Velhice

Foto de eberhard grossgasteiger no Unsplash

Por Dom Jaime Spengler
Arcebispo de Porto Alegre (RS)

 

A partir de janeiro de 2022, a velhice será tratada como doença, pela Classificação Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde. Esta decisão, marcada por subjetivismo, é fator de discriminação de pessoas pela idade, com impacto sobre as políticas públicas.

Há de se considerar possíveis interesses de grupos econômicos, da indústria do antienvelhecimento, dos operadores de planos de saúde e do próprio mercado de trabalho.  Pode-se imaginar que não faltará quem se valerá de semelhante decisão para prescrever medicamentos, intervenções e supostos tratamentos com o pretexto de deter o avanço do envelhecimento.

O envelhecimento da pessoa acontece a cada dia, oportunizando proceder diferente e fazer a diferença, na medida em que vai integrando as mudanças fisiológicas que o tempo impõe ao próprio corpo. O envelhecer é parte integrante da existência humana.

“Nascer é uma possibilidade, viver é um risco, envelhecer é um privilégio” (M. Quintana). A velhice é um tempo singular, vivido de modo singular. Os idosos “são o exemplo de conexão entre as gerações, uma riqueza para o bem-estar da família e de toda a sociedade (…). Eles constituem uma importante escola de vida, capaz de transmitir valores e tradições e favorecer o crescimento dos mais jovens, os quais desse modo aprendem a buscar não somente o próprio bem, mas também o de outrem” (CDSI, 222).

Na data de 26 de julho, comemora-se o Dia dos Avós, referência à memória de São Joaquim e Sant’Ana, avós de Jesus Cristo. A comemoração é oportunidade para responder à intimação da poetisa: “convoco os velhos como eu, ou mais velhos que eu, para exercerem seus direitos. Sei que alguém vai ter que me enterrar, mas eu não vou fazer isso comigo (…). Lutar é a palavra vibrante que levanta os fracos e determina os fortes. O importante é semear, produzir milhões de sorrisos de solidariedade e amizade. Procuro semear otimismo e plantar sementes de paz e justiça, digo o que penso, com esperança. Penso no que faço, com fé. Faço o que devo fazer, com amor” (C. Coralina).

CNBB

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