Por Pe. Johan Konings
Para muitas pessoas, inclusive cristãs, a SS. Trindade não passa de um problema de matemática: como pode haver três pessoas divinas em um só Deus? Parece que nada tem a ver com sua vida.
Se a Trindade fosse um problema matemático, deveríamos procurar uma “solução”. Mas, na realidade, não se trata de uma fórmula matemática, mas de um resumo de duas certezas de nossa fé: 1) Deus é um só; 2) o Pai, o Filho e o Espírito Santo são Deus. Isso nos convida à “contemplação” do mistério de Deus. Pois um mistério não é para a gente colocá-lo dentro da cabeça, mas para colocar a cabeça nele…
Na 1ª Leitura, Moisés invoca o nome de Deus: “O Senhor (Javé), Deus misericordioso e clemente, lento para a ira, rico em amor e fidelidade…”. São essas as primeiras qualidades de Deus. Deus é um Deus que ama. Segundo o evangelho, Jesus revela em que consiste a manifestação maior do amor de Deus para com o mundo: ele deu o seu Filho, que quis morrer por amor a nós. O Pai e o Filho estão unidos num mesmo amor por nós. Em sua carta, João retoma o mesmo ensinamento: “Foi assim que o amor de Deus se manifestou entre nós: Deus enviou o seu filho único ao mundo, para que tenhamos a vida por ele” (1 Jo 4,9)
Assim, tanto no Antigo Testamento como no Novo, Deus é conhecido como sendo “amor e fidelidade”. Estas são as qualidades que se manifestam com toda a clareza em Cristo (a “graça e verdade” de que fala Jo 1,14). Em Jesus, Deus aparece como comunhão de amor: o Pai, Jesus e o Espírito que age no mundo, esses três estão unidos no mesmo amor por nós. Um solitário não ama. Deus não é um ancião solitário. Deus é amor (1Jo 4,8), pois ele é comunidade em si mesmo, amor que transborda até nós.
Se Deus é comunidade de amor, também nós devemos sê-lo, nele. Se tanto ele nos amou, a ponto de enviar seu Filho, que deu sua vida por nós, nós também devemos dar a vida pelos irmãos, amando-os com ações e de verdade (cf. 1Jo 3,16-18). No amor que nos une, realizamos a “imagem e semelhança de Deus”, a vocação de nossa criação (Gn 1,26).
O conceito clássico do homem é individualista. Isso não é cristão… Se Deus é comunidade, e nós também devemos sê-lo, não realizaremos nossa vocação vivendo só para nosso sucesso individual, propriedade privada e liberdade particular. A Trindade serve de modelo para o homem novo, que é comunhão. Devemos cultivar os traços pelos quais o povo se assemelha ao Deus-Trindade: bondade, fidelidade, comunicação, espírito comunitário etc.
Como pode haver três pessoas em um só Deus? Pelo mistério do amor, que faz de diversas pessoas um só ser. Deus é comunidade, e nós também devemos sê-lo.
Fonte: Franciscanos
PE. JOHAN KONINGS nasceu na Bélgica em 1941, onde se tornou Doutor em Teologia pela Universidade Católica de Lovaina, ligado ao Colégio para a América Latina (Fidei Donum). Veio ao Brasil, como sacerdote diocesano, em 1972. Em 1985 entrou na Companhia de Jesus (Jesuítas) e, desde 1986, atua como professor de exegese bíblica na FAJE, Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia, em Belo Horizonte. Este comentário é do livro “Liturgia Dominical, Editora Vozes.