Por Dom Jaime Spengler
Arcebispo de Porto Alegre (RS)
Os princípios e o depósito da fé cristã e católica são estáveis. É tarefa da Igreja transmitir às futuras gerações o que elas provavelmente mais precisam: a esperança que vem da fé. Fé iluminada pelo Evangelho do Crucificado-Ressuscitado, que jamais pode ser compreendido como velho, mas eternamente novo.
Desde os anos sessenta, a Igreja vem desenvolvendo um caminho marcado pelo diálogo intraeclesial, bem como com outras igrejas, outras religiões e com a cultura moderna. Neste caminho, ela jamais repudiou nem renegou sua tradição. O que se buscou, com acertos e desacertos, foi romper incrustações, procurando tornar a tradição nova, viva e fecunda para o caminho rumo ao futuro.
É dando continuidade ao caminho inaugurado há mais de cinco décadas que o Papa Francisco recentemente inaugurou, talvez, o maior exercício de consulta da história da humanidade. O objetivo é ouvir todas as comunidades de fé presentes nos distintos continentes e colher elementos vigorosos capazes de promover maior comunhão e participação do Povo de Deus na vida ordinária da Igreja.
Trata-se de um processo amplo e lento, marcado por expectativas e incertezas. O tema da consulta – “Por uma Igreja Sinodal: Comunhão, Participação e Missão” – aponta para uma maneira de ser e de agir da Igreja, inspirada no modo de vida das primeiras comunidades, onde as decisões eram de forma colegiada, após estudo, diálogo, oração e discernimento.
A participação das comunidades é expressão do senso de pertença e corresponsabilidade pela vida da Igreja. Revela a convicção de que para responder aos apelos atuais, o caminho a ser trilhado requer o entendimento conjunto. Este processo, comprometendo todos os que se reconhecem como membros da Igreja, poderá auxiliar na superação de divisões na própria sociedade, num momento de polarizações que repercute também dentro da Igreja. O processo poderá identificar fraturas que a sociedade nutre e que repercute no interior das próprias comunidades de fé.
O processo inaugurado pelo Papa Francisco pode trazer as marcas de um evento também organizativo, mas é antes de tudo um evento de caráter espiritual, cujo consenso a ser construído deve estar embasado no Evangelho e na sabedoria e espiritualidade dos mestres da fé.
Fonte: CNBB