Por Frei Almir Guimarães
O Senhor vem, mas não rodeado de pompa, como se fosse conquistar a glória. Ele não discutirá, nem gritará, diz a Escritura, e ninguém ouvirá sua voz (Mt 12,19; cf Is 42,2). Pelo contrário, será manso e humilde, e se apresentará com vestes pobres e aparência modesta – Santo André de Creta
♦ Entramos na última semana de nosso retiro quaresmal. Dispomo-nos ainda a percorrer as etapas fundamentais da marcha de Jesus rumo ao Calvário e à Glória. Morte e ressurreição. Que frutos alcançamos ao longo do tempo da quaresma? Com que disposições viveremos os dias desta que designamos de semana santa?
♦ A Procissão dos Ramos evoca a entrada triunfal de Jesus em Jerusalém. O formulário da bênção das palmas pede o olhar de Deus sobre os ramos que os fiéis haverão de portar em sinal da adesão a Cristo-Rei que entra em sua cidade montado num burrico. A solenidade deste dia é, na verdade, exaltação do Cristo Rei. Os paramentos vermelhos lembram o fogo, a força e o martírio. Como naquele dia em Jerusalém, também em nossos templos há um forte clima de alegria. Cantos de vitória. Palmas que se agitam. As leituras da missa vão nos falar de alegria, mas também nos levarão à apreensão. Em toda a semana santa é o que ocorre: júbilo e dor. Este paradoxo, segundo os liturgistas, é a língua do mistério.
♦ “Vinde, subamos juntos ao monte das Oliveiras e corramos ao encontro de Cristo que hoje volta de Betânia e se encaminha voluntariamente para aquela venerável e santa Paixão a fim de realizar o mistério de nossa salvação” (Santo André de Creta, Lecionário Monástico II, p. 511). E mais adiante: “O Senhor vem, mas não rodeado de pompa, como se fosse conquistar a glória. Ele não discutirá, diz a Escritura, nem gritará, nem ninguém ouvirá sua voz. Pelo contrário será manso e humilde e se apresentará com vestes pobres e aparência modesta” (Idem, ibidem).
♦ O Rei entra em Jerusalém montado num burrico. O gesto atesta a pobreza e simplicidade do Messias. Jesus pede que providenciem para ele um asno que depois haverá de devolver. O burrico é a cavalgadura pobre e humilde de que fala o profeta Zacarias (9,9). Sim, o burrico é apenas emprestado. O cortejo que acompanha Jesus mostra características reais expressas nos mantos estendidos pelo chão e nos gritos de ovação. Jesus, de seu lado, sente-se, no fundo a pedra que os pedreiros rejeitaram. Não partilha a concepção de um Messias triunfalista que é abraçada pela multidão.
♦ A profecia do servo sofredor, texto escrito séculos antes do tempo de Jesus e proclamado na liturgia deste domingo descreve antecipadamente os sofrimentos em sua paixão: o servo abre os ouvidos para as palavras de Deus, oferece as costas aos que nele batem e estende as faces aos que lhe arrancam a barba, não desvia o rosto das cusparadas e bofetões. Terminada a alegre procissão de entrada no templo somos levados a contemplar e, de alguma forma, partilhar a paixão do Senhor. Ecoam, de maneira especial, as palavras da Carta aos Filipenses: “…aquele que se fez obediente até a morte e morte de cruz”.
Fonte: Franciscanos
FREI ALMIR GUIMARÃES, OFM, ingressou na Ordem Franciscana em 1958. Estudou catequese e pastoral no Institut Catholique de Paris, a partir de 1966, período em que fez licenciatura em Teologia. Em 1974, voltou a Paris para se doutorar em Teologia. Tem diversas obras sobre espiritualidade, sobretudo na área da Pastoral familiar. É o editor da Revista “Grande Sinal”.