Um Mandamento novo para um mundo novo

Imagem: Pinterest

Por Pe. Johan Konings

 

Muitas pessoas hoje demonstram desânimo. As notícias são deprimentes. Guerras intermináveis, que sempre de novo inflamam por baixo das brasas. Populações africanas que se apagam pela fome, pelas epidemias. Cruéis guerras religiosas na Ásia, na Indonésia. Extermínio das crianças meninas na China. Violência em nossos bairros, corrupção em nossas instituições. E mesmo na Igreja …

Existe alguém que possa dar um rumo a este mundo? A resposta é: você mesmo, mas não sozinho. Alguém faz aliança com você. Ou melhor: com vocês, como comunidade. E em sinal dessa aliança, deixou-lhes um exemplo e modo de proceder: um novo mandamento. “Amai-vos uns aos outros, como eu vos amei” – isto é, até o fim, até o dom da própria vida, seja vivendo, seja morrendo. É o que nos recorda o evangelho de hoje.

Não há governo ou poder que nos possa eximir deste mandamento. Só se o assumirmos como regra de nossa vida, o mundo vai mudar. Não existe um mundo tão bom e tão bem governado, que possamos deixar de nos amar mutuamente com ações e de verdade. Mas, por mais desgovernado que o mundo seja, se nos amarmos mutuamente como Jesus nos tem amado, o mundo vai mudar. Por que, então, depois de dois mil anos de cristianismo, o mundo está tão ruim assim? A este respeito podem-se fazer diversas perguntas, por exemplo: Será que os homens se têm amado suficientemente com o amor que Jesus nos mostrou? E como seria o mundo se não tivesse existido um pouco de amor cristão? Não seria bem pior ainda?

O Apocalipse, lido nas liturgias deste tempo pascal, muitas vezes é considerado um livro de terror e de medo. Mas, na realidade, ele termina numa visão radiante da nova criação, da nova Jerusalém, simbolizando a indizível felicidade, a “paz” que Deus prepara para os que são fiéis ao novo mandamento de seu Filho (2ª leitura). A nova Jerusalém é o povo de Deus envolvido pelo esplendor, ainda escondido, do amor de Cristo, que o torna radiante, como o amor do noivo torna radiante a sua amada. Quem é amado e se entrega ao amor, torna-se amor!

É isso que deve acontecer entre nós. Jesus nos amou até o fim. Nossa comunidade ec1esial deve transformar-se em amor, irradiando um mundo infeliz e desviado por interesses egoístas e mortíferos. Ao invés de ver somente o lado ruim da Igreja – talvez porque nosso olho é ruim -, vamos tratar de ver a Igreja como uma moça um tanto desajeitada e acanhada, mas que aos poucos vai sentindo quanto ela está sendo amada e, por isso, se torna cada dia mais amável e radiante. Ora, para isso, é preciso que deixemos penetrar em nós o amor de Deus e o façamos passar aos nossos irmãos, não em palavras, mas com ações e de verdade.

Fonte: Franciscanos


PE. JOHAN KONINGS nasceu na Bélgica em 1941, onde se tornou Doutor em Teologia pela Universidade Católica de Lovaina, ligado ao Colégio para a América Latina (Fidei Donum). Veio ao Brasil, como sacerdote diocesano, em 1972. Em 1985 entrou na Companhia de Jesus (Jesuítas) e, desde 1986, atua como professor de exegese bíblica na FAJE, Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia, em Belo Horizonte. Este comentário é do livro “Liturgia Dominical, Editora Vozes.

 

 

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