- Autor/Fonte: A Catholic Response Inc. (http://users.binary.net/polycarp)
- Tradução: Carlos Martins Nabeto
– A punição já infligida pela maioria a essa pessoa é suficiente; agora você deve ceder e apoiá-lo para que ele não seja esmagado por um peso muito grande de tristeza (cf. 2Coríntios 2,6-7).
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As indulgências estão entre as bênçãos mais mal compreendidas da Igreja Católica. Indulgência não é permissão da Igreja para que alguém se entregue ao pecado. Não é ser indulgente com os pecadores. Não é o perdão do pecado, nem a remissão da culpa. Pois bem: de acordo com o Catecismo da Igreja Católica (CIC):
- “A indulgência é a remissão, diante de Deus, da pena temporal devida pelos pecados já perdoados quanto à culpa, (remissão) que o fiel bem-disposto obtém, em condições determinadas, pela intervenção da Igreja que, como dispensadora da redenção, distribui e aplica por sua autoridade o tesouro das satisfações (isto é, dos méritos) de Cristo e dos santos” (CIC 1471)
Alguns pontos devem ser enfatizados:
Em primeiro lugar, indulgência não é perdão dos pecados, mas aplica-se apenas aos efeitos dos pecados já perdoados no passado. Uma indulgência não é um Sacramento, mas confia no Sacramento da Reconciliação (Confissão), o Sacramento através do qual os pecados são perdoados por Deus. “Perdão do pecado” e “remissão do castigo” são coisas diferentes.
Em segundo lugar, o pecado pode ter duas consequências: “punição definitiva” (eterna) e “punição temporal” (temporária). Um pecado muito grave, isto é, um pecado mortal (cf. 1João 5,16), “mata” a nossa amizade com Deus e nos priva da vida eterna. Essa perda é o castigo eterno. Não é a punição de um Deus vingativo, mas a consequência de se rejeitar a Deus, Fonte da vida.
Nem todo pecado é mortal (cf. 1João 5,17), mas todo pecado, mesmo o pecado venial (pecado menos grave), precisa de correção. Essa correção é uma punição temporal. É exigida por Deus para corrigir os maus efeitos do nosso pecado; por exemplo, restaurar os bens roubados. Espiritualmente, é a purificação da nossa alma dos apegos terrestres devido ao nosso pecado. Pois bem: a morte de Cristo na cruz resgata a nossa amizade com Deus e satisfaz totalmente o nosso castigo eterno, uma vez que a culpa pelos nossos pecados é perdoada por Deus através da Sua Igreja. Portanto, o perdão do pecado mortal inclui a remissão do castigo eterno; porém, o castigo temporal ainda pode permanecer. O castigo temporal normalmente é satisfeito através da penitência pessoal; no entanto, as indulgências podem remover o castigo temporal devido aos pecados perdoados no passado, tanto mortais quanto veniais.
Um bom exemplo de punição temporal pode ser encontrado em 2Samuel: Deus, através de Natan, perdoa o rei Davi pelo seu pecado contra Urias:
- “O Senhor também repudiou o teu pecado: tu não morrerás. No entanto, como por esse ato desprezaste totalmente ao Senhor, o filho que nasceu para ti morrerá” (2Samuel 12,13-14).
Deus perdoou Davi e removeu o seu castigo eterno mortal. No entanto, Deus puniu Davi pela [má] ação. Conforme [uma outra] tradução da Bíblia, [com sua má ação] Davi “deu oportunidade aos inimigos do Senhor para blasfemarem” (2Samuel 12,14). E esse escândalo precisava ser corrigido (cf. Hebreus 12,5-11).
Em terceiro lugar, os sofrimentos de Cristo e dos Seus santos podem ser usados para satisfazer as demandas de punição temporal devidas aos nossos pecados passados. Na Bíblia há exemplos de Santos fazendo as pazes [com Deus] pelos pecados dos outros: Moisés, em Êxodo 32,32 oferece sua vida a Deus como sacrifício pelos pecados do seu povo; Jó (cf. Jó 1,5) oferece um sacrifício a Deus pelos pecados dos seus filhos. Mesmo no Novo Testamento, São Paulo escreve aos coríntios: “De bom grado me desgasto e serei desgastado por vossas almas” (2Coríntios 12,15); ou para Timóteo: “Pois já estou a ponto de ser sacrificado” (2Timóteo 4,6). São Paulo enxerga o seu martírio como um sacrifício e está disposto a ser consumido pelas almas dos outros.
E embora o sacrifício de Cristo na cruz seja suficiente para a nossa redenção (a cura de nossa amizade com Deus), São Paulo também reconhece que o seu próprio sofrimento é importante:
- “Regozijo-me agora no que padeço por vós, e na minha carne cumpro o resto das aflições de Cristo, pelo seu corpo, que é a Igreja” (Colossenses 1,24)
Os sofrimentos dos Santos, como São Paulo, podem ser incluídos no sofrimento de Cristo, não para a nossa redenção, mas para que a graça da redenção possa ser aplicada às almas dos homens. Os sofrimentos de Cristo e dos Seus Santos são reunidos como que um tesouro, o qual pode ser usado para satisfazer o nosso castigo temporal.
Em geral, a Igreja, como ministra da redenção, tem autoridade para dispensar e aplicar esse tesouro de satisfação às nossas almas na terra. Cristo dá à Igreja, através dos Apóstolos, autoridade para “ligar e desligar”:
- “E, se ele (=um pecador impenitente) também se recusar a escutar a Igreja, considera-o como um gentio e publicano. Em verdade vos digo que tudo o que ligardes na terra será ligado no céu, e tudo o que desligardes na terra será desligado no céu” (Mateus 18,17-18).
Nesta passagem, Cristo concede à Igreja autoridade para excomungar pecadores impenitentes. O poder judicial de “ligar e desligar” também confere à Igreja autoridade para perdoar pecados (cf. João 20,23) e remover o castigo temporal dos pecadores arrependidos.
São Paulo, em 2Coríntios 2,5-11 parece estar concedendo uma indulgência a um homem de Corinto. O homem havia cometido um pecado grave, mas São Paulo não o chama ao arrependimento, o que implica que Deus já havia perdoado o seu pecado. Pois bem: esse pecado afetou a Igreja em Corinto e São Paulo clama aos seus membros a removerem o castigo contra ele. São Paulo, pessoalmente, perdoa o homem e invoca o nome de Cristo nesta remissão da punição.
A Igreja primitiva, conforme testemunhado aqui, exigia uma penitência pública severa do pecador arrependido, para que pudesse satisfazer seu castigo temporal. Mais tarde, a Igreja, usando sua autoridade para “ligar e desligar”, passou a reduzir a penitência por “bom comportamento”. Essa prática levou à formulação das indulgências.
As indulgências agora são classificadas como “Parciais” ou “Plenárias”. Uma indulgência parcial é apenas uma remissão parcial, enquanto uma indulgência plenária é uma remissão completa, ou seja, toda a punição temporal de todos os pecados perdoados no passado é removida. Uma indulgência pode ser recebida por um cristão em estado de graça santificadora ao realizar uma boa obra prescrita. A pessoa que realiza a boa obra deve ter a intenção de receber a indulgência e cumprir fielmente todos os requisitos estabelecidos pela Igreja. Uma pessoa não pode receber uma indulgência por outra pessoa viva, mas as indulgências podem ser aplicadas, por intercessão, às almas do Purgatório. Um pecado venial não perdoado ou um apego ao pecado podem impedir o recebimento de uma indulgência plenária. As indulgências também não podem ser “acumuladas” para [serem aplicadas a] pecados futuros. Mais detalhes podem ser encontrados “Enquirído de Indulgências”.
Às vezes é afirmado que a Igreja vende ou vendeu indulgências. Esta afirmação é falsa. A Igreja emprega as indulgências para incentivar os seus membros a realizarem boas obras. Alguns exemplos de boas obras são: orar, assistir à Missa, ler a Bíblia e praticar caridade. As obras de caridade podem incluir a doação de dinheiro para ajudar os pobres (cf. Eclesiástico 3,30) ou para promover a glória de Deus (cf. João 12,1-8), como a construção de belos templos. Infelizmente, este último caso levou a graves abusos nas mãos dos pecadores.
O caso mais infame de abuso envolveu Tetzel. Em 1517, o Papa Júlio II concedeu uma indulgência plenária a todos que confessaram seus pecados, receberam a Eucaristia e contribuíram de acordo com suas possibilidade para a construção da Basílica de São Pedro. Tetzel, ao promover essa indulgência na Alemanha, cobrava um preço para cada um. Talvez devido ao excesso de zelo, Tetzel confundiu doação com venda direta. Ao fazer isso, cometeu o grave pecado de simonia (cf. Atos 8,18-22): a venda de dons espirituais. Martinho Lutero reagiu a esse abuso com suas 95 Teses que originaram a revolta protestante. Mais tarde, o Concílio de Trento aprovou leis estritas sobre as indulgências, a fim de evitar novos abusos.
Em Suma: uma indulgência é um “favor” de Cristo concedido pela Sua Igreja. Não é o perdão do pecado, mas a remissão do castigo temporal devido aos pecados passados já perdoados. Nosso castigo é satisfeito pelo tesouro de satisfações obtidas por Cristo e Seus Santos. A Igreja tem autoridade para dispensar e aplicar esse tesouro às nossas almas enquanto ainda estiverem na Terra. Sem indulgências, devemos satisfazer o nosso próprio castigo temporal através da penitência pessoal enquanto estivermos na Terra ou, mais tarde, no Purgatório.
Fonte: Veritatis