais, bem como nas exéquias eclesiásticas. O Círio Pascal significa ainda a vida nova em Cristo, somos mergulhados nas águas do batismo e ressurgimos novas criaturas.

Após a entrada do Círio Pascal e a proclamação da Páscoa, acontece a segunda parte dessa solene Vigília, que é a liturgia da Palavra. Nessa noite, são proclamadas nove leituras, contando com o Evangelho, pois retrata toda a história da salvação até a ressurreição de Jesus. Deus salvou o povo de Israel e agora nesse tempo salva a nós, também. A partir de Jesus Cristo, inaugura-se um novo tempo na história, deixando como herança o seu corpo e o seu sangue.

Após cada leitura proclamada, entoa-se o salmo responsorial e, após o salmo, uma oração, segundo uma antiga tradição. Após a sétima leitura, canta-se o hino da glória, que foi omitido durante todo o tempo quaresmal. Após o hino do glória, iniciam-se as leituras do novo testamento, que é uma carta de Paulo e o Evangelho, Antes do evangelho se entoa solenemente o Aleluia Pascal que durante o tempo da quaresma sido omitido. Essa vigília de hoje é a junção do Antigo com o Novo Testamento, é a nova aliança que se realiza a partir da ressurreição de Cristo.

A primeira litura dessa vigília é do livro do Genesis (Gn 1,1-2,2). Nessa leitura vemos como o Senhor criou o universo em seis dias e no sétimo descansou de tudo o que fez. E como Ele criou Adão e Eva e os colocou no paraíso. Vemos que Deus criou o homem a sua imagem e semelhança.

O salmo responsorial é o 103(104) e nos diz em seu refrão: “Enviai, Vosso Espírito Senhor, e da terra toda face renovai”. O Senhor criou o universo por meio do sopro do Espírito Criador. Peçamos que nessa Páscoa um novo sopro do Espírito Santo venha sobre nós.

A segunda leitura também tirada do Livro de Gênesis (Gn 22,1-18) e mostra como Abraão foi fiel a Deus, e o Senhor promete a Abraão que tornaria a sua descendência maior do que as estrelas. Que possamos ser obedientes a Deus e ouvir a sua voz, antes de tomarmos alguma atitude. O salmo responsorial referente a essa leitura é o salmo 15(16), que diz que o nosso refúgio e proteção é o Senhor, nos momentos de dificuldade e quando estamos diante do pecado, Ele nos acolhe.

A terceira leitura, tirada do livro do Êxodo (Ex 14,15-15,1), mostra como Deus por intermédio de Moisés, liberta o povo que sofria a escravidão no Egito, e assim passa o povo da escravidão para a liberdade. Um dos significados da Páscoa é a passagem da escravidão para a liberdade, depois a partir da ressurreição de Jesus, tem um novo significado que é a passagem da morte para a vida. A resposta a essa leitura é o cântico, extraído do livro do Êxodo (15), exaltando o Senhor pelas maravilhas que fez ao povo de Deus.

A quarta leitura tirada do livro do profeta Isaías (Is 54,5-14) nos fala da aliança que Deus fez com o seu povo, que é uma aliança eterna, que se perpetuaria por todo o sempre. É como uma aliança de casamento, apesar da infidelidade do povo, Deus permanece fiel. O Senhor promete nunca abandonar o seu povo e concretiza a aliança com o envio de seu filho. O salmo de resposta referente a essa leitura é o 29(30), que nos diz que o Senhor nos livra de todos os nossos inimigos, basta confiarmos em sua graça.

A quinta leitura também extraída de Isaías (Is 55,1-11). O Senhor chama para ficar com Ele, para se deliciar do banquete que Ele oferecerá a todos nós. Nos dias de hoje esse banquete é a Eucaristia, na eternidade sentaremos todos a mesa ao lado dele. O banquete é para todos, sem exclusão, de raça, cor ou classe social. A resposta para essa leitura é o cântico de Isaías (21), que nos fala justamente da alegria de beber do manancial da salvação, que somente Deus pode nos proporcionar.

Na sexta leitura extraída do livro do profeta Baruc (Br 3,9-15,32-4,4), o profeta alerta a todo o povo de Israel para eles confiarem somente no Deus verdadeiro, ou seja, naquele que os libertou da terra do Egito e fez aliança com eles. Somente Ele tem palavras de vida eterna.

O salmo de resposta para essa leitura é o 18(19), que justamente diz em seu refrão: “Senhor, tens palavras de vida eterna”. Devemos confiar somente em Deus e só Ele pode nos salvar.

A sétima leitura é extraída do livro do Profeta Ezequiel (Ez 36,16-17a.18-28). O Senhor alerta o povo para não adorarem deuses falsos, ou seja, não adorarem bezerros de ouro ou imagens de madeira. Somente Ele é o Deus que fez um pacto com eles, e eles não devem romper esse pacto. O salmo de resposta para essa leitura é o 41 (42), que nos diz em seu refrão: “a minha alma tem sede de Deus”. Devemos sempre desejar esse Deus vivo, que nos fala por meio da sua palavra e nos alimenta por meio da Eucaristia.

A oitava leitura, que é proclamada após o cântico do Glória, para fazer uma ligação do Antigo com o Novo Testamento, é a leitura da Carta de São Paulo aos Romanos (Rm 6,3-11). Paulo diz que através do batismo nos tornamos pessoas novas, e se Cristo morreu para nos libertar e é em nome dele que somos batizados, por meio do batismo venceremos o pecado e nos tornaremos novos homens e mulheres. O salmo de resposta para essa leitura é o 117 (118), que é a “aclamação ao evangelho”.

O Evangelho é de Lucas (Lc 24, 1-12) e nos diz que no primeiro dia da semana, que é o domingo, bem de madrugada, algumas mulheres foram ao túmulo para ver o corpo de Jesus e passar perfumes em seu corpo. Ao entrar no túmulo, ficam espantadas em não ver o corpo de Jesus. Enquanto estavam paradas, dois homens de branco se aproximaram delas. Elas ainda sem acreditar olhavam para o chão. Os dois homens se aproximam delas e perguntam por que elas estão procurando entre os mortos aquele que está vivo.

Eles dizem a elas que se cumpriu a escritura que dizia que Ele deveria ressuscitar dos mortos ao terceiro dia. Então elas lembraram das palavras de Jesus. Esses dois homens seriam dois anjos que são testemunhas da ressurreição e conversam com elas.

As mulheres saem correndo e vão anunciar aos 11 discípulos a notícia e todos os outros. Essas mulheres eram: Maria Madalena, Joana e Maria, mãe de Tiago. Eles não acreditam nelas. Pedro, no entanto, levantou-se e foi correndo ao túmulo, olhou para dentro e viu os lençóis dobrados, então voltou para casa admirado com tudo o que havia acontecido.

Sejamos como as mulheres do Evangelho de hoje, saiamos correndo e anunciemos a todos que o Senhor Ressuscitou. Quem sabe já ao final da missa, amanhã ou nos dias que sucedem a Páscoa, anunciemos para quem ficou em casa, no nosso trabalho, escola e comunidade, que o Senhor ressuscitou. Ele vive, venceu a morte e está no meio de nós.

Após as leituras e homilia, acontece a terceira parte dessa grande Vigília Pascal que é a Liturgia Batismal. Primeiro se faz a ladainha de todos os Santos, se for o caso, depois se benze a água para o batismo ou para a aspersão. O Círio Pascal é mergulhado três vezes nessa água. Em seguida, com essa água que foi abençoada, faz-se os batizados, se houver e depois, todos com suas velas acesas, renovam solenemente as promessas do Batismo, renunciando ao pecado e afirmando nossa fé.

Após a Liturgia Batismal, segue a eucaristia como de costume. Após a oração final, tem a grande benção final da vigília Pascal. Que possamos sair renovados dessa Vigília Pascal e por 50 dias, e toda a nossa vida, celebrar as alegrias da Páscoa.

Fonte: CNBB

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