Por Frei Almir Guimarães
Neste tempo do advento somos convidados a nos portar como sentinelas, pessoas que não sejam sonolentas. Sentinelas que esperamos a visita do Senhor. Sentinelas para advertir a nossos irmãos que andam um tanto entorpecidos pelo dinheiro, pelos bens, pela loucura dos prazeres doidos que o Senhor marca um encontro com eles no rosto do Menino das Palhas.
♦ Baruc tem uma palavra nova e de alegria para seus ouvintes. O profeta faz uma atenta leitura dos acontecimentos e fica convencido de que estão para chegar tempos novos. Que Jerusalém dispa a veste de luto e se revista da glória. Que a cidade santa veja os filhos que voltam do exílio, da dor, do esquecimento. Deus não se esquece dos seus. Ele mesmo deu ordens: que os vales sejam cobertos e as colinas abaixadas para que o povo possa caminhar expeditamente. Palavras encorajadoras para todos nós que andamos à procura do Senhor na secura de tantos momentos e no tormento de uma vida sem viço nem força. “As florestas e todas as árvores odoríferas darão sombra a Israel, por ordem de Deus”. Um grito: que sejam preparados caminhos para o Senhor. Aquele que está para vir precisa ter caminhos abertos.
♦ Uma voz clama no deserto. É o Batista. Repete o que já fora dito: é hora de preparar os caminhos do Senhor. Tudo parecia bem assentado em ordem. O imperador Tibério estava no palácio romano, Pôncio Pilatos governava a Judeia, Herodes administrava a Galileia. Anás e Caifás eram os sumos sacerdotes naquele momento. Nesse tempo ecoou a voz de João, o Batista, no deserto: preparai os caminhos do Senhor. Estamos vivendo o tempo do retiro do advento. Queremos que nosso interior não seja morno, rotineiro e que a celebração do Natal não seja para nós apenas uma questão de comida, bebida e dinheiro.
♦ Há muitos que, ao longo de sua trajetória da existência, já se encontraram com o Cristo. Ultrapassaram o estágio dos ritos e das manifestações agitadas, o predomínio das palavras, das rezas vazias e, de alguma forma, estes andaram reescrevendo em suas vidas o evangelho de Jesus: intimidade com o Mestre, oração silenciosa no quarto, cuidado de não magoar o Senhor no rosto dos mais sofredores. Andam vivendo junto com outras pessoas de coração reto e são o fermento de um mundo novo. Seguem os caminhos do Senhor.
♦ Mas há pessoas que precisam reencontrar o fascínio por Deus. Há os que foram educados na fé apenas com aulas de religião, sem apoio de suas famílias, que aprenderam lições de religião com a mente e nunca se deram conta da presença de Cristo em suas vidas nesse aqui e agora. Adultos que foram se tornando sentiram que aquele catecismo e aquelas aulas teóricas, as intransigências, a linguagem racional não podia mais lhe dar alegria. Quem poderá mostrar caminhos novos para estes?
♦ Há os mornos. Não são bons, nem maus. Quase certinhos. Mas estão instalados num jeito de viver que não produz alegria profunda. Estão mais ou menos satisfeitos com sua vida. Missa de domingo, uma reza aqui e ali, fidelidade ao dízimo… Mas onde está o fogo? Mornos, talvez rotineiros. Que caminhos podemos preparar para tantos e tantas? Como lançar fogo?
♦ Como na realidade preparar caminhos para o Senhor? Fazemos muitas coisas, inventamos pastorais para cá e para lá. Será que não estamos apenas fazendo um máquina girar que torna as pessoas apenas “religiosas”? Será que não andamos impermeáveis a certas determinações mais radicais do evangelho e ficamos presos ao culto? Em que Jesus hoje nos reconheceria como discípulos seus?
Eis alguns “caminhos” a serem preparados ou inventados ou buscados:
◊ Pessoas muito próximas do evangelho, do sermão da montanha, pessoas vivendo os valores do evangelho haverão de chamar atenção para um caminho feliz de viver a fé.
◊ Os cristãos não podem viver cada um para o seu lado. Parece que o Senhor pode encontrar um caminho na medida em que nos reunimos, dividimos nossas alegras, vivemos um fraternidade de interesse uns pelos outros. É caminho para o Senhor chegar a nós e aos outros.
◊ Na medida em que nos aproximamos respeitosamente da vida abrimos caminhos para que as pessoas busquem a Deus: vida profunda, vida antes do nascimento, vida das crianças, viço dos casados, respeito pela vida contra os crimes, assassinatos, queima de arquivos. Não seria assim que os defensores da vida abrem caminho para Deus?
◊ Tudo indica que um fresta por onde o Senhor pode tocar as pessoas é o coração contrito. Será preciso descer de um pedestal de onipotência e reconhecer falha, negligência, culto do ego. O Senhor não rejeita um coração contrito e humilhado.
◊ Importante a coerência entre o discurso e a vida. As pessoas acreditam em testemunhas e pouco em oradores com discursos bonitos, de oradores que se escutam falar.
Fonte: Franciscanos
FREI ALMIR GUIMARÃES, OFM, ingressou na Ordem Franciscana em 1958. Estudou catequese e pastoral no Institut Catholique de Paris, a partir de 1966, período em que fez licenciatura em Teologia. Em 1974, voltou a Paris para se doutorar em Teologia. Tem diversas obras sobre espiritualidade, sobretudo na área da Pastoral familiar. É o editor da Revista “Grande Sinal”.