Tempo de conversão: meditação sobre o batismo e a tentação de Jesus

O Batismo de Jesus pintado por Giotto

Jesus é tentado por Satanás no deserto, mas “os anjos o serviam”. O que Marcos escreve no início de seu Evangelho confirma que “o homem, na medida em que se confia ao Senhor, experimenta uma providência”. Deus “não deixa de prover sua ajuda, sua presença” e estes são os efeitos do “relacionamento de amizade” com Ele. É disto que se trata a vida cristã: “tornar-se progressivamente, em sinergia, em colaboração com o Espírito Santo, filhos de Deus”, graças ao Batismo.

Redimidos do pecado, proclamadores do Evangelho

Estas são algumas das principais passagens da primeira das meditações, sobre o tema “Tempo de Conversão”, preparadas por Dom Giacomo Morandi, secretário da Congregação para a Doutrina da Fé, que propomos durante a semana de exercícios espirituais para a Quaresma – vividos como sabemos em modo individual pelo Papa e a Cúria Romana por causa da pandemia. São pequenas lectio divine, de 15 minutos de duração, que partem de breves passagens do Evangelho de Marcos e compõem um ciclo de reflexões intitulado “Redimidos do pecado, anunciadores do Evangelho.

“A vida cristã é o seguimento de Cristo”.

Dom Morandi, ao introduzir suas meditações, fala do evangelista Marcos como o “mestre que nos guia para uma compreensão cada vez mais profunda do que significa se tornar e ser discípulos de Jesus”, porque o objetivo da vida cristã “nada mais é do que seguir, tornar-se como Cristo ou, como diz o apóstolo Paulo, assumir os mesmos sentimentos de Jesus Cristo”.

Um caminho para compreender quem é o discípulo de Jesus

Relendo algumas páginas do seu Evangelho, o bispo sublinhou, “tentaremos ver qual é a identidade do discípulo”, “o que o Senhor pede àqueles que chama para se tornarem seus discípulos”. Um caminho a ser feito em solidão para sair “desta experiência mudados”, descobrindo “uma presença consoladora que ilumina, que dá força, que nos faz ver quem somos” e acima de tudo nos revela “quem é Jesus para nós”.

O primeiro trecho de Marcos capítulo 1, versículos 9-13

A primeira passagem escolhida pelo pregador é do capítulo 1, versículos 9-13 do Evangelho de Marcos:

Aconteceu, naqueles dias, que Jesus veio de Nazaré da Galileia e foi batizado por João no rio Jordão. E, logo ao subir da água, ele viu os céus se rasgando e o Espírito, como uma pomba descer até ele, e uma voz veio dos céus: “Tu és o meu Filho amado, em ti me comprazo”. E logo o Espírito o impeliu para o deserto. E ele esteve no deserto quarenta dias, sendo tentado por Satanás; e vivia entre as feras, e os anjos o serviam.

Jesus solidário com os pecadores em busca de purificação

Já é muito importante a indicação de que Jesus “coloca-se em fila” para ser batizado por João no rio Jordão, “lá onde os homens reconhecem seu próprio pecado e desejo de serem purificados”. É a expressão, explica Morandi, “de uma solidariedade com aquele mundo de homens pecadores que deseja uma mudança, deseja dar uma virada à própria vida”.

A manifestação de Deus como Trindade

Jesus, o Sumo Sacerdote, é “totalmente solidário com o homem pecador”. Justamente porque “ele é desprovido de todo pecado”, ele é capaz de assumir uma solidariedade plena e verdadeiramente eficaz. Quando se rasgam os céus e o Espírito Santo desce sobre Ele “o véu sobre a verdadeira identidade de Jesus é levantado, que é o verdadeiro homem, mas é também o verdadeiro Deus”. É uma manifestação que revela “uma relação única e especial com o Pai”. Deus se manifesta como Trindade: “O Pai faz ouvir Sua voz, Ele revela que é o Filho amado em quem Ele colocou Sua satisfação, e o Espírito Santo desce sobre Ele”.

Jesus no deserto por obediência

E o primeiro efeito “desta descida do Espírito Santo que revela a identidade de Jesus é impeli-lo no deserto”. Jesus, comenta Dom Morandi, “vai para o deserto, não por iniciativa própria, mas em obediência ao Espírito Santo”. O deserto é o lugar “por excelência de discernimento”: como diz Moisés a Israel: “Eu te fiz caminhar 40 anos no deserto para saber o que tinhas no coração”.

A tentação revela o que somos

Jesus é impelido ao deserto, “para que possa ser tentado”. É um teste, a tentação “e enquanto não formos testados, não sabemos realmente o que tem em nossos corações”. O teste revela o que somos, “qual é a Palavra sobre a qual construímos e na qual confiamos”. Portanto, salienta o pregador, “a tentação em si mesma é uma grande ajuda, desde que obviamente não nos alinhemos a ela”.

Em paz com Deus até a criação é amiga

E nesta experiência Jesus “experimenta a proximidade e a fidelidade de Deus”. Embora tentado por Satanás, na verdade, “ele estava com as feras e os anjos o serviam”. Isto significa, esclarece Morandi, “que quando o homem vive como Jesus em comunhão com Deus, quando ele se confia a Deus, o efeito é o de uma reconciliação”. As feras não causam medo. Pelo contrário, “há uma comunhão”, porque há uma relação de causa e efeito: “quando estamos em paz com Deus, a criação também recupera aquele aspecto de paz e harmonia que nos leva de volta às primeiras páginas do Gênesis antes do pecado”.

Confiando n’Ele, experimentamos a providência

Portanto, na medida em que “tecemos uma relação de amizade com Deus”, nos confiamos a Ele, imediatamente vemos os efeitos que tal reconciliação causa ao nosso redor. “E os anjos o serviam”: esta presença angélica confirma que quando “o homem se confia a Deus, experimenta uma providência”. O Senhor não deixa de ajudar.

O batismo, um dom que nos faz filhos de Deus

Tudo nasce com o nosso Batismo, conclui Dom Morandi. “Ser novas criaturas, habitadas pela Santíssima Trindade, vivendo uma profunda comunhão com Aquele que veio habitar em nosso coração, produz no nosso coração e determina na nossa vida uma estabilidade, uma paz”. Que não é fruto de nosso próprio esforço, mas é a consequência de uma acolhida: “Deus que se manifesta, Deus que nos faz novas criaturas, e nos faz filhos no único Filho”. Toda a vida cristã “nada mais é do que viver o cumprimento desta dignidade”. Os “que são guiados pelo espírito de Deus são filhos de Deus”. Trata-se então de ser filhos e também de “se tornar filhos”: “tornar-se progressivamente, em colaboração com o Espírito Santo, filhos de Deus”. Peçamos ao Senhor a graça de recordar nosso batismo, “daquela iniciativa absolutamente gratuita de Deus Pai para conosco, que nos fez filhos”.

Fonte: Vatican News – Alessandro Di Bussolo

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