Por José Antonio Pagola
O risco mais grave que nos ameaça a todos é acabar vivendo uma vida estéril. Sem dar-nos conta, vamos reduzindo a vida ao que nos parece importante: ganhar dinheiro, não ter problemas, comprar coisas, saber divertir-nos … Passados alguns anos, podemos encontrar-nos vivendo sem outro horizonte e sem outro projeto.
É o mais fácil. Pouco a pouco vamos substituindo os valores que poderiam alentar nossa vida por pequenos interesses que nos ajudam a “ir levando”. Não é muito, mas nos contentamos com “sobreviver” sem maiores aspirações. O importante é “sentir-nos bem”.
Estamos nos instalando numa cultura que os entendidos chamam de “cultura da intrascendência” Confundimos o valioso com o útil, o bom com o que nos apetece, a felicidade com o bem-estar. Sabemos que isso não é tudo, mas procuramos convencer-nos de que nos basta.
No entanto, não é fácil viver assim, repetindo-nos sempre de novo, alimentando-nos sempre da mesma coisa, sem criatividade nem compromisso algum, com essa sensação estranha de estagnação, incapazes de assumir nossa vida de maneira mais responsável.
A razão última desta insatisfação é profunda. Viver de maneira estéril significa não entrar no processo criador de Deus, permanecer como espectadores passivos, não entender o que é o mistério da vida, negar em nós o que nos torna mais semelhantes ao criador: o amor criativo e a entrega generosa.
Jesus compara a vida estéril de uma pessoa a uma “figueira que não produz frutos”. Para que há de ocupar um terreno inutilmente? A pergunta de Jesus é inquietante. Que sentido tem viver ocupando um lugar no conjunto da criação, se nossa vida não contribui para construir um mundo melhor? Contentamo-nos com passar por esta vida sem torná-la um pouco mais humana?
Criar um filho, construir uma família, cuidar dos pais idosos, cultivar a amizade ou acompanhar de perto uma pessoa necessitada … não é “desperdiçar a vida”. mas vivê-la a partir de sua verdade mais plena.
Fonte: Franciscanos
JOSÉ ANTONIO PAGOLA cursou Teologia e Ciências Bíblicas na Pontifícia Universidade Gregoriana, no Pontifício Instituto Bíblico de Roma e na Escola Bíblica e Arqueológica Francesa de Jerusalém. É autor de diversas obras de teologia, pastoral e cristologia. Atualmente é diretor do Instituto de Teologia e Pastoral de São Sebastião. Este comentário é do livro “O Caminho Aberto por Jesus”, da Editora Vozes.