A terceira meditação sobre o caminho da Quaresma de Dom Giacomo Morandi, secretário da Congregação para a Doutrina da Fé – realizada como parte do ciclo “Redimidos do pecado, anunciadores do Evangelho”, se detém no chamado do cristão à alegria, retomando o capítulo 2 do Evangelho de Marcos no qual são descritas as reações perplexas dos escribas e fariseus diante da falta de respeito da tradição do jejum semanal por parte dos discípulos de Jesus.
O encontro com Jesus transfigura a nossa humanidade
Quando questionado pelos escribas e fariseus sobre sua não aderência às normas transmitidas, como o jejum, Jesus responde tentando fazê-los compreender o novo caráter do tempo em que estão vivendo. “Não é uma questão de acrescentar mais algumas práticas, mas de compreender como o encontro com Jesus leva os homens a revisitarem completamente suas vidas”, explicou o prelado, lembrando as duas imagens: a do remendo novo colocado sobre um vestido velho, e a do vinho novo colocado em odres velhos. Em ambos os casos, o efeito é de arruinar, dispersar o antigo e o novo. “Muitas vezes – aponta o prelado – no nosso caminho de conversão somos tentados a encontrar modalidades de compromisso, queremos concretamente continuar levando a vida que levamos sem introduzir mudanças radicais. Talvez na Quaresma façamos algum pequeno sacrifício, alguma renúncia, mas nosso modo de vida não muda nas profundezas”. Resumindo, queremos mudar, mas não demais. Em vez disso, Jesus quer que compreendamos que, no momento em que o encontramos, a plenitude que brota é tal que toda nossa humanidade é transfigurada.
Guardando um tesouro
Dom Morandi insiste na necessidade de tomar consciência de que um encontro com Cristo é um encontro com um grande tesouro, com algo extraordinário que inevitavelmente traz mudanças. Daí o fato de que nossas obras são uma resposta a esta intuição, e não o contrário. “A ascese é sempre uma resposta, nunca é um ponto de partida – explica ainda o bispo – age a partir do desejo de salvaguardar um tesouro. Nesta perspectiva, somos naturalmente levados a não desperdiçá-lo, a não deixar que seja levado por outros”.
Não colocar “remendos” em nossa vida
A primeira conversão verdadeira é ser e viver na alegria, o primeiro sinal de que algo importante aconteceu entre nós e o Senhor. Este é um aspecto no qual o prelado se concentra muito, citando também um grande autor inglês, Lewis, que intitulou a história de sua própria conversão “Surpreendido pela alegria”. Trata-se de ativar uma mudança não apenas no coração, mas também na maneira de agir. Jesus diz: não pensem em fazer uma restauração conservadora. “Somos especialistas neste tipo de trabalho: os arquitetos até nos dizem que é muito caro – adverte o prelado – devemos, ao invés disso, evitar de colocar remendos em nossas vidas. Tornar-se uma nova realidade implica fechar certas portas, fazer escolhas corajosas, dizer não, mesmo que severas, porque dissemos um grande sim ao Senhor. Isto estabelecerá firmemente nosso itinerário de conversão”. E dá como exemplo renunciar à Internet porque queremos estar com Jesus.
O caminho da conversão é sempre um caminho de alegria
Voltando à imagem do vinho novo, como podemos não mencionar o episódio das núpcias de Caná? “Os estudiosos dizem que a quantidade de vinho que resultou do milagre teria sido cerca de 600 litros de vinho, de muito boa qualidade”. Para dizer que foi um rio de vinho derramado sobre o casamento em Caná”. A catequese conclui reiterando que o vinho está sempre associado à alegria: é repetido em Síracle, nos Salmos (cf. “o vinho que alegra o coração do homem… o azeite que faz brilhar seu rosto…”), na Carta aos Gálatas, quando Paulo enumera os frutos do Espírito e fala principalmente de amor e alegria. “Eliminemos tudo o que compromete esta alegria”, recomenda Dom Morandi, “para que a alegria que brota do encontro com Ele possa ser visível em nossos rostos”.
Fonte: Vatican News – Antonella Palermo