Por Dom Roberto Francisco Ferreria Paz
Bispo de Campos (RJ)
O advento, tempo da manifestação da bondade e misericórdia do Senhor, que nos envia seu Filho Unigênito para armar sua tenda (puxadinho) entre nós e assumir plenamente nossa humanidade, é um dos períodos litúrgicos que mais revelam a pessoa humana. São João Paulo II afirmava que este tempo de preparação para o Natal mostra a humanidade que deseja, espera e sonha com um futuro de felicidade e plenitude, que a pessoa humana se caracteriza e se diferencia de outras criaturas porque sempre espera e aguarda esta atitude prospectiva.
Ernest Bloch a chamava de princípio esperança que nos impulsionava a caminhar para frente, atrás de utopias, realidade ainda não vividas e concretizadas. Para o cristão, advento tem três perspectivas: memória viva e atual do caminho que leva a gruta de Belém; presença, porque Cristo nasce hoje entre nós no meio das famílias e do povo; profecia e promessa, porque esperamos a sua vinda definitiva.
Desperta em todos/as um olhar e um palpitar novo no coração, substituindo a opacidade do ver e as cardiopatias de um coração cansado e com arritmias espirituais. Em advento, sentimos que podemos renascer acolhendo, como manjedouras, a criança divina, que não somos obrigados a repetir scripts de vida padronizada e medíocre. Que Cristo vem a nós para irmanarmos, descobrindo que temos a chance de nos reinventar, para saborear e viver mais as coisas e ter vínculos mais significativos e amorosos.
Na gruta e no presépio descortinamos nossa vocação à fazer parte da Casa Comum e de uma família humana reconciliada, que torne a convivência e os relacionamentos um paraíso de harmonia e partilha. Aprendamos, com Nossa Senhora da Expectação, a esvaziarmo-nos de apegos, seguranças e ilusões para abrir espaço para que o Senhor nos preencha de luz e vida novas, para consentir com seu Plano libertador e nos tornar instrumentos de paz, justiça e reconciliação.
Finalizemos recordando a frase da poetisa Cecília Meirelles: “uma vez no ano celebramos o nascimento de Cristo, mas quantas vezes Ele nasce nos nossos corações e na nossa vida, tornando-a mais luminosa e mais plena”. Deus seja louvado!
Fonte: CNBB